Reflexões em Tempos de Pandemia | livro de José Poças

O médico José Poças apresentou ao final da tarde de 19 de novembro, em Setúbal, um livro em que partilha reflexões pessoais sobre a medicina e a resposta à pandemia do Serviço Nacional de Saúde, para o qual é defendido mais investimento.


Na obra “Reflexões em tempos de pandemia – Histórias de vida, de prazer, de sofrimento e de morte”, o internista e infeciologista José Poças apresenta, em discurso direto, vivências pessoais e aspetos técnico-científicos sobre a prática médica e a relação médico-doente durante a crise sanitária de covid-19.

“Nunca um assunto me motivou tanto a escrever como esta pandemia. Este é um livro de um médico de corpo inteiro em tempo de catástrofe, um testemunho para que jamais ninguém se esqueça do que aconteceu”, descreveu José Poças na cerimónia de apresentação do livro, realizada no Salão Nobre dos Paços do Concelho.

Num conjunto de reflexões, o clínico aborda temáticas com as quais se deparou durante os tempos mais conturbados da crise sanitária no Centro Hospitalar de Setúbal, no qual assumiu, a tempo inteiro, durante dois meses consecutivos, a função de coordenador da comissão de crise no combate à covid-19.

Na primeira pessoa, José Poças descreve o “incomensurável sofrimento físico e psicológico que a pandemia provocou nas pessoas”, assim como a importância da vacinação para “mitigar a evolução pandémica” e o “papel fulcral do Serviço Nacional de Saúde para tratar e salvar pessoas”.

O presidente da Câmara Municipal de Setúbal, André Martins, destacou o precioso contributo do livro de José Poças para “o conhecimento coletivo do que são as preocupações, angústias e alegrias de um médico empenhado e dedicado, que vive em permanência para a profissão e, acima de tudo, para os seus doentes”.

Além do relato de histórias que resultam “da natural e obrigatória reflexão que alguém que encara a medicina como imperativo categórico teria de fazer em tempos de pandemia”, o autor aborda a forma como o Serviço Nacional de Saúde lidou com a crise sanitária de covid-19.

Neste contexto, o presidente da autarquia enalteceu a importância do Serviço Nacional de Saúde no combate à pandemia, o qual, “contra todos os ataques de que tem sido alvo, contra todas as tentativas de esvaziamento, mostrou a necessária resiliência e capacidade de lidar com tamanha crise sanitária”.

Perante esta realidade, o autarca defendeu um maior investimento no Serviço Nacional de Saúde, que permita, além de solucionar graves lacunas, alcançar uma resposta duradoura “de qualidade e facilidade de acesso aos serviços de saúde prestados à população e que foram conquistados na Revolução de Abril”.

Uma defesa que, no que respeita ao Centro Hospitalar de Setúbal e ao Hospital de São Bernardo, André Martins, afirmou estar “a fazer ativamente”, sendo o mais recente exemplo deste desígnio o objetivo de criação de um Fórum para a Saúde com a participação de várias entidades.

“Queremos, com este fórum, debater os problemas do nosso centro hospitalar e delinear ações conjuntas para podermos intervir publicamente no sentido de pressionar o Governo a encontrar as soluções que estão há muito identificadas, mas que, incompreensivelmente, continuam a tardar.”

André Martins recordou que, nos últimos anos, a Câmara Municipal de Setúbal tem utilizado, sistematicamente, todas as vias institucionais no sentido de solicitar ao Governo que solucione os “graves e prolongados problemas existentes no Centro Hospitalar de Setúbal”.

O autarca revelou que, no início de outubro, endereçou nova missiva ao chefe do Governo a solicitar reunião para debater a situação. “A resposta que obtivemos foi a de que deveríamos falar com a ministra da Saúde. Ou seja, voltámos à casa de partida”, uma vez que esse contacto já tinha sido realizado.

O presidente da Câmara Municipal de Setúbal frisou ainda que os problemas do Centro Hospitalar de Setúbal não se resumem à necessidade de obras de ampliação do Hospital de São Bernardo, cujo concurso público foi “lançado em outubro, depois de muita e intensa pressão pública das autarquias e dos cidadãos”.

Outro dos problemas que urge solucionar, “provavelmente o mais importante”, advertiu, é a necessidade “de aumentar e qualificar os recursos humanos ao serviço da prestação de cuidados de saúde” e, ao mesmo tempo, insistir “na qualificação das carreiras dos profissionais de saúde”.

André Martins alertou, igualmente, para a importância de se proceder à reclassificação do Hospital de São Bernardo, para um nível superior, “de forma a remunerar os atos médicos praticados de acordo com a dimensão e importância que, efetivamente, esta unidade hospitalar tem” na região e no país.

A qualidade e o acesso dos serviços de saúde, adiantou o médico José Poças na apresentação do se livro “Reflexões em tempos de pandemia – Histórias de vida, de prazer, de sofrimento e de morte”, vai ser tema de uma nova obra literária.

“É um novo livro sobre a dramática asfixia que, há largos anos, assola o Serviço Nacional de Saúde, o Centro Hospitalar de Setúbal e o próprio Serviço de Infeciologia que dirijo no Hospital de São Bernardo.”

A revelação do novo desafio literário foi feita em Setúbal, depois de sessões no Porto e em Coimbra, cerimónia com a presença de membros do Executivo municipal, clínicos e dirigentes médicos, entre outras individualidades.

O presidente do Conselho Sub-Regional de Setúbal da Ordem dos Médicos, Daniel Travancinha, afirmou que o livro de José Poças é revelador “do esforço estoico dos profissionais do Serviço Nacional de Saúde no combate à pandemia de covid-19, apesar de todos os problemas que atravessa, igualmente expostos na reflexão literária”.

A obra, editada pela By the Book, com os apoios da Câmara Municipal de Setúbal, da Ordem dos Médicos e da Casa Ermelinda Freitas, foi apresentada na cidade sadina com intervenções do frei Miguel e do médico Jorge Paulino Pereira, as quais procuram contribuir para uma melhor compreensão da mesma.

Frei Miguel, que descreveu José Poças como “um médico humanista”, disse que o livro, mais do que apontar “o dedo discriminatório a um conjunto de problemas, procura, sobretudo, despertar consciências”.

Para o religioso franciscano, o interesse de José Poças na “doença e na morte é, na verdade, o interesse na vida”, patente num livro que junta vários textos em torno de duas ideias basilares: “Por um lado, a perspetiva dos doentes sobre a pandemia e, por outro, as vivências de um médico perante a incerteza de uma doença.”

Esta visão de vida foi partilhada pelo cirurgião Jorge Paulino Pereira, que também assumiu, a par do frei Miguel, a apresentação do livro com 256 páginas, com prefácio de Viriato Soromenho-Marques. “É uma obra que nos convida a refletir sobre diferentes facetas da nossa existência. Sou cúmplice da mensagem deste livro.”

Os textos são acompanhados de um conjunto de ilustrações, quadros de referência e fotografias do clínico entusiasta pela imagem João Taborda, já falecido, que enriquecem o conhecimento através do olhar por obras de arte que procuram alargar a reflexão do leitor.