A obra “Diário”, que o poeta setubalense Sebastião da Gama escreveu com apenas 24 anos durante o estágio de professor de português, inaugura, na próxima semana, uma coleção literária em Itália, inteiramente dedicada a autores portugueses.


“Diário”, escrito entre 1949 e 1950, que acentua o papel do professor e dos alunos na luta contra o silêncio, em favor da liberdade e da criatividade, foi traduzido recentemente para italiano por Maria Antonietta Rossi, e tem honras de primeira obra da coleção “Metàfrasis Lusitana”.

No texto de apresentação, a responsável pela coleção, Maria Serena Felici, afirma que o leitor vai encontrar-se “agradavelmente envolvido nos pensamentos, ações, encontros e no quotidiano envolvente de um autor contemporâneo com uma experiência muito densa”.

Já a professora da Universidade de Siena, Maria Antonietta Rossi, a quem coube a tradução italiana de “Diário”, traça, na introdução, o perfil biográfico de Sebastião da Gama: “Deus, a Poesia, o Sonho, o Amor foram as suas razões de vida e as bases de toda a produção literária.”

A oportunidade de que agora dispõe o leitor italiano de ler “Diário”, de Sebastião da Gama, numa tradução que transmite a “linguagem fresca, fluída e brilhante do original”, permite-lhe conhecer “as estratégias inovadoras de ensino por ele propostas, demasiado modernas” para uma sociedade que era “extremamente conservadora e tradicional”, considera Antonietta Rossi.

A tradutora acrescenta ainda que a prática pedagógica expressa na obra pode ser vista como “a promoção em Portugal do movimento da Escola Moderna”, com o objetivo de “estimular a imaginação e a criatividade” dos alunos através do trabalho colaborativo.

“Um poema pedagógico e um documento literário que mantém, volvidas sete décadas, toda a frescura da juventude de um professor e dos seus alunos, toda a crença na formação humana, todo o respeito pelo outro, ambos comungando numa vida de sinceridade e de aprendizagem do mundo”, escreve, por outro lado, João Reis Ribeiro, da Associação Cultural Sebastião da Gama, que assina o prefácio.

A obra foi editada em Florença pela Lorenzo de’ Medici Press, com apoio do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua.

O “Diário” foi escrito entre janeiro de 1949 e junho de 1950, durante o tempo de estágio de Sebastião da Gama na Escola Veiga Beirão, em Lisboa, e teve a primeira publicação, póstuma, em 1958, seguindo-se mais treze edições. A versão completa e anotada só surgiu em 2011, com coordenação de João Reis Ribeiro.

A tradução levada a cabo por Maria Antonietta Rossi partiu desta última edição, sendo completada com 530 anotações, muitas delas dirigidas para o público italiano.

Antonietta Rossi tem dedicado o seu percurso académico ao ensino e à investigação no domínio da língua e da tradução portuguesas. Em 2010, publicou a obra “Frammenti di ‘Diario’ – Sebastiao da Gama e la língua portoghese”, dando a conhecer ao público italiano vários segmentos da obra do poeta e professor português.

A sessão de apresentação da versão italiana, que terá lugar no próximo dia 29, às 16h00, em formato digital, conta com a presença de Salvatore Patera, Mariagrazia Russo e Maria Serena Felici, da Università degli Studi Internazionali di Roma, Cristina Rosa, da Università degli Studi della Tuscia, Fabrizio Bagatti, responsável da Lorenzo De’ Medici Press, e João Reis Ribeiro, da Associação Cultural Sebastião da Gama.