A película retrata um período curto da vida de Alberto Raposo Pidwell Tavares, de 1975 a 1978, em Sines, altura em que viveu uma relação amorosa com João Maria do Ó, irmão do realizador, quando ainda não era um poeta consagrado.

O cineasta escolheu uma fase mais alegre da vida de Al Berto, regressado do exílio em Bruxelas, Bélgica, repleta de sonhos e ambições, aliada à excentricidade que o caracterizava, a seguir ao 25 de Abril de 1974.

O poeta, interpretado pelo ator Ricardo Teixeira, dá corpo a uma geração em mudança, mas nos anos quentes após a revolução o país ainda não estava preparado para uma história de amor entre dois homens.

Al Berto, que no verão de 1975 cria uma editora e livraria à qual dá o nome de “Tanto Mar”, vive sob o olhar inquisidor da população e, juntamente com o grupo de amigos, é rotulado de agitador numa vila conservadora, onde conceitos como amor livre, boémia e, sobretudo, liberdade ainda não são abertamente falados nem aceites.

É este o principal tema do filme sobre o poeta da antologia “O Medo”, a sua obra-maior, caracterizada pela crueza e intensidade das palavras, a desenvoltura com que escreve sobre amor, intimidade, raiva e mágoa.

O obra cinematográfica é um projeto pessoal para Vicente Alves do Ó, irmão do namorado de Al Berto, papel representado pelo ator José Pimentão.

“Desde muito miúdo que sabia do ‘caso’. O Al Berto tinha vivido uma grande história de amor com o meu irmão João Maria. Ambos desenhavam, escreviam, completavam-se, amavam-se e viviam juntos com um grupo de amigos numa das casas da família Pidwell”, refere o realizador.

Para elaborar o guião do filme, Vicente Alves do Ó consultou o espólio que o irmão lhe deixou quando morreu, há sete anos, como poemas, textos, contos, um diário, materiais inéditos de Al Berto, registos fotográficos e correspondência.

Teve ainda acesso a testemunhos vivos do período retratado na obra, que ajudaram a dar corpo ao projeto e às personagens.

Vicente Alves do Ó nasceu em Sines há 45 anos, mas foi em Setúbal, mais concretamente no Cinema Charlot, que desenvolveu o gosto pela sétima arte e sonhou ser realizador.