“Ao longo dos anos, a autarquia tenta manter um programa forte num dia tão importante para o município”, salientou a vereadora Carla Guerreiro, da Câmara Municipal de Setúbal, na aula “A Elevação de Setúbal a Cidade”.

A autarca sublinhou que “Setúbal continua a crescer, a reforçar a sua importância e será sempre uma das mais importantes cidades europeias”, adiantando que “este é um dia que ainda é pouco conhecido para muitos setubalenses”, realidade “que se quer mudada”.

Na aula aberta, realizada ontem à tarde no Salão Nobre dos Paços do Concelho, foram apresentadas intervenções de António Quaresma Rosa e Américo Pereira, da Uniseti – Universidade Sénior de Setúbal, e Cunha Bento, professor convidado, a par de questões colocadas pelo público.

Numa abordagem ao tema da elevação de Setúbal a cidade, António Quaresma Rosa fez uma contextualização histórico-social da efeméride e dedicou algumas palavras ao próprio Salão Nobre, “espaço construído por vários materiais, como a brecha da Arrábida”, que integra o Tríptico dos Setubalenses Ilustres, obra de arte pintada por Luciano Santos que perpetua figuras da história setubalense.

Quaresma Rosa esclareceu que o conjunto de três painéis, encomendado pela autarquia, encontra-se nos Paços do Concelho desde 1957. “Nele estão retratadas figuras notáveis de setecentos anos de história setubalense, remontando à Idade Média, até vultos artísticos de outros tempos, como Bocage e Luísa Todi.”

Luísa Todi mereceu também destaque pelo docente da Uniseti – Universidade Sénior de Setúbal. “A estátua da cantora lírica, que se encontra na avenida do mesmo nome, em frente do edifício do Governo Civil, foi inaugurada por ocasião do centenário da morte da cantora no antigo Parque das Escolas, hoje, Largo José Afonso.”

A glorieta, posteriormente deslocada para a Avenida Luísa Todi, foi desenhada por Abel Pascoal, esculpida por Leopoldo de Almeida e construída por Abílio Salreu.

Setúbal é cidade há 156 anos. O título foi concedido a 19 de abril de 1860, por D. Pedro V, monarca que respondeu positivamente a uma petição da Câmara Municipal de Setúbal, de 1858, que solicitava a elevação da outrora vila à categoria de cidade.

A instalação dos Paços no Concelho, no século XVI, na Praça do Sapal, atual Praça de Bocage, o incêndio de 1910, no alvor da Implantação da República, que devastou o edifício, e a reconstrução num projeto conduzido pelo arquiteto Raul Lino foram outros aspetos referidos na apresentação, que funcionou como uma aula aberta da Uniseti.

Sobre o incêndio de 1910, Quaresma Rosa referiu que “arruinou todo o edifício, deixando apenas de pé a fachada”. A administração municipal passou a funcionar, durante vários anos, no Liceu Bocage, até à conclusão das obras de reconstrução, em 1938, a cargo do arquiteto Raul Lino.

A Praça do Sapal foi também o local escolhido, após várias tentativas, para a instalação da estátua de Bocage, a 21 de dezembro de 1871, construída por iniciativa de Feliciano Castilho, com fundos angariados por subscrição pública no Brasil e em Setúbal através da imprensa local. 

“Poucos são os que se devem lembrar do Chafariz do Sapal no local onde foi originalmente colocado na Praça do Sapal. A construção tem mais de três séculos e ao longo da sua história deu de beber à população e aos animais que puxavam carroças”, indicou ainda o professor.

Cunha Bento, presente na sessão especial da tarde de dia 19, citou “Portugal Antigo e Moderno”, de Pinho Leal, para abordar a questão do terramoto de 1755, recordando que a então vila de Setúbal, com cerca de 13 mil habitantes, foi fortemente devastada.

“No Largo da Fonte Nova se reuniu tão grande entulho que chegava à altura das janelas dos primeiros andares”, leu Cunha Bento.

Durante a apresentação foi ainda referida a Batalha do Viso, combate travado em 1847, em Setúbal, entre as tropas apoiantes de D. Maria II, sob comando do conde de Vinhais, e a fação da Junta Insurrecional do Porto, dirigida pelo visconde de Sá da Bandeira.

A relevância do porto de Setúbal para a cidade foi igualmente destacada no encontro, numa intervenção a cargo de Américo Pereira, que, a este propósito, leu excertos de"Flores do Rio Azul", de Cabral Adão.

A aula aberta contou ainda com a participação de Arlindo Mota, diretor pedagógico da Uniseti, e a leitura de poemas por Maria do Carmo Branco.