Câmara Municipal organizou dois encontros intergeracionais, com alunos do ensino básico, sobre a sociedade portuguesa antes e depois do 25 de Abril

Dois encontros intergeracionais, com alunos do ensino básico, sobre a sociedade portuguesa antes e depois do 25 de Abril realizaram-se em 26 de abril, em dois equipamentos, com organização da Câmara Municipal de Setúbal.


As ações integraram o evento “Na rota do documento – À descoberta do património setubalense”, do Serviço Educativo do Arquivo Municipal, tendo “Relembrar o que foi Abril – Testemunho daqueles que viveram esta revolução” sido apresentada pela União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), no Arquivo Municipal, e “Lembrar Zeca Afonso – Vida e obra” pela Associação José Afonso (AJA), na Casa da Cultura.

No Arquivo Municipal, Luís de Matos, da delegação de Setúbal da URAP, explicou aos alunos que “o 25 de Abril não nasceu e morreu num só dia, é uma construção que veio de antes e que continua a ser necessário construir” rumo a uma sociedade mais justa e que direitos entretanto adquiridos, como a educação ou a saúde, podem sempre ser melhorados num processo contínuo.

Afirmou que para as gerações mais novas, que não viveram em ditadura, a liberdade de agora é natural, mas, para mostrar que antes de 1974 não era assim, recordou os factos de então haver profissões vedadas às mulheres, como a de juiz ou de membro das forças policiais, de as mulheres professoras não poderem casar sem autorização do ministro da Educação ou de as turmas escolares terem os alunos separados por género.

Luís de Matos descreveu aos alunos uma sociedade marcada pela pobreza extrema em que cerca de metade da população nas cidades vivia em barracas, tal como acontecia em Setúbal, sem água e saneamento básico, e em que quem fosse considerado opositor ao regime era preso e sujeito a diversos tipos de torturas, como a da privação do sono.

No período de perguntas e respostas, Rodrigo, 10 anos, considerou muito grave a separação dos alunos em sala de aula por género, que imperava na altura, já que, alegou, assim diminuíam as possibilidades românticas para um futuro casamento, tendo o grupo manifestado de forma unânime descontentamento pela segregação de género em algumas profissões.

Na Casa da Cultura, foi divulgada a vida e obra de José Afonso, numa ação dinamizada pela AJA, durante a qual Helena Carmo, desta associação, projetou um filme animado a mostrar o percurso de vida do cantautor de Abril, começando pela sua infância em Aveiro, onde nasceu a 2 de agosto de 1929, e com os seus temas mais conhecidos a fazer de banda sonora.

Francisca, 8 anos, reconheceu imediatamente “Grândola, Vila Morena”, a canção preferida do avô, que combateu na guerra de África, em Angola, tendo Helena Carmo explicado a origem da canção e recordado que esta serviu como senha para o golpe de Estado do Movimento das Forças Armadas que derrubou a ditadura na madrugada de 25 de abril de 1974.

Os alunos tiveram ao dispor as valências da Casa da Cultura, onde se podem encontrar registos sobre a vida e obra de José Afonso em vários suportes, desde meios digitais a livros, discografia, pinturas e cartazes.

Parte deste espólio único refere-se à ligação do cantautor a Setúbal, onde foi professor de História por pouco tempo, até ser despedido pelo Ministério da Educação para o impedir de passar aos alunos ideias consideradas subversivas, passando então a dedicar-se exclusivamente à música.  José Afonso morreu em Setúbal, a 23 de fevereiro de 1987, estando sepultado no Cemitério de Nossa Senhora da Piedade.

Os alunos puderam fazer desenhos e pinturas livres sobre o dia passado a recordar Abril e que lhes trouxe um maior conhecimento sobre a vida em Portugal antes e depois da instauração da liberdade.

Entre os objetivos da ação “Na rota do documento – À descoberta do património documental setubalense”, que aborda diversas temáticas de forma regular, contam-se a valorização do acervo do Arquivo Municipal de Setúbal e a sensibilização para a importância da preservação do património local, além de aspetos relacionados com as tradições populares e a história do concelho.