Cinco exposições que demonstram a importância do azulejo português como expressão artística contemporânea, boa parte da qual reinventada através das produções da Galeria Ratton, entre 1987 e 2018, estão patentes em Setúbal entre 13 de setembro e 28 de outubro.


A Galeria Ratton, em Lisboa, a única no país dedicada, em exclusivo, ao azulejo, dá a conhecer o trabalho realizado nos últimos trinta anos, com um passeio por Setúbal através de exposições em cinco espaços distintos, em iniciativa integrada nas Comemorações Bocagianas 2018, programa em torno do Dia de Bocage e da Cidade.

A inauguração é no dia 13 em todos os equipamentos, com início às 18h00 na Galeria Municipal do 11, seguindo-se Biblioteca Pública Municipal de Setúbal, Museu do Trabalho Michel Giacometti, Casa Bocage e Casa da Cultura.

Com o título comum “Reflexos da Galeria Ratton 1987-2018”, a iniciativa, realizada com o apoio da Câmara Municipal de Setúbal, faz um balanço de uma atividade preenchida com reptos lançados a artistas de referência para a conceção de peças de arte em azulejos.

Muitos desses desafios resultaram num longo currículo de intervenções artísticas em edifícios e locais públicos, de que é exemplo o Túnel do Quebedo, em Setúbal, num contributo para reanimar o uso do azulejo como objeto com vocação natural para valorizar espaços arquitetónicos e urbanos.

Em “Reflexos 1987-2017”, um dos núcleos deste conjunto de exposições, na Galeria Municipal do 11, a Ratton propõe uma visão antológica de trinta anos de produções, marcada por uma seleção de azulejos de autores como Júlio Pomar, Querubim Lapa, Menez, Paula Rego, Bartolomeu Cid dos Santos e Jorge Martins.

O objetivo é demonstrar a força do azulejo contemporâneo como suporte de expressão artística individual e como veículo de enriquecimento estético dos espaços de todos os dias.

A 22 de setembro, às 16h00, há uma visita guiada e comentada por Paulo Henriques e José Meco e os diretores da Galeria Ratton, Ana Maria Viegas e Tiago Monte Pegado.

Já na Biblioteca Pública Municipal, o núcleo “Escritas” centra-se no valor das caligrafias e das palavras e aprofunda duas potencialidades centrais do azulejo, a inscrição dos gestos pictóricos e o registo através de imagens de narrativas, estórias e lengalengas.

A poesia de Pedro Támen conversa com as imagens de Júlio Pomar, enquanto Andreas Stöcklein dialoga com a poesia de Júlio Pomar e Manuel João Vieira com a de Mário Cesariny. Já Pedro Proença, Xavier Sousa Tavares, Ana Cordovil, Rosa Carvalho e Jun Shirasu inventam histórias ou registam narrativas pessoais. Ana Hatherly criou grandes letras que se transformam em figuras de pensamento e emoções.

A 20 de outubro, às 16h30, é exibido o filme “Revolução”, de Ana Hatherly, com comentário de Paulo Pires do Vale.

Outras três exposições mostram trabalhos de três autores contemporâneos diferentes, que exploram funções distintas que o azulejo assumiu ao longo de séculos.

Em “De Ontem para Hoje”, patente no Museu do Trabalho Michel Giacometti, é possível ver o trabalho de Sara Maia, que concebeu um painel historiado, seccionado em quadros justapostos.

A autora procurou as histórias do lugar e das gentes ligadas à industria conserveira, documentada no Museu do Trabalho, e explorou a potencialidade do azulejo como suporte de narrativas seriadas, restituindo as vivências laborais através de episódios e personagens que ali aconteceram e foram vividos.

A exposição integra imagens do espaço municipal Arquivo Fotográfico Américo Ribeiro e peças do espólio do próprio museu.

Na Casa da Cultura, Andreas Stöcklein mostra “Zonas de Transição”, com dois trabalhos muito diferentes.

Por um lado, está patente todo o processo de criação do azulejo para integração arquitetónica, com grandes painéis cenográficos realizados por Stöcklein para uma estação de metropolitano da cidade alemã de Essen.

Por outro, o autor mostra peças de um momento de fratura na sua obra, imediatamente posterior ao trabalho na Alemanha, em que sentiu necessidade de uma rutura em grandes painéis de azulejo com as geometrias a serem invadidas por erupções de grandes massas orgânicas.

Já em “Paraísos Carnívoros”, na Casa Bocage, o músico e artista plástico Manuel João Vieira mostra a resposta ao desafio colocado pela Galeria Ratton de pintar painéis de azulejo, de vocação claramente arquitetónica, explorando o seu valor sumptuário, convencionalmente de decoração luxuosa de espaços nobres.

Os desenhos propõem lugares paradisíacos, com floras exuberantes e devaneios eróticos, numa aproximação ao hedonismo disruptivo de Bocage.

Nestes equipamentos também há iniciativas paralelas. A 29 de setembro, às 15h00, uma conversa com Júlio Moreira e Sara Maia, no Museu do Trabalho, a 12 de outubro, às 22h00, uma visita guiada por Manuel João Vieira e comentada por Paulo Henriques, na Casa Bocage, e, no dia 27, às 17h00, uma visita guiada, na Casa da Cultura e ao Túnel do Quebedo, com Andreas Stöcklein, Baptista Pereira, Ana Maria Viegas e Tiago Monte Pegado.

As exposições podem ser visitadas, até 27 de outubro, na Galeria Municipal do 11, de terça a sexta-feira, das 11h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00, e ao sábado, das 15h00 às 18h00, na Biblioteca Pública Municipal, de segunda a sexta-feira, das 09h00 às 19h00 e ao sábado, das 14h00 às 19h00.

Já na Casa da Cultura as exposições estão patentes de terça a quinta, das 10h00 às 24h00, às sextas e sábados, das 10h00 à 01h00, e ao domingo, das 10h00 às 20h00, e na Casa Bocage, de terça a sexta, das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30, e aos sábado das 14h00 às 18h00.

No Museu do Trabalho Michel Giacometti, onde fica patente até 28 de outubro, a exposição pode ser visitada de terça a sexta-feira, das 09h30 às 18h00 e aos sábados e domingos, das 14h00 às 18h00.