II Conferência Internacional Riscos, Segurança e Cidadania

A gestão dos riscos associados às alterações climáticas está em reflexão, nos dias 28 e 29, em Setúbal, na segunda edição de uma conferência internacional que junta um painel de especialistas na partilha de conhecimento sobre estas matérias.


A necessidade de implementação de ações concretas com vista à redução das alterações climáticas e dos riscos associados foi apontada na manhã de dia 28 pela presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, na abertura da II Conferência Internacional Riscos, Segurança e Cidadania, a decorrer no Fórum Luísa Todi.

“É imperioso que comecemos a aplicar de imediato as medidas certas”, afirmou a autarca. Neste sentido, sublinhou, a estratégia pró-ativa de Setúbal na “melhoria da qualidade ambiental do concelho”, que se traduz, em simultâneo, num “contributo ativo para a salvaguarda do futuro do planeta”.

A presidente da autarquia alertou que a prevenção de riscos não se pode resumir ao debate alargado e prolongado sobre situações que afetam a segurança de todos. “É tomar medidas, por mais difíceis que possam ser, e, nesta matéria, temos revelado a necessária capacidade para as tomar.”

As questões relacionadas com a gestão do risco no contexto da ação da proteção civil são prioritárias na estratégia do município, motivo pelo qual, ao longo dos últimos anos, a autarquia tem adotado uma postura pró-ativa de prevenção de risco, aliada a preocupações de ordem ambiental.

Nesta esfera de intervenção, Maria das Dores Meira destacou a construção do futuro Parque Urbano da Várzea, um espaço com 19 hectares dotado de bacias de retenção pluvial para prevenção de cheias, como “uma das primeiras medidas estruturantes de adaptação e mitigação das alterações climáticas”.

Outras das medidas realçadas pela autarca setubalense foi a implementação, na última época balnear, do plano de mobilidade sustentável “Arrábida Sem Carros”, que alterou o sistema de circulação rodoviária nos acessos às praias, com benefícios alcançados tanto na segurança como na proteção ambiental.

A sessão de abertura do encontro subordinado ao tema “Gestão do Risco e Alterações Climáticas” contou ainda com uma intervenção do presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, Filipe Duarte Santos, que realçou a pertinência da temática escolhida.

“Oportuna e interessante, pois esta é uma matéria cada vez mais atual, que necessita de respostas concretas”, frisou este especialista, ao indicar que o problema das alterações climáticas “está diretamente relacionado com o paradigma energético, em particular após a Revolução Industrial”.

Filipe Duarte Santos adiantou que “a procura de energia tem continuado a aumentar e, apesar da maior penetração das fontes renováveis, continuam a ser os combustíveis fósseis a assegurar as necessidades”, o que contribui para que o problema das alterações climáticas, agravado pela desflorestação, se continue a intensificar.

Na intervenção, o presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável elogiou “o trabalho implementado pela Câmara Municipal de Setúbal para a mitigação das alterações climáticas” ao acompanhar o ímpeto do país, “que tem dado passos significativos no que respeita às energias renováveis”,

Daniele Magalhães, em representação da secretária executiva do Quadro para as Alterações Climáticas das Nações Unidas, Patricia Espinosa, reiterou a ideia de que a “resiliência das nações deve ser, em primeiro lugar, construída pela mitigação das alterações climáticas”.

Neste sentido, alertou, “é preciso fazer mais, até porque as coisas vão continuar a piorar se nada for feito”. O tempo “de fazer a diferença é agora, com a criação de comunidades sustentáveis e resilientes, tanto em países desenvolvidos como em nações subdesenvolvidas”.

A conferência, a decorrer ao longo de dois dias em vários espaços da cidade, é organizada pela autarquia, pelo Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil, pelo Instituto de Geografia e Ordenamento do Território e pelo Instituto Politécnico de Setúbal e conta com o Alto Patrocínio do Presidente da República.

Em mensagem partilhada com os participantes do encontro, Marcelo Rebelo de Sousa elogiou a iniciativa, considerando que “junta o saber à ação e que congrega esforços de várias entidades” para enfrentar as alterações climáticas, atualmente “o maior desafio da humanidade”.

O Presidente da República, numa alusão a um cartaz elaborado recentemente por uma jovem estudante, que alertava que que não existe “Planeta B”, afirmou perentoriamente que “no domínio das alterações climáticas não há planos alternativos”.

Antes do início das alocuções temáticas, os participantes assistiram ao espetáculo cénico “Consciousness”, que juntou em palco a Academia de Dança Contemporânea de Setúbal, a Academia de Música e Belas-Artes Luísa Todi e a Associação Cultural TOMA – Teatro Oficina Multiartes.

O apontamento cultural, uma reflexão acerca do comportamento humano e respetivas consequências, que manifesta a tomada de consciência como primeiro passo para uma mudança urgente, incluiu versos de Italo Calvino e Álvaro de Campos, a música “Earth Song”, de Michael Jackson, e palavras de Charlie Chaplin em “O Grande Ditador”.

O programa central do evento, a decorrer no Fórum Municipal Luísa Todi, com transmissão em direto por streaming, incluiu, na parte da manhã, a apresentação do Plano de Adaptação às Alterações Climáticas da Área Metropolitana de Lisboa, por Sérgio Barroso, do Centro de Estudos e Desenvolvimento Regional e Urbano.

