Fórum da Mobilidade Elétrica

O presidente da Câmara Municipal, André Martins, considerou a 5 de abril que o investimento do município em transportes públicos constitui uma revolução em termos de mobilidade sustentável, determinante para a qualidade de vida das cidades.


Na abertura do Fórum da Mobilidade Elétrica, o autarca recordou os vários investimentos em mobilidade sustentável feitos pelo município nos últimos anos e que em 1 de junho começa a operar uma nova frota de transportes públicos, com o Interface de Transportes de Setúbal em funcionamento.

“Este é, sem dúvida, um excelente investimento. Um investimento que configura uma verdadeira revolução em matéria de transportes públicos, diria mesmo que uma das mais importantes transformações promovidas e apoiadas pelas autarquias locais nestes quase cinquenta anos de Abril”, salientou André Martins no Fórum Municipal Luísa Todi, referindo-se aos “perto de 23 milhões de euros” que a autarquia prevê investir em transportes públicos entre 2019 e 2027.

Neste valor estão incluídos os cerca de 6,5 milhões de euros já investidos “na mobilidade coletiva sustentável das populações” do concelho nos três anos de existência do Passe Navegante.

No que diz respeito ao início da operação da Carris Metropolitana em Setúbal, o presidente da Câmara Municipal recordou que o concelho vai passar a dispor de 89 linhas de transporte público coletivo, uma vez que vão ser criadas 18, serão reforçadas 53 e mantêm-se sem alteração outras 18.

“Vamos ter mais autocarros, uma frota renovada que integra viaturas elétricas, mais carreiras, mais horários, mais e melhores serviços. Acima de tudo, mais e melhor sustentabilidade ambiental”, sublinhou André Martins na abertura do Fórum da Mobilidade Elétrica, organizado pela ENA – Agência de Energia e Ambiente da Arrábida, em parceria com a Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos e a Câmara Municipal de Setúbal.

O autarca defendeu a urgência de “investir na mobilidade sustentável e na mobilidade elétrica, como via para contribuir para a transição energética e enfrentar os problemas da mobilidade quotidiana, defendendo um estilo de vida seguro e saudável”.

Recordou que as alterações climáticas são um “problema global, que afeta todos”, e “um dos grandes desafios do nosso tempo”.

Após observar que “a mobilidade sustentável é, atualmente, um dos pilares da qualidade ambiental e da qualidade de vida das cidades”, lembrou que a Câmara Municipal de Setúbal tem implementado vários projetos nesta área, como a construção de ciclovias e a contribuição para a criação do Passe Navegante, “um dos mais poderosos instrumentos para reduzir a utilização de transporte individual”, por permitir a utilização de toda a rede de transportes públicos da Área Metropolitana de Lisboa a baixo preço.

“Vamos, finalmente, ter transportes públicos de qualidade no nosso concelho. Temos sido também promotores de políticas de mobilidade elétrica com a instalação de postos de carregamento de veículos elétricos no concelho ou com a instalação de um sistema de trotinetas elétricas partilhadas. E temos já na frota municipal duas bicicletas elétricas para deslocações de serviço”, acrescentou.

André Martins apontou ainda a próxima entrada em funcionamento do Interface de Transportes de Setúbal, um novo terminal rodoviário, situado junto à estação ferroviária, com parque de estacionamento subterrâneo, que vai permitir reunir, num só local, transporte coletivo rodoviário e ferroviário, servidos por um novo troço de ciclovia nas avenidas da Portela e dos Ciprestes.

“O reforço da oferta de transportes públicos, a aposta nos modos suaves e o investimento na mobilidade elétrica são elementos-chave para a descarbonização da sociedade, assumindo-se como essenciais nas questões do ambiente, das alterações climáticas, mas também na saúde e qualidade de vida dos cidadãos. Em Setúbal, como poderão verificar, esta tem sido uma das prioridades”, concluiu.

Francisco Ferreira, professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, citou o relatório de 4 de abril do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) para dizer que “ainda é possível” que o aumento da temperatura do planeta se mantenha até 1,5 graus, desde que nas áreas urbanas seja feita “uma intervenção mais crítica no que diz respeito às emissões”.

O relatório defende que essa redução deve ser feita com uma aposta nas energias renováveis e na eletrificação do setor dos transportes, de acordo com o também presidente da associação ambientalista ZERO, para quem, mais importante do que os veículos individuais, é a eletrificação das frotas que realizam muitos quilómetros em cidade, como as de táxi, de TVDE e de distribuição.

“As emissões dos transportes praticamente têm de desaparecer até 2050 e isso será feito por uma substituição direta de gasóleo e gasolina por eletricidade. Temos de banalizar e ter a estrutura montada para carregar veículos elétricos”, disse, recordando que várias cidades europeias já estão a criar Zonas Zero Emissões, nas quais só circulam transportes públicos, frotas elétricas e meios de mobilidade suave.

O diretor técnico da Agência de Energia e Ambiente da Arrábida, Orlando Paraíba, apresentou o Plano de Mobilidade Elétrica do Território Arrábida, um projeto no âmbito do Programa Interreg MED cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional que envolve aquele organismo, as câmaras municipais de Setúbal, Palmela e Sesimbra e a Mobi.e e a E-REDES.

Este plano pretende criar “uma mobilidade elétrica que melhore a qualidade de vida dos cidadãos” e contribuir para “um meio ambiente mais seguro, limpo e agradável, fomentando a coesão social e o crescimento económico no território Arrábida”, através da criação de postos de carregamento público, bicicletas elétricas partilhadas, transporte público elétrico, micromobilidade elétrica, zonas de baixas emissões e políticas de estacionamento, entre outras medidas.

Até 2030 está prevista a instalação de 209 pontos de carregamento normais/semirrápidos (menos de 22 KW) e de 76 rápidos (mais de 22 KW), projetando-se que em 2025 se atinjam os 147 e os 38, respetivamente.

O presidente da Câmara Municipal de Sesimbra, Francisco de Jesus, alertou, no entanto, para a existência de alguns “constrangimentos” cuja superação exige um envolvimento da Administração Central, incluindo nas áreas da consciencialização da opinião pública, da capacidade de produção de energia e financeira e orçamental.

Quanto à dimensão financeira e orçamental, lembrou que os incentivos para a mobilidade elétrica “ainda são curtos” e que os investimentos realizados pelos municípios da Península de Setúbal apenas têm acesso a comparticipação comunitária de 40 por cento, enquanto outros, situados fora da Área Metropolitana de Lisboa, conseguem 85 por cento.

O Fórum da Mobilidade Elétrica decorre até ao fim do dia em Setúbal, incluindo, além do encontro no auditório, sessões paralelas para debate de ideias e projetos relacionados com a temática.