A luta, durante a ditadura, pela liberdade e a democracia, pela justiça e pelo desenvolvimento, é hoje substituída pela luta contra uma realidade que, referiu a autarca no dia 25 na sessão solene comemorativa da Assembleia Municipal de Setúbal, não é possível esconder com “uma novilíngua” formada por palavras que contradizem as dificuldades vividas pelos cidadãos.

Neste léxico dos “modernos mercadores” e dos “neoliberais sem freio”, ilustrou, despedimentos passaram a ser “requalificações” ou “libertações”, cortes de salários são “ajustamentos”, reduções das pensões exprimem, afinal, “correções” ou “contribuições extraordinárias de solidariedade”, mais desemprego é igual a “reforma do Estado” e medidas definitivas significam “medidas temporárias”.

Se o regime fascista, “mesmo com violência e repressão”, não conseguiu “cortar a raiz ao pensamento”, a tentativa, 40 anos volvidos sobre o 25 de Abril de 1974, de “tão profunda transformação estrutural” por “via simbólica” também é incapaz, segundo Maria das Dores Meira, de impedir os portugueses de pensar.

“Não houve, nem haverá, machado que nos corte a raiz ao pensamento, há 40 anos, como hoje. Abril demonstrou-o com a alegria que as revoluções comportam, com a dignidade que só os povos conhecem”, assinalou a presidente da Câmara Municipal de Setúbal.

É tempo, acrescentou, de questionar o caminho apontado, de interrogar se a Revolução foi uma linha contínua ou se a realidade atual demonstra uma inversão de marcha que deve ser travada. “A resposta a esta questão é fácil e resulta de um imperativo de consciência: claro que temos o dever de travar este retrocesso! É o que faremos porque a história não acabou.”

A autarca defendeu que este dia de festa deve ser usado para afirmar a capacidade de construir uma sociedade melhor e mais justa, que acabe com as desigualdades e respeite os direitos políticos, sociais e económicos alcançados. “Queremos, acima de tudo, ter a possibilidade de viver com dignidade.”

Maria das Dores Meira afirmou que comemorar Abril “é também comemorar a inigualável obra que o Poder Local Democrático fez em todo o País”, considerando que as câmaras municipais e as juntas de freguesia são “os principais responsáveis pela correção das abissais diferenças de desenvolvimento entre os grandes centros urbanos e um interior que foi, durante demasiado tempo, esquecido e desprezado”.

Esse “esquecimento e desprezo”, alertou, começa de novo a acentuar-se, realidade materializada no encerramento de diversos equipamentos do Estado e na entrega a privados de serviços básicos e que “se consumou com a extinção de freguesias, sem qualquer respeito pelas identidades locais e históricas, contra a vontade das populações, contra tudo e contra todos”.

A Câmara Municipal de Setúbal, afirmou Maria das Dores Meira, orgulha-se do “contributo fundamental” que dá para “o Portugal construído pelo Poder Local Democrático”, apesar das dificuldades, nomeadamente financeiras.

“O que deve ser valorizado é a capacidade que tivemos de aproveitar um importante conjunto de oportunidades oferecidas por fundos comunitários, que, no seu conjunto, significaram investimentos de mais de 50 milhões de euros na modernização da cidade e do concelho e na consequente atração de mais investimento, de mais riqueza para quem aqui vive”, assinalou.

O esforço, responsável pela melhoria da qualidade de vida das populações, resulta, acrescentou, num retorno para a economia local, ao atrair “novos investidores, novos visitantes, novos turistas em número nunca alcançado” e gerar “a alteração de perceções sobre Setúbal”.

Esta empreitada da Câmara Municipal desencadeada nos últimos anos traduz a opção “por criar mais emprego, por dar mais rio à cidade, por fazer mais Setúbal”.

Por isso, garantiu Maria das Dores Meira no discurso dos 40 anos do 25 de Abril, a Autarquia tudo fará, no contexto das oportunidades que surjam no quadro dos apoios comunitários, “para transformar projetos em realidades”, como são os casos do novo edifício da biblioteca pública, no Largo José Afonso, do centro de mar Terminal 7, a instalar na Praia da Saúde, do Parque Urbano da Várzea e da devolução à população de mais espaços da zona ribeirinha sem uso portuário.

“Essa é a missão que Abril nos destinou e que todos os dias nos esforçamos por cumprir, para que tenhamos uma melhor cidade, um país mais justo, onde todos possamos trabalhar e viver com alegria e dignidade”, finalizou a presidente da Câmara Municipal de Setúbal.

Cravo. 25 de Abril

COMEMORAÇÕES DO 25 DE ABRIL

TRANSMISSÃO EM DIRETO
DA SESSÃO SOLENE DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL

25 de Abril . 10h00 . Fórum Municipal Luísa Todi

Cravo. 25 de Abril