Perante as notícias relacionadas com o acolhimento em Setúbal, pelos serviços desta Câmara Municipal, de refugiados da guerra da Ucrânia e subsequentes desenvolvimentos públicos e políticos, entendo que é fundamental clarificar algumas questões relacionadas com esta matéria, designadamente no que se refere ao relato dos factos mais relevantes.


A Câmara Municipal de Setúbal tem, desde há muito, prestado permanente apoio no acolhimento a todos os imigrantes e refugiados que procuram o nosso território em busca de uma vida melhor e de proteção.

Estamos muito orgulhosos de ter uma comunidade imigrante diversificada, mas plenamente integrada na comunidade setubalense.

Quero, também, recordar que, no dia 28 de fevereiro, tive a oportunidade de, publicamente, afirmar, nos exatos termos e palavras que se seguem, que a “agressão militar da Rússia na Ucrânia merece a minha inequívoca condenação” e de apelar “à paz, ao cessar-fogo e à realização de negociações que permitam a coexistência pacífica entre povos”.

Foi exatamente neste contexto que, nesse mesmo dia 28 de fevereiro, quatro dias depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, a Câmara Municipal de Setúbal enviou um ofício ao Ministério dos Negócios Estrangeiros em que disponibiliza instalações municipais para acolher refugiados ucranianos que procurem Portugal.

O gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros agradeceu, por correio eletrónico, no dia 2 de março, a disponibilidade municipal e informou-nos que iria remeter o assunto para o Alto Comissariado para as Migrações.

Na sequência desta comunicação do Ministério dos Negócios Estrangeiros, realizámos, no dia 7 de março, uma reunião por videoconferência com o Alto Comissariado para as Migrações.

Neste mesmo dia iniciámos os procedimentos necessários para a criação de um gabinete municipal de apoio a refugiados, que geriu, desde então, todas estas matérias, tendo apoiado e acolhido os refugiados ucranianos que procuraram o nosso território.

Este gabinete contava com a colaboração da EDINSTVO – Associação de Imigrantes de Leste, nos termos do protocolo firmado pela Câmara Municipal com esta associação desde 2005, protocolo esse sempre aprovado também pelo Partido Socialista e pelo Partido Social Democrata. Esta associação colabora, desde há muito, com entidades como o Instituto de Emprego e Formação Profissional, a Segurança Social e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.

No dia 11 de março, promovemos a realização de uma reunião extraordinária do Conselho Local de Ação Social de Setúbal, tendo como único ponto da Ordem de Trabalhos a informação sobre acolhimento, proteção e integração de pessoas deslocadas do conflito de guerra da Ucrânia.

A decisão mais relevante desta reunião foi a criação de um grupo de trabalho para acompanhar o acolhimento de refugiados, grupo de que fazem parte a Câmara Municipal, o Centro Distrital de Segurança Social de Setúbal, a PSP, a GNR, o Agrupamento de Centros de Saúde da Arrábida, a EAPN – Rede Europeia Anti Pobreza, a Cruz Vermelha Portuguesa, a ACM – Associação Cristã da Mocidade, a SEIES – Sociedade de Estudos e Inovação de Setúbal, a Cáritas Diocesana de Setúbal, a EDINSTVO – Associação de Imigrantes de Leste, o Centro Hospitalar de Setúbal, o Instituto de Emprego e Formação Profissional e o Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes.

Em 8 de abril, tivemos conhecimento de uma entrevista da senhora embaixadora da Ucrânia à CNN Portugal em que a diplomata diz temer pela segurança dos refugiados ucranianos que chegam ao país, porque haveria “organizações pró-russas’ que estão infiltradas no apoio aos refugiados e que ‘podem receber informação sobre os dados pessoais destes refugiados e dos seus familiares que lutam no exército ucraniano”.

A senhora embaixadora informa que terá discutido esta questão com a senhora secretária de Estado da Igualdade e das Migrações, a doutora Sara Abrantes Guerreiro, e afirma ainda que, e passo a citar, “concordámos que é necessário resolvê-la. Na nossa opinião, precisamos de alterar esta lista e excluir as associações pró-russas porque no colégio ucraniano têm de ser incluídas só aquelas que representam a comunidade ucraniana”.

Como exemplo destas associações supostamente “pró-russas”, a diplomata ucraniana indica a associação EDINSTVO. A representante da Ucrânia assegura que “estas associações pró-russas que têm a ligação muito estreita com a Embaixada russa podem receber informações sobre os dados pessoais destes refugiados, mas não só sobre eles, também sobre os familiares que agora estão na Ucrânia e participam no exército ucraniano e podem também informar os seus familiares sobre a situação no território da Ucrânia. E esta informação também é interessante, claro, para a inteligência russa”.

Tomei a iniciativa, na manhã seguinte, dia 9 de abril, sábado, de enviar uma carta ao senhor primeiro-ministro, por correio eletrónico. Nesta carta escrevi o seguinte: “Apelamos (…) com toda a veemência que o senhor primeiro-ministro clarifique, com a máxima urgência, com a senhora embaixadora as reais intenções do que foi afirmado, assim como a veracidade das afirmações da diplomata no que respeita à conversa que terá mantido com a senhora secretária de Estado da Igualdade e das Migrações”.

Este mesmo texto, enviado no dia 9 de abril, foi convertido em ofício e de novo enviado por correio eletrónico para o senhor Primeiro-ministro na segunda-feira, dia 11 de abril. No mesmo dia, o ofício foi enviado em papel por correio normal para o chefe do governo.

Não obtivemos qualquer reposta até 29 de abril, o dia em que o semanário “Expresso” publica uma notícia em que levanta suspeitas sobre o atendimento a refugiados ucranianos feito por uma funcionária do quadro da Câmara Municipal, de nacionalidade portuguesa e origem russa, ao mesmo tempo que levanta suspeitas sobre relações desta funcionária e do seu marido, dirigentes da EDINSTVO, com as autoridades russas.

A resposta do gabinete do Primeiro-ministro, também enviada por correio eletrónico no dia 29 de abril, informa que a carta do presidente da CMS foi remetida ao Ministério dos Negócios Estrangeiros. Esta resposta, enviada em ofício, não contém data de saída dos serviços da presidência do Conselho de Ministros.

No mesmo dia 29 de abril, face a esta situação, tomei a iniciativa de enviar, por correio eletrónico, ao senhor ministro da Administração Interna um pedido formal de investigação aos procedimentos municipais em matéria de acolhimento de refugiados da guerra da Ucrânia, pedido que obteria resposta no dia 1 de maio em mensagem de correio eletrónico assinada pelo senhor chefe de gabinete do senhor ministro da Administração Interna.

O senhor ministro, através do seu chefe de gabinete, informa que não cabe àquele ministério a realização de inspeções, inquéritos e sindicâncias às autarquias locais e que, em relação à alusão de transmissão indevida de dados pessoais, essa é uma matéria que deverá ser tratada pela Comissão Nacional e Proteção de Dados.

No dia seguinte, 2 de maio, o chefe de gabinete do ministro da Administração Interna remete, por correio eletrónico, ao chefe de gabinete do presidente da Câmara Municipal de Setúbal, ofício em que, complementarmente ao ofício de 1 de maio, informa que o assunto foi encaminhado para o Ministério da Coesão Territorial e para a Comissão Nacional de Proteção de Dados.

No mesmo dia, a senhora ministra da Coesão Territorial remete ofício em que informa a Câmara Municipal de que solicitou à Inspeção-Geral de Finanças que promova a análise da situação e a realização de adequada ação tutelar administrativa.

Já na manhã de hoje, dia 4 de maio, foi-nos comunicado formalmente, por uma destas entidades, que se iriam iniciar, em breve, diligências nesta autarquia para apuramento de factos relacionados com o funcionamento dos serviços da Câmara Municipal de Setúbal em matéria de acolhimento de refugiados.

Voltando atrás nesta cronologia dos factos, quero destacar que, ao princípio da tarde do dia 1 de maio, o senhor Presidente da República disse, em declarações públicas, que, no que respeita à investigação dos factos, existem “autoridades competentes para isso, quer do ponto de vista judicial, quer administrativo” e acrescenta que não vai estar a avançar conclusões sobre matérias e factos que podem ser investigados pelas autoridades competentes. Disse ainda o senhor Presidente da República que, “se houver problemas de ilegalidade”, os tribunais poderão intervir, assim como a “inspeção que deve acompanhar o poder local”.

A ordem em que os factos ocorreram é da maior importância. Por isso, realço que ao fim da tarde deste mesmo dia 1 de maio, o senhor Primeiro-ministro fez, pela  primeira vez, declarações públicas sobre o caso, referindo designadamente que, relativamente ao pedido de inquérito solicitado pela Câmara Municipal de Setúbal ao Ministério da Administração Interna, tal pedido seria remetido para o Ministério da Coesão Territorial e para a Comissão Nacional de Proteção de Dados.

Perante o que acabo de expor, e face à comunicação que já hoje recebemos de uma das entidades apontadas pelo senhor Primeiro-ministro, que nos dá conta, oficialmente, de que se vão iniciar as diligências para apuramento dos factos, entendemos que, a partir deste momento e até à conclusão destas diligências, deveremos evitar voltar a comentar publicamente este assunto.

Empenhar-nos-emos no apoio que for julgado necessário para o apuramento dos factos.

André Martins
Presidente da Câmara Municipal de Setúbal

Setúbal, 04 de maio de 2022

 

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