"Vitória de Setúbal - 10 Anos de Ouro" - apresentação de filme da RTP

Antigas, atuais e futuras glórias do Vitória Futebol Clube, dirigentes e adeptos encheram no dia 11 de abril o Fórum Municipal Luísa Todi para assistirem à apresentação do documentário “Vitória de Setúbal – 10 Anos de Ouro”, produzido pela RTP.


Numa sessão com a presença do plantel profissional do clube e de equipas da Formação, do vereador do Desporto da Câmara Municipal de Setúbal, Pedro Pina, e do presidente da Assembleia Municipal, Manuel Pisco, o público assistiu ao documentário de 58 minutos sobre o período áureo vivido pelo Vitória FC entre 1964 e 1974, a transmitir na RTP Memória, e ao debate que se seguiu.

Foi o tempo das “lendárias” equipas orientadas por Fernando Vaz e José Maria Pedroto, que ganharam duas vezes a Taça de Portugal (1964/65 e 1966/67) e chegaram a cinco finais em nove anos (ainda em 1965/66, 1967/68 e 1972/73), além de terem espantado a Europa e conseguido as melhores classificações de sempre no Campeonato Nacional, com destaque para o segundo lugar de 1971/72.

Entre 1968/69, esta temporada ainda sob o comando de Fernando Vaz, e 1973/74, com o leme entregue a José Maria Pedroto – que sairia na primeira semana de 1974 em conflito com o presidente Xavier de Lima –, o Vitória ficou sempre entre os quatro primeiros do campeonato, somando dois quartos lugares, três terceiros e um segundo.

Com quase meia equipa formada por naturais de Setúbal, como recordou a “velha glória” Fernando Tomé, o treinador Fernando Vaz implementou um estilo de jogo de bola de pé para pé, um “futebol perfumado” que, como é referido no documentário realizado por Rui Alves, “enervava” os adversários.

“Já no nosso tempo jogávamos tiki-taka”, diz, no filme, Herculano, que representou o Vitória entre 1961 e 1971 e foi o único jogador do clube a festejar duas conquistas da Taça de Portugal. “Treinávamos muito futebol de salão e basquetebol”, acrescenta Tomé, argumentando que o primeiro ajudava ao domínio de bola, que não podia subir além da barriga, e o segundo na impulsão e desmarcação e passe.

Quando chegou ao Vitória, Pedroto pretendeu que a equipa ganhasse outros níveis de agressividade e um estilo mais atacante, injetando sangue novo, mas Octávio Machado, que jogou no Vitória entre 1968/69 e 1974/75 e entre 1980/81 e 1982/83, garante que “o grande trunfo” era o espírito de equipa. “Nós gostávamos uns dos outros”.

Foram os tempos de Mourinho Félix, Vital e Joaquim Torres, Carlos Cardoso, José Mendes, Herculano, Rebelo, Carriço, Tomé, Octávio, Pedras, Conceição, José Maria, Jaime Graça, Jacinto João, Duda, José Torres, Vítor Baptista, Wagner…

Um período em que o Bonfim era um estádio inexpugnável e em que o destino mais provável dos visitantes era saírem vergados a uma goleada, fossem eles uma equipa do campeonato nacional ou o Lyon, a Fiorentina – duas vezes eliminada pela equipa sadina nas competições europeias – ou o Newcastle.

O Liverpool conseguiu sair do Bonfim com uma derrota apenas por 1-0, mas foi eliminado em Anfield, apesar de ter ganho por 3-2 um jogo em que perdia por 2-1 no início descontos concedidos pelo árbitro. O Inter, de Sandro Mazzola, também não resistiu, sendo eliminado na Taça UEFA de 1972/73 depois de perder no Bonfim por 2-0 e ganhar por 1-0 em Milão.

Tudo começou a complicar-se para o clube na temporada de 1973/74. Na primeira semana de 1974, depois de o Vitória ter liderado entre a segunda e a 12.ª jornada e ganhado por 3-2 na Luz, onde o Benfica não perdia para o campeonato há vários anos, Pedroto demitiu-se em vésperas do jogo com o Sporting, em conflito com o presidente Xavier de Lima.

O Sporting acabaria por ser campeão e o Vitória terceiro classificado, a dois pontos do Benfica e a quatro dos ‘leões’. Octávio Machado diz que “falhou o dirigismo” e que o Vitória “não soube reagir” aos novos tempos, apesar de o distrito de Setúbal sempre ter sido “fortíssimo” em termos de futebol.

Em 2005, 38 anos depois da última conquista e de passagens pela II Divisão, o Vitória voltou a ganhar a Taça de Portugal, numa final com o Benfica. A travessia do deserto em termos europeus durou um quarto-de-século, até 1999/2000, quando voltou a disputar a Taça UEFA depois de na época anterior ter sido quinto no campeonato, sob o comando de Carlos Cardoso, um dos heróis da ‘década de ouro’, jogador do clube entre 1964 e 1977 e durante oito anos capitão.

No debate realizado após a exibição do documentário, o atual capitão, José Semedo, reconheceu que, apesar de ser “setubalense e vitoriano”, não sabia que o clube tinha eliminado o Liverpool e jogado com o Tottenham nas competições europeias.

“Temos muitas imagens no nosso corredor, mas vê-las ao vivo é diferente e mostra-nos a razão da exigência que existe neste clube. Acredito que ver o que vi hoje funciona mesmo como uma grande inspiração”, acrescentou o médio do Vitória, atualmente a disputar a Liga 3, terceiro escalão do futebol nacional.

O filme “Vitória de Setúbal – 10 anos de ouro” é exibido no canal de televisão RTP Memória em data a anunciar pela estação.