50 Anos do Sismo de 1969 - Setúbal Resiliência +

A prevenção das consequências dos sismos, como o que ocorreu em 1969, esteve em análise na manhã de 28 de fevereiro num encontro realizado na Casa da Baía, no âmbito do programa municipal “Setúbal Resiliência +, Os Dias da Segurança”.


“Há especialistas que dizem que se o sismo de 1969 ocorresse hoje seria muito pior, por razões relacionadas com a construção dos edifícios. Temos de pensar seriamente nisto”, sublinhou o vereador com o pelouro da Proteção Civil Municipal, Carlos Rabaçal, na sessão de abertura do seminário “Memória do Sismo de 1969”.

O autarca adiantou o trabalho de prevenção que o município de Setúbal tem desenvolvido e a importância de o prosseguir, como a realização de seminários, simulacros e diversas ações de sensibilização da população para a necessidade de estar preparada para a ocorrência de sum sismo.

“Por exemplo, se perguntarmos numa sala quem tem kits de sobrevivência em casa, poucas pessoas respondem afirmativamente. Mas trata-se de uma medida muito importante.”

Para Setúbal, a prevenção dos sismos é uma “questão central”, uma vez que a Proteção Civil Municipal “está preparada com um grande poderio de prevenção para diversas ocorrências, mas não é possível prever os sismos, o que se torna assustador”.

No entanto, garante que o município “procura preparar-se de forma muito intensa para que as pessoas saibam o que fazer antes, durante e após um sismo”.

A sessão de abertura, que contou, igualmente, com a intervenção do presidente do Rotary Clube de Setúbal, António Chitas, que sublinhou a importância do encontro para ajudar a perceber “o que é possível fazer para prevenir as consequências dos sismos”, terminou com a exibição do filme “Memórias do Sismo de 1969”, produzido pela Câmara Municipal de Setúbal.

Foram ouvidos testemunhos de setubalenses que acordaram sobressaltados na madrugada de 28 de fevereiro e que recordaram o que se passou durante e depois do sismo, bem como algumas consequências, nomeadamente danos na Igreja de São Julião e num edifício na Rua Almeida Garrett, que ficou inclinado.

O filme evidenciou, igualmente, o trabalho que a autarquia tem vindo a desenvolver em matéria de proteção e socorro, como são exemplos a criação do Centro Municipal de Operações de Socorro, em 2014, e a elaboração de instrumentos de planeamento, como o Plano Municipal de Emergência de Proteção Civil e o Plano de Intervenção no Centro Histórico.

Este trabalho foi realçado, após a exibição do vídeo, por Alexandre Aleluia, do SMPCB – Serviço Municipal de Proteção Civil e Bombeiros de Setúbal, que garante que o papel da Proteção Civil “não é apenas responder a uma emergência e ajudar na recuperação da normalidade, mas também identificar problemas e a sensibilizar a população”.

Por isso, além de testar constantemente o Plano de Emergência de Proteção Civil de Setúbal, com a realização de simulacros que “permitem identificar aspetos a corrigir na atuação em caso de emergência”, o SMPCB preocupa-se em comunicar aos munícipes como devem agir antes, durante e após um sismo.

“É fundamental comunicarmos de forma séria com as pessoas e sensibilizá-las para serem resilientes e estarem preparadas para uma emergência.” 

O seminário “Memória do Sismo de 1969” contou ainda com a intervenção de especialistas que ajudaram a perceber os sinais sobre a possibilidade de ocorrência de sismos e quais seriam as consequências se hoje se repetisse o sismo de há 50 anos.

Em termos geológicos, a professora da Faculdade de Ciências de Lisboa Susana Custódio partilhou preocupações sobre as falhas existentes na Serra da Arrábida, pois são um exemplo de que “o que já foi experienciado em Portugal é uma parte muito pequena daquilo que é o potencial do território nacional para gerar sismos”.

A investigadora do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território Ângela Santos fez uma resenha histórica da sismicidade no sul de Portugal, com especial destaque para o terramoto de 1 de novembro de 1755, o sismo de maior magnitude da Europa desde que há registo, e para o sismo de 28 de fevereiro de 1969.

A especialista defende que “ainda há muito trabalho a fazer” no que diz respeito à preparação das pessoas para a ocorrência de um sismo e sublinha o “trabalho intenso” realizado pela Proteção Civil Municipal de Setúbal em matéria de prevenção.

A construção dos edifícios é um aspeto muito importante, pois, segundo o professor do Instituto Superior Técnico Mário Lopes, “não é a previsão de um sismo que impede os danos económicos, mas sim os edifícios resistirem aos sismos”.

Lisboa foi a primeira cidade na história da humanidade a ser construída para resistir aos sismos, com as políticas do Marquês de Pombal após o terramoto de 1755, mas, “aos poucos, a construção pombalina deixou de se fazer e nos edifícios correntes nem sequer há fiscalização, cada um faz o que quer”, lamenta.

Além disso, “não há legislação que torne obrigatório o reforço sísmico dos edifícios em Portugal” e, “à exceção dos Açores, não há recomendações técnicas” para serem seguidas boas práticas.

O seminário “Memória do Sismo de 1969” prosseguiu da parte da tarde com uma apresentação conduzida por Manuela Tomé, do Serviço Municipal de Proteção Civil e Bombeiros, sobre os locais em Setúbal onde ainda é possível observar danos provocados pelo sismo de 28 de fevereiro de 1969.

No âmbito deste seminário é inaugurada a 1 de março, às 17h00, no Centro Comercial Alegro, a exposição fotográfica e documental “Memórias do Sismo de 1969 – 28 de fevereiro, a noite em que Portugal tremeu”, a qual pode ser visitada até 26 de abril, de segunda a quinta-feira, domingos e feriados, das 10h00 às 23h00, e aos sábados e vésperas de feriados, das 10h00 às 24h00.

O Dia Internacional da Proteção Civil é, igualmente, assinalado com a realização de simulacros e exercícios em escolas e edifícios municipais e uma reunião da Comissão Municipal de Proteção Civil com simulacro de comunicações.