Bolsas de Criação Artística

Aura Fonseca, Cláudia Gaiolas e David Marques são os autores dos projetos selecionados pelas Bolsas de Criação Artística e que vão agora receber apoios de cinco mil euros.


A iniciativa organizada pela Câmara Municipal de Setúbal, com o objetivo de apoiar criadores ou coletivos que desenvolvam projetos em diferentes áreas artísticas, recebeu este ano mais de uma centena de candidaturas, provenientes de todo o país e de diferentes áreas artísticas.

As Bolsas de Criação Artística proporcionam, a cada um dos projetos selecionados, um incentivo financeiro no valor de cinco mil euros, a possibilidade de usufruir de um espaço de trabalho nas instalações de A Gráfica – Centro de Criação Artística e a partilha de materiais de pesquisa ou estreias de espetáculos na MAPS – Mostra de Artes Performativas em Setúbal do próximo ano, 2023.

O júri constituído por Cláudia Galhós, jornalista especialista em artes performativas e escritora, e Tiago Pereira, realizador, documentarista, radialista e visualista, em articulação com a Divisão de Cultura da Câmara Municipal de Setúbal, fez a seleção tendo em conta critérios como a inovação das propostas apresentadas e a valorização da relação com o equipamento cultural A Gráfica.

“Como seria nadar, há 50 anos?”, de Cláudia Gaiolas e Judite Canha Fernandes, é um dos três projetos selecionados para receber o apoio da bolsa artística.

Trata-se de um projeto sobre a memória, a partir da auscultação de histórias contadas por setubalenses com o objetivo de compreender de que modo se modificaram, em 50 anos, experiências como ir à praia, fazer um piquenique e visitar a família.

A criação de Cláudia Gaiolas e de Judite Canha Fernandes, artistas do Teatro Meia Volta, foca-se nas experiências vivenciais do concelho de Setúbal, nomeadamente na relação balnear com o estuário do Sado.

A dupla composta pelo coreógrafo e bailarino David Marques e pelo ator Nuno Pinheiro foi selecionada para bolseira com “Conferência performativa: pele”, projeto valorizado pela investigação que se foca em questões como a abstração e a construção de sentidos, a relação entre palavra e gesto, a história da dança e do teatro, a dimensão política da arte e o papel dos artistas na sociedade atual.

O tema da pele é investigado a partir de inquietações autobiográficas, tendo em conta também a constatação de que a experiência de cada pessoa no mundo é mediada por este órgão.

A pesquisa teórica sobre a pele aborda as dimensões biológica, histórica, social, cultural e política e a experimentação performativa e coreográfica foca-se também sobre este órgão do corpo humano.

“Trans* Performatividade” é o título do projeto de Aura da Fonseca também selecionado pela edição deste ano das Bolsas de Criação Artística.

O projeto visa a criação de uma peça transdisciplinar, cuja pesquisa baseada na interrogação pessoal e biográfica da artista procura dar resposta à questão “Como transpor a minha / nossa experiência como uma pessoa trans* para uma obra?”.

Aura Fonseca desenvolve o conceito que dá nome à pesquisa e aborda a sua relação múltipla com a Sociologia, Filosofia, Estudos Transfeministas, Teoria de Género e Novas Ecologias com práticas contemporâneas que fundem as artes visuais e as artes performativas.

O júri responsável pela análise das candidaturas às Bolsas de Criação Artística 2022 sublinhou que a elevada qualidade da generalidade das propostas apresentadas representa a vitalidade e o valor do tecido cultural e artístico em Portugal, expresso na heterogeneidade das singularidades artísticas e na forte fundamentação discursiva dos projetos.