“Rejeitar que o conformismo tome conta de nós é um imperativo. Rejeitá-lo é acreditar nos valores de Abril, é acreditar que não é no empobrecimento da esmagadora maioria dos portugueses que está a solução”, afirmou a autarca na sessão solene da Assembleia Municipal de Setúbal comemorativa da Revolução dos Cravos, realizada no dia 25 no Salão Nobre dos Paços do Concelho.

Maria das Dores Meira utilizou por diversas vezes a palavra “esperança” para ilustrar a importância de alterar o atual estado em que o País se encontra. “Esperança que é recusada aos mais jovens”, confrontados com uma “vida de futuro comprometido”. Mas também “esperança” entendida como um direito que, ao contrário de outros, não pode ser retirado às pessoas e que permita, por exemplo, “rejeitar soluções do passado, que nos remetem de novo, como nos tempos salazaristas, para a emigração, perante a incapacidade de encontrar soluções justas para os problemas dos portugueses”.

A transformação de direitos adquiridos em benefícios ilegítimos, a perda de salários, os cortes na saúde e os aumentos das taxas moderadoras, o crescimento do desemprego, as reduções das indemnizações por despedimento, o encerramento de milhares de pequenas e médias empresas e a perseguição e asfixia financeira do poder local democrático foram aspetos referidos pela autarca para provar o que considera ser ataques a conquistas de Abril.

A presidente da Câmara Municipal dedicou uma atenção particular ao esforço que as autarquias estão a realizar de promoção do investimento. No caso de Setúbal, referiu, o município, “com as suas dificuldades, a sua estrutura de receitas e despesas, as suas heranças, tem feito um enorme esforço para que este verdadeiro desígnio nacional se cumpra”.

A criação das condições para a instalação de empreendimentos geradores de postos de trabalho, o investimento na requalificação urbana e a criação de novos equipamentos culturais, desportivos e educativos foram mencionados por Maria das Dores Meira como contributos “para animar a economia local” e “garantir condições futuras de desenvolvimento e sustentabilidade de Setúbal”.

Depois da sessão solene, os presentes foram saudados com uma atuação de um grupo de alunos do 3.º ano da EB1 do Bairro Afonso Costa que cantaram, na escadaria dos Paços do Concelho, os temas de José Afonso “Índios da Meia Praia”, “Venham Mais Cinco” e o “Grândola, Vila Morena”.

À saída do edifício, na Praça de Bocage, os Bela Batuke, da EB 2,3+S da Bela Vista, demonstraram que com paus, vassouras, bidões, baldes de plástico e latas é possível criar uma sonoridade rítmica pujante mas afinada.

Na noite anterior, os ritmos tinha sido outros, com João da Ilha e, depois, Realejo, a darem concertos no Largo da Misericórdia, a que se seguiu animação pela madrugada dentro na Capricho Setubalense.

Antes da visita do Executivo municipal às freguesias para acompanhamento das atividades locais comemorativas do 25 de Abril, no dia 25, realizou-se uma cerimónia evocativa com deposição de flores no Monumento à Resistência.

Ana Pato, da direção nacional da URAP – União de Resistentes Antifascistas Portugueses, salientou que, passados 38 anos sobre “uma das maiores revoluções históricas do povo português a nível nacional e internacional”, o País assiste à “perda dos direitos à educação, à saúde, à habitação e ao emprego”.