Seguiu-se um debate do Projeto Cuidar com o tema “Cultures of Disaster Resilience Amongst Children and Young People: a European participative support action”, por Ana Delicado, Maggie Mort e Israel Giralt, e a apresentação “Desafios Futuros das Alterações Climáticas sobre o Auxílio Humanitário e Gestão de Crises”, por Karolina Kalinowska, da Direção-Geral de Ajuda Humanitária e Proteção Civil da Comunidade Europeia.

A II Conferência Internacional Riscos, Segurança e Cidadania continuou às 14h00 com “Segurança Humana – Construção da Resiliência Face às Alterações Climáticas”, por Hitomi Kubo, da Unidade de Segurança Humana das Nações Unidas.

Depois, às 14h30, foi abordada “A Plataforma para o Diálogo Talanoa – A partilha de ideias, competências e experiências através de narrativas”, por Claudio Forner, do Secretariado da Convenção do Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas

Já o “Projeto Uscore2 EU – Uma Ferramenta de Revisão de Pares para Avaliação de Estratégias de Resiliência” é apresentado às 15h15 por Jon Percival, a que se segue, às 15h45, “Educação e Formação em Segurança Integral”, por Montserrat-Iglesias Lucia, da Univerdidade da Catalunha.

“Proposta de uma Taxonomia de Risco – Analogia à Árvore de Diderot e a’Alembert”, por Fernando Carvalho Rodrigues, às 16h45, e “Riscos Crescentes das Alterações Climáticas”, a cargo de Mette Lindahl Olsson, às 17h15, integram igualmente o primeiro dia do programa.

No dia 29, o encontro no Fórum Municipal Luísa Todi começa às 09h30 com o Serviço Municipal de Proteção Civil e Bombeiros de Setúbal a apresentar a “Atividade de Proteção Civil no Concelho de Setúbal”.

O encontro continua às 10h00, com “Toolkit de Políticas da OCDE sobre Resiliência de Infraestruturas Críticas”, por Charles Baubion, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico, e, meia hora depois, com “Estratégias de Resiliência QBRNE para a Proteção das Comunidades”, por Lina Kolesnikova, do Institute of Civil Protection and Emergency Management.

Na parte da manhã há ainda, às 11h00, um painel dedicado ao tema “Energia Nuclear – Um Risco (In)Calculável”, numa intervenção dinamizada por Anna Letournel, do Instituto Politécnico de Setúbal.

“A Crise da Imigração: Um Teste de Stress à Cultura Legal Europeia”, às 14h00, por Waldemar Hoff, da Kozminski University, dá início aos trabalhos da parte da tarde do encontro, que prossegue às 14h30 com “Migrações – Ameaças e Riscos Transnacionais”, por Teresa Rodrigues, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Segue-se, às 15h15, “Seguros e Produtos Financeiros para Catástrofes Naturais – Um Cálculo da Resiliência”, por Eugénio Falero, da Universidad Politécnica de Madrid, e, meia hora depois, “A Indústria Seguradora na Construção de uma Sociedade mais Resiliente”, tema apresentado por José Oliveira, dos Seguros de Portugal.

As apresentações do programa de dia 29 culminam com “Aplicação Estatística da Inteligência Artificial e Big Data à Gestão de Emergência”, por José Recio, da Universidad Politécnica de Madrid, às 16h45, e “Avaliação dos Riscos de Subida do Nível do Mar na Alteração de Ambientes Costeiros”, a cargo de Andrea Critto, da Università Ca” Foscari Venezia, às 17h15.

A sessão de encerramento do encontro, às 18h00, está a cargo de Augusto Mateus, professor catedrático que coordenou a equipa responsável pela elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento de Setúbal 2026, que explana sobre a temática “De Setúbal para o Mundo”.

O encontro, com um total de 23 oradores internacionais e oito nacionais, conta com diversas sessões temáticas a realizar no Fórum Municipal Luísa Todi e nos auditórios da Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal, da Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra e da Biblioteca Pública Municipal de Setúbal.

A II Conferência Riscos, Segurança e Cidadania inclui no programa de dia 29, no auditório da Biblioteca Pública Municipal de Setúbal, nomeadamente, a apresentação, às 14h30, “Monitorização Sismo Vulcânica nos Açores”, por Teresa Ferreira, do Departamento de Geociências da Universidade dos Açores.

Já no auditório da Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal, destaque para uma intervenção, às 14h00, sobre “A Extensão da Plataforma Continental de Portugal – Responsabilidades do Estado Português na Preservação dos Oceanos”, a cargo de Tiago Cunha, da Fundação Oceano Azul.

O auditório da Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra é outro dos locais que acolhem a conferência internacional. Neste caso, entre várias apresentações, destaque para um painel subordinado à temática “Estratégias de Gestão da Água no Combate à Desertificação do Território”, às 14h00, por Maria José Roxo, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

A Conferência Internacional Riscos, Segurança e Cidadania integra a operação “Comunicação e sensibilização em cenários de risco associados às Gestão de Riscos”, comparticipada em 75 por cento através do Fundo de Coesão, no âmbito do PO SEUR – Programa Operacional sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos e ao abrigo do Portugal 2020.

A parte central do encontro pode ser acompanhada na internet numa transmissão em streaming no canal de YouTube da autarquia “Município de Setúbal”, a cargo de alunos de Produção Audiovisual da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal, sob coordenação do professor Pedro Felício.

 

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