Vice-presidente da Câmara Municipal, Carla Guerreiro, na conferência “Adaptação às Alterações Climáticas no Município de Setúbal”, no âmbito do Dia Internacional da Proteção Civil.

A vice-presidente da Câmara Municipal, Carla Guerreiro, salientou em 1 de março a importância de se saber como os territórios podem ser afetados por situações de catástrofe e de haver mecanismos que possam ser utilizados em caso de necessidade.


A autarca fez a abertura da conferência “Adaptação às Alterações Climáticas no Município de Setúbal”, realizada durante a manhã no auditório da Casa da Baía, em Setúbal, no âmbito do Dia Internacional da Proteção Civil, celebrado à escala mundial e local a 1 de março.

“As questões da proteção civil estão cada vez mais intimamente ligadas com tudo o que nos rodeia e especialmente com o que tem a ver com o Ambiente. A necessidade de nos precavermos e de sabermos como o nosso território pode ser afetado é deveras importante”, afirmou, recordando que o município tem participado em estudos de âmbito internacional, nacional, metropolitano e local sobre adaptação às alterações climáticas.

Após afirmar que os principais riscos das alterações climáticas para o território do município “estão identificados” e destacar o papel das escolas em incutir nas crianças “certos valores”, Carla Guerreiro indicou que catástrofes como os sismos que em fevereiro abalaram a Turquia e a Síria alertam para a importância de “ter os mecanismos que de uma forma eficaz possam ser utilizados”.

A conferência realizou-se no âmbito das atividades da Plataforma Local para a Redução dos Riscos de Catástrofes de Setúbal (PLRRC), que envolve duas dezenas de entidades públicas e privadas e desenvolve projetos para que as populações sejam mais resilientes e estejam melhor preparadas para enfrentarem eventuais situações de catástrofe, como indicou o coordenador do Serviço Municipal de Proteção Civil e Bombeiros de Setúbal, José Luís Bucho.

O encontro teve como oradores José Luís Zêzere, docente do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa (IGOT-UL) e coordenador da equipa responsável pelos relatórios do Plano Local de Adaptação às Alterações Climáticas PLAAC – Arrábida, apresentados em setembro de 2022, e Cristina Coelho, da Câmara Municipal.

José Luís Zêzere abordou o tema “Alterações climáticas e riscos climáticos em Setúbal”, enquanto Cristina Coelho, chefe do Gabinete de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável e Emergência Ambiental do município, falou sobre o Plano de Ação Climática de Setúbal.

Com base nas conclusões do PLAAC Arrábida, que se realizou no âmbito da ENA – Agência de Energia e Ambiente da Arrábida e abrangeu os municípios de Palmela, Sesimbra e Setúbal, o académico apresentou os riscos climáticos a que o território do concelho de Setúbal está sujeito no final do século XXI, com base em dois cenários, um mais moderado e outro mais extremo.

O professor do IGOT considerou que estes estudos contribuem para que o território seja “mais organizado e seguro”, o que concorre para “a segurança de pessoas e bens”, e notou que “clima não é tempo atmosférico”, devendo a sua avaliação ser considerada tendo em conta médias de períodos de 30 anos.

José Luís Zêzere adiantou que, até 2100, a temperatura no município de Setúbal “vai ser mais alta em todo o ano, mas principalmente no verão e no outono”, enquanto haverá “sempre menos chuva”, com um decréscimo mais significativo na primavera e no outono.

“O clima do futuro vai ser mais quente e mais seco. Ainda não sabemos é quanto”, disse, adiantando que os valores vão depender de qual dos cenários estudados vai realmente acontecer.

Ao projetar os perigos climáticos, indicou que a zona ribeirinha e a baixa de setúbal deverão ser atingidas uma vez em cada dez anos por inundações estuarinas resultantes da subida do nível do mar, havendo igualmente zonas das freguesias do Sado e de Gâmbia-Pontes-Alto da Guerra sujeitas ao mesmo risco.

No que diz respeito ao calor excessivo, afirmou que em Setúbal vai poder passar-se de até dez para até 44 dias muito quentes por ano, com temperaturas acima dos 35 graus, prevendo ainda um “forte agravamento” dos incêndios rurais/florestais e destacando a necessidade de se fazer uma muito boa gestão dos aquíferos, devido às secas que vão acontecer.

José Luís Bucho indicou que o Plano Municipal de Emergência e Proteção Civil está a ser revisto “na sequência deste estudo e de outros”, os quais, como notou, permitem planear a atuação e fazer os alertas e campanhas de sensibilização à população.

Cristina Coelho adiantou que o Plano Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas está “em fase de produção” e destacou como “duas grandes frentes de trabalho” a mitigação, para redução da emissão de gases com efeito de estufa, e a adaptação, com a adoção de medidas que preparam o território.

Após recordar que Setúbal aderiu em 2015 ao Pacto de Autarcas, que estabelece um compromisso voluntário de mitigação – redução da emissão de gases com efeito de estufa em 55 por cento até 2030 e neutralidade climática até 2050 –, adaptação e redução da pobreza energética, destacou a grande aposta do município no transporte público, na mobilidade sustentável, na eficiência energética e nas energias renováveis.

Salientou que está a ser desenvolvido internamente o Plano Municipal de Ação Climática, o qual vai ser integrado no Plano Diretor Municipal, com ênfase na componente social e o objetivo de “estar ligado ao terreno, às pessoas e às instituições”.

Cristina Coelho sublinhou que Setúbal é um dos cinco territórios europeus e o único português onde vai ser testado um modelo climático do projeto CLIMAAX, lançado no âmbito da Missão de Adaptação às Alterações Climáticas da União Europeia, e um dos 18 municípios nacionais que cumprem três dos quatro requisitos para a neutralidade carbónica, estando a trabalhar para ser o quarto a cumprir os quatro requisitos, juntando-se a Lisboa, Cascais e Azambuja.