O secretário-geral do Partido Comunista Português saudou a decisão dos órgãos autárquicos de Setúbal em atribuir a um dos principais eixos viários da cidade o nome de Avenida Álvaro Cunhal, só possível, referiu, “pela convergência de vontades democráticas”.

Jerónimo de Sousa assinalou a justiça desta decisão porque evoca uma “figura fascinante”, que pôs “a inteligência e a coragem” ao serviço de “um projeto portador da emancipação e libertação dos trabalhadores e do seu povo, solidário com outros povos”.

A complementaridade da luta revolucionária com a dimensão artística em Álvaro Cunhal foi apontada pelo líder do PCP. “No plano teórico a sua contribuição é inigualável. Em centenas de textos, artigos, relatórios, livros, discursos, construiu um corpo teórico denso, original, riquíssimo, sempre enraizado na realidade portuguesa concreta.”

Na cerimónia, em que esteve presente Maria Eugénia Cunhal, irmã do homenageado, além de membros dos órgãos nacionais e regionais do PCP e dos órgãos autárquicos locais, a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, sem conseguir esconder a comoção, afirmou que o novo topónimo homenageia um “comunista que tudo deu pelo seu povo, que tudo fez pela instauração da democracia e da liberdade no seu país”.

Maria das Dores Meira sublinhou que a Avenida Álvaro Cunhal, entre o Alto da Guerra e a confluência da A12 com as avenidas Antero Quental e Pedro Álvares Cabral, tem o nome daquele que é “um dos criadores da democracia portuguesa”.

Tanto a autarca como o secretário-geral do PCP destacaram o sacrifício pessoal e a coragem de Álvaro Cunhal na luta contra o fascismo, regime que o manteve preso durante 13 anos, oito em completo isolamento, a defesa dos direitos dos trabalhadores e do povo, o papel de organizador, teorizador e dirigente partidário e a dimensão intelectual.

“Álvaro Cunhal foi um dos maiores intelectuais e políticos portugueses de sempre”, com “intensa e incansável atividade política prática”, desenvolvida em simultâneo com “notável trabalho intelectual em áreas tão diversificadas como a economia política, a investigação e análise histórica e social, a criação literária e a tradução, o desenho e a pintura”, frisou Maria das Dores Meira.

Em face da conjuntura sociopolítica portuguesa, foi apontada a atualidade do pensamento e ação de Álvaro Cunhal na luta contra as desigualdades e injustiças, na defesa dos trabalhadores e no repúdio do favorecimento do grande capital financeiro.

Em jeito de parábola, Maria das Dores Meira referiu que na nova avenida “ouve-se a voz dos que rejeitam as teses que defendem que apenas há um caminho”, o do “empobrecimento”, da “destruição do estado social” e do “envio dos filhos para terras distantes em busca de uma vida melhor”.

Álvaro Cunhal, indicou a autarca, “soube mostrar outros caminhos” e, “mais do que saber por onde não ir, sabia para onde queria ir”, pois “há muitas avenidas de liberdade, muitos caminhos que se bifurcam e nos quais se pode encontrar outros rumos”.

Jerónimo de Sousa acentuou que, “olhando para estes tempos, em que se erguem sombras pesadas que recaem como cutelos” sobre “direitos sociais”, “aspirações e interesses legítimos”, “exercício da liberdade” e “soberania como povo e pátria”, os portugueses devem lembrar-se do “foi, fez e escreveu Álvaro Cunhal”.

A inauguração da Avenida Álvaro Cunhal, integrada nas comemorações locais do centenário do nascimento do líder histórico do PCP, contou ainda com a música oferecida pela banda da Sociedade Musical Capricho Setubalense, num medley de temas de Fernando Tordo e Paulo de Carvalho, a que se seguiu, para finalizar a cerimónia, o “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso.