A vontade de contribuir com ideias para construir um bairro melhor foi o sentimento dominante do encontro, realizado ao longo de toda a tarde na EB+S Ordem de Sant’Iago, com o envolvimento de autarcas, técnicos municipais e moradores em representação dos cinco bairros do território da Bela Vista.

Para muitos, a experiência do encontro do ano passado ajudou a disfarçar algum nervosismo e ansiedade antes da entrada para o plenário com moradores da Bela Vista, Forte da Bela Vista, Alameda das Palmeiras, Manteigadas e Quinta de Santo António. Já para outros, foi uma estreia absoluta.

Em todos, um sorriso estampado na face, não fosse um importante dia de decisões para as suas vidas, com novas propostas de intervenção a implementar no âmbito do programa municipal “Nosso Bairro, Nossa Cidade”. Chegaram cedo, até porque, antes do início dos trabalhos, há lugar a dois dedos de conversa com a vizinhança.

A construção de um futuro melhor é feita de homens e mulheres, dos jovens aos idosos. É feita a uma só voz, num esforço e empenho conjunto que juntou uma multiplicidade de culturas e etnias com várias crenças no auditório escolar completamente lotado.

“Vocês são a força de transformação das vossas próprias vidas. Nós, Poder Local Democrático, incondicionalmente, estamos cá para vos ajudar”, salientou a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira. “Estamos a ir muito bem!”

O empenhamento ativo dos moradores dos cinco bairros já permitiu, ao longo de dois anos do programa, ao nível da requalificação dos espaços comuns e públicos, a pintura e reabilitação de perto de quarenta edifícios, a pintura de trinta interiores de escadas e a restrição de acesso em 23 prédios.

Além da plantação de árvores e da recuperação de canteiros, foram dinamizadas 77 ações de promoção cultural, entre as quais são maiores exemplos as iniciativas “Férias no Bairro” e “Festival Mudar o Olhar”, a par de ações de sensibilização diversas, atividades desportivas e festas populares.

Ao nível das ações geradoras de participação, a realização de 109 reuniões com grupos de moradores voluntários fomentou a criação de várias comissões de acompanhamento para iniciativas comunitárias, assim como o aparecimento de dois grupos juvenis, o “Mudar o Olhar”, na Bela Vista, e “Atitude”, nas Manteigadas.

O resultado do processo organizativo no território “Nosso Bairro, Nossa Cidade”, com 153 edifícios, 1592 habitações sociais, das quais 423 são privadas, e onde residem, aproximadamente, 6 mil pessoas, a mudança de paradigma gerou a realização de 652 reuniões, com 2898 participações e 307 interlocutores eleitos.

O programa assenta na premissa de que toda a ação deverá ser protagonizada pelos próprios, ou seja, deverá ser geradora de participação das pessoas nas decisões que a elas e à sua comunidade dizem respeito, promovendo a autonomia, a responsabilidade e o crescimento coletivo.

“Este é um trabalho colossal realizado em apenas dois anos”, realçou a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, comovida ao ver um plenário com tamanha participação, o dobro da edição anterior. “Esta atitude dá-nos confiança para o que aí vem e a certeza de que o futuro pode e já está a ser transformado com este trabalho conjunto.”

Maria das Dores Meira afirmou que a continuidade do caminho de mudança impulsionado por este “programa único em todo o País” deve ser feita com “a participação de todos” e com a convicção de que a transformação desejada não é alcançada somente com o trabalho camarário.

“Acreditamos nos moradores. São vocês os protagonistas deste que é um enorme processo de participação dos cidadãos na gestão pública. A Câmara Municipal de Setúbal limita-