“Quer pelo tipo de objetos escultóricos, quer pelo modo como foram integrados nos espaços públicos destes bairros, [o Núcleo Museológico] é algo de absolutamente inovador e, mais do que isso, de transformador pelo que simboliza na metamorfose da Bela Vista a que temos assistido”, sublinhou Maria das Dores Meira.
Esta foi a segunda de três fases a inaugurar do Núcleo Museológico Urbano, projeto financiado pela autarquia sadina e que conta com os apoios de várias empresas, uma vez que a maioria das obras de arte, da autoria de João Limpinho, foi criada a partir das ofertas de equipamentos industriais desativados.
A duas primeiras fases destinaram-se à colocação das esculturas e instalações artísticas, um total de 15 peças que já podem ser admiradas em diferentes ruas, avenidas e pátios que constituem os bairros da Bela Vista.
A terceira fase do projeto, que terá início em breve, destina-se à criação de um Centro de Interpretação do Núcleo Museológico, que, com a inauguração de dia 18, passou a integrar a rede de museus de Setúbal.
Para a derradeira etapa, a Autarquia, além de já ter garantido financiamento comunitário através do programa RUBE – Regeneração Urbana da Bela Vista e Zona Envolvente, conta com o envolvimento direto dos moradores e das instituições locais, responsáveis no futuro pela manutenção das peças, bem como pela dinamização de atividades económicas e culturais que assegurem a sustentabilidade do novo polo cultural.
A Câmara Municipal conta ainda conduzir várias intervenções para melhorar a experiência dos visitantes do Núcleo Museológico Urbano da Bela Vista, nomeadamente com a instalação de sistemas de iluminação em obras de arte e a requalificação de zonas envolventes às esculturas.
“Acreditamos plenamente que toda a cidade beneficia desta transformação que aqui estamos a operar em estreita colaboração com moradores e moradoras, que decidiram deitar mãos à obra e envolver-se nas decisões sobre o seu bairro”, frisou Maria das Dores Meira durante a inauguração da segunda fase, cerimónia em que também marcaram presença os vereadores Carlos Rabaçal e Pedro Pina, assim como o presidente da Junta de Freguesia de S. Sebastião, Nuno Costa.
A inauguração, integrada no programa das comemorações locais do Dia Internacional das Migrações, incluiu um percurso a pé pelos bairros da Bela Vista onde foram instaladas as seis novas obras de arte referentes a esta segunda fase do Núcleo Museológico.
Todas as peças têm, por inerência, elementos paisagísticos, sociológicos, temáticos e simbólicos remissivos, na grande maioria dos casos, para os moradores e diferentes comunidades culturais residentes nos três bairros que constituem a Bela Vista.
Sobre uma das seis esculturas inauguradas no dia 18, “Asas”, o artista João Limpinho explicou ter considerado uma solução interessante “o facto de colocar umas asas num espaço relativamente fechado como é o caso de um pátio. Remete para o sonho da Liberdade, querer voar mais além. Além disso, não deixa de estar também relacionado com a associação de paraquedistas aqui localizada”.
O escultor realizou uma visita guiada às novas obras de arte que integram a Bela Vista e que, além das “Asas”, incluem “Radar”, “Tampas de Caixas de Visita”, “5 Continentes”, “Despertar” e “Plano-Sequência”.
Ao lado do bloco de edifícios do Forte da Bela Vista, num local com paisagem privilegiada da Serra da Arrábida e da Baía de Setúbal, encontra-se “Despertar”.
“Certa vez, ao visitar as ruas no decorrer deste projeto, perguntei a uma senhora como ia a vida no ‘Bairro Azul’. A senhora criticou-me fortemente e corrigiu de imediato: ‘Desculpe mas é Bairro do Forte da Bela Vista’. Por isso esta peça [Despertar] é a única que tem referência ao nome do bairro. Senti que devia isso à senhora”, confessou João Limpinho.
A cerimónia terminou com música e animação, defronte da escultura “Plano-Sequência”, um autocarro cortado ao meio, com as metades, assim como a parte da frente e de trás, incrustadas numa parede de cimento.
As diferentes facetas multiculturais da Bela Vista estiveram presentes no espetáculo, protagonizado por moradores e que incluiu uma passagem de modelos de roupas africanas, uma demonstração de dança de kizomba e a atuação de um grupo de cante alentejano.
Em simultâneo, graffiters terminavam a decoração da obra “Plano-Sequência”, que integra, ainda, trabalhos manuais realizados por crianças residentes nos bairros locais.
“Vocês são daqui? ‘Não, somos ali do Amarelo [Bairro da Bela Vista]. Estamos aqui porque queríamos ver como ficaram os nossos trabalhos no autocarro’”, explicou à presidente da Câmara Municipal um grupo de meninas.
Este é um dos principais objetivos que o Núcleo Museológico Urbano da Bela Vista já está a cumprir e que vai ser potenciado logo que esteja em pleno funcionamento: fomentar o sentimento de pertença e de orgulho em todos os que vivem na Bela Vista e, por extensão, a toda a população do concelho de Setúbal.