Na mostra documental e biobibliográfica itinerante, cedida pelo Museu do Neorrealismo, de Vila Franca de Xira, terra de nascimento de Alves Redol, é possível percorrer as várias etapas da vida e obra do escritor.

Fotografias, cartas, apontamentos, desenhos, cartazes, artigos jornalísticos e excertos de livros são alguns dos materiais que podem ser vistos na exposição comemorativa do centenário de Alves Redol, aberta ao público de segunda a sexta-feira das 13h00 às 19h00 e aos sábados das 14h00 às 19h00.

Nascido a 29 de dezembro de 1911, Alves Redol publicou novelas e contos em jornais antes de escrever “Gaibéus”, de 1939, considerado o primeiro romance neorrealista português, uma obra centrada nas gentes do Alto Ribatejo e Beira Baixa, que relata vidas “alugadas” no desempenho de um extenuante trabalho rural, agravado pelas longas viagens percorridas para a obtenção de parcos dividendos.

No romance “Fanga”, publicado em 1943, Redol descreve a época em que vivia como “uma sombra da Idade Média”, em que os “senhores” vão “vivendo da terra sem nada lhe darem” e “os servos fecundando-a sem nada receberem”.

“Olhos de Água”, “Avieiros”, “Marés”, “Porto Manso”, “Anúncio”, “A Barca dos Sete Lemes”, “Os Reinegros” e “Horizonte Cerrado” são outras obras em destaque na exposição e que, inclusive, podem ser requisitadas para leitura domiciliária, mediante apresentação de cartão de utilizador da Biblioteca Municipal.

Acérrimo defensor dos direitos das classes operárias, Alves Redol colabora em diversas publicações ideologicamente opostas ao Estado Novo, como “O Diabo” e o “Sol Nascente”, com abrangência nacional, mas também em vários títulos da imprensa local ribatejana, designadamente o “Mensageiro do Ribatejo”, onde defende o trabalho como “um tributo doado à coletividade e nunca um esforço arrancado pela tirania de outros homens”.

A luta antifascista leva Redol à prisão em 1944, durante alguns meses, na sequência do envolvimento no movimento grevista de 8 e 9 de maio, voltando a ser preso pela PIDE em 1963, após participações contra as “farsas eleitorais” realizadas durante o período do Estado Novo, bem como em várias conferências contra a ditadura.

A exposição relembra ainda as incursões de Alves Redol pelo teatro e pelo cinema, autor de peças como “Maria Emília”, de 1945, “Forja”, de 1948, “O Destino Morreu de Repente”, de 1967, e “Fronteira Fechada”, de 1972, enquanto compôs os diálogos do filme “Bola ao Centro”, realizado por João Moreira, em 1947.