Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas - conferência internacional

A importância de implementar medidas concretas para a salvaguarda ambiental foi destacada no dia 8 pela presidente da Câmara Municipal de Setúbal na abertura de uma conferência internacional dinamizada no âmbito do Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas.


No encontro, com o tema “Vulnerabilidades e Desafios Metropolitanos”, a decorrer ao longo do dia no Fórum Municipal Luísa Todi, Maria das Dores Meira afirmou que esta é uma matéria atual que exige respostas imediatas. “Não basta ter um discurso sobre alterações climáticas para depois ficar pelas palavras.”

Neste sentido, vincou, “é preciso promover medidas” que, nomeadamente, “reduzam a pressão da circulação automóvel nas grandes cidades e que promovam a mobilidade em transportes públicos”, bem como fomentar “uma política de mitigação ativa de alterações que são inevitáveis”.

É o caso do Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas da Área Metropolitana de Lisboa, cuja fase de definição de medidas e opções com vista à minimização das principais vulnerabilidades e possíveis impactes e riscos climáticos identificados no território arrancou hoje.

“A Área Metropolitana de Lisboa, incluindo Setúbal, tem especial vulnerabilidade a eventos extremos específicos, como a precipitação forte em períodos muito concentrados, geradora de fenómenos de cheias ou deslizamento de terras, ou as temperaturas elevadas e ondas de calor”, adiantou a autarca.

Por isso, vincou, “é fundamental preparar o território para o embate das alterações climáticas”, tendo para isso, entre outras, o município aderido ao Pacto de Autarcas para o Clima e Energia 2030 e iniciado o projeto Comunicação e Sensibilização em Cenários de Risco Associados às Alterações Climáticas.

Em Setúbal, também já estão a ser implementadas medidas concretas no terreno, como é exemplo maior a criação do Parque Urbano da Várzea, projeto em desenvolvimento numa área com 19 hectares e que se “constitui como uma medida estruturante de adaptação e mitigação das alterações climáticas”, frisou Maria das Dores Meira.

O futuro parque urbano, na qual a autarquia está a plantar cerca de sete centenas e árvores e trinta mil arbustos, reforça a resiliência hídrica com a função de aproveitamento de águas pluviais, que, retidas em bacias atualmente em construção na zona da Várzea, devem reduzir substancialmente o risco de cheias na cidade.

“Este combate é um esforço que, para ser bem-sucedido, tem de ser comum, e, para isso, é fundamental envolver não só os municípios neste trabalho como também as empresas, o movimento associativo, a comunidade educativa e toda a sociedade civil”, reforçou a presidente da Câmara Municipal de Setúbal.

Para o presidente do Conselho Metropolitano da Área Metropolitana de Lisboa, Fernando Medina, as alterações climáticas são um desafio do presente. “Não são o futuro nem são um risco. São uma realidade com a qual não temos tempo para lidar e, por isso, temos de agir já.”

A grande questão, afirmou Fernando Medina, “é o que queremos fazer para sobreviver neste planeta”, para depois adiantar que este é um desafio que “vai ser vencido ou perdido nas áreas metropolitanas”, por estas concentrarem a maior fatia da população, não apenas em Portugal mas em todo o mundo.

A implementação do Passe Único Navegante, que fomenta a utilização dos transportes públicos coletivos a um custo acessível, é uma das principais medidas alcançadas no âmbito do Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas da Área Metropolitana de Lisboa, em curso desde janeiro de 2018.

“Estamos a dar passos sem precedentes, em particular na esfera da mobilidade, numa batalha que estava a ser perdida”, destacou o autarca, ao reforçar a necessidade de mobilização cívica para atingir os objetivos, nomeadamente no que respeita à mudança de paradigma de utilização dos transportes coletivos em detrimento dos particulares.

Já o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, evidenciou a “importância crucial das abordagens intermunicipais para a mitigação das alterações climáticas”, com efeitos negativos cada vez mais frequentes. “Em quatro anos tivemos em Portugal um furacão e uma tempestade tropical.”

Este responsável, ao elogiar o Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas, abordou também o programa nacional AdaPT, dinamizado com o intuito de adaptar o território português às alterações climáticas, com um conjunto de ações direcionadas, entre outras, à educação ambiental.

A conferência internacional prosseguiu com uma intervenção do coordenador do Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas da Área Metropolitana de Lisboa, Sérgio Barroso, que traçou projeções de cenários climáticos de médio e longo prazo e apresentou vulnerabilidades atuais e futuras do território.

“A Área Metropolitana de Lisboa está inserida numa zona geográfica muito vulnerável e na qual as alterações climáticas vão ser mais agressivas”, apontou Sérgio Barroso, adiantando que a Península de Setúbal é particularmente sensível a estas fragilidades.

Este responsável indicou três grandes desafios com os quais vai ser necessário lidar, a subida da temperatura média, que tem como principal consequência os incêndios, a redução da precipitação e registo mais frequente de eventos extremos, como inundações, e a subida do nível do mar e a erosão costeira.

“Mitigar, adaptar ou sofrer. Estas são as opções em cima da mesa”, vincou Sérgio Barroso, ao reiterar a necessidade de “uma resposta ambiciosa para fazer face a estes desafios”, traduzida em projetos concretos que espera que venham a ser dinamizados no âmbito deste plano.

Já João Tiago Carapau, da WE Consultants, defendeu que, para o sucesso do Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas, é igualmente necessário comunicar, capacitar e promover uma participação ativa, não apenas dos 18 municípios envolvidos mas também da população.

Para isso, no âmbito desta estratégia, são dinamizadas reuniões técnicas e workshops temáticos com o objetivo de promover uma reflexão conjunta sobre esta problemática, enquanto na página da Área Metropolitana de Lisboa, em www.aml.pt, é disponibilizada informação à sociedade civil.

Na parte da manhã, a conferência internacional contou ainda com um painel que explanou sobre “Desafios da mudança climática”, com as participações dos professores catedráticos Filipe Duarte Santos e Viriato Soromenho Marques e da coordenadora do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Rafaela Saldanha Matos.

Seguem-se, de tarde, “Experiências metropolitanas de adaptação às alterações climáticas”, com alocuções de Elena Veza Martinez, da Área Metropolitana de Barcelona, Maurice Wagner, da Região Metropolitana de Frankfurt am Main, e Eduardo Vítor Rodrigues, presidente do Conselho Metropolitano da Área Metropolitana do Porto.

A sessão de encerramento do encontro conta com intervenções do primeiro secretário metropolitano da Área Metropolitana de Lisboa, Carlos Humberto de Carvalho, e do ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Matos Fernandes.

A conferência inclui ainda o apontamento cultural “Consciousness”, que alerta para a necessidade de consciencialização ambiental, com as participações da Academia de Dança Contemporânea de Setúbal, da Academia de Musica e Belas-Artes Luísa Todi e do TOMA – Teatro Oficina Multi Artes.