António Maria Eusébio. O Calafate. Vida e Obra - sessão por João Reis Ribeiro

Mais de meia centena de pessoas partilharam memórias sobre o poeta popular setubalense António Maria Eusébio, também conhecido como o Calafate, em conferência realizada no dia 24 na Casa da Baía.


“António Maria Eusébio, o Calafate. Vida e Obra” foi o tema do encontro conduzido pelo professor, investigador e mestre em estudos portugueses João Reis Ribeiro, que, durante mais de duas horas, abordou questões biográficas que contribuíram para a construção da identidade do poeta.

“A minha intervenção foi para, por um lado, chamar a atenção daquilo que podemos conseguir saber da vida do Calafate através do que ele escreveu e, numa segunda vertente, perceber como eram as condições de vida e o que foi a história social e política de Setúbal à época”, adiantou João Reis Ribeiro.

O investigador partilhou memórias que sustentam a imagem construída em torno do Calafate, recorrendo a obras literárias, informações retiradas de recortes publicados na imprensa e a homenagens realizadas na cidade.

Durante a intervenção, o investigador, que considera “importante conhecer a obra do Calafate, enternecedora, elucidativa e muito rica na totalidade”, apelou veementemente à sua leitura e defendeu a realização de um estudo multidisciplinar sobre os poemas do homenageado.

“Seria importante abordar questões da história local, social e política da cidade, na dimensão de como é que os acontecimentos nacionais se refletiram em Setúbal. Reunir um conjunto de reflexões de caráter filosófico que o Calafate faz sobre o homem e a vida e, por último, analisar o percurso autobiográfico que ele deixa espelhado nos seus poemas”, afirmou João Reis Ribeiro.

António Maria Eusébio, calafate de profissão, foi um carismático autor popular que, embora simples e iletrado, relatou em poemas e cantigas a evolução do burgo setubalense na transição do século XIX para o século XX. A publicação da sua obra é datada a partir de 1901, embora a primeira referência ao poeta na imprensa seja de 1868.

“Escrevia poemas e cantava fado com letras escritas por ele. Escrevia, não, ditava. Nos registos encontramos indicações sobre quem escrevia: o chapeleiro Duarte Mendes e outro homem, empregado de balcão numa mercearia, do qual não há nome registado”, acrescenta o investigador.

A conferência de dia 24 na Casa da Baía, organizada pelo Rotary Club de Setúbal no âmbito das Comemorações do Bicentenário do Nascimento de António Maria Eusébio (1819-1911), reuniu mais de uma centena de participantes interessados na vida e obra do poeta.

“As pessoas estiveram presas do princípio ao fim à exposição que foi feita pelo professor João Reis Ribeiro. Vimos que Calafate era um homem informado, critico e preocupado com as questões do mundo. A conferência foi muito bem estruturada”, notou Maria Helena Mattos, coordenadora da participação do Rotary Club de Setúbal nas comemorações.

O programa Bicentenário do Nascimento de António Maria Eusébio (1819-1911), a decorrer desde dezembro, inclui, ao longo de 2019, exposições, atuações musicais, conferências, apresentação de livros, atividades de poesia e performances cénicas.

A Câmara Municipal de Setúbal, o Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal, o Arquivo Distrital de Setúbal, a Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, a Associação Casa da Poesia, o Centro de Estudos Bocageanos, o Rotary Club de Setúbal e a Universidade Sénior de Setúbal organizam as comemorações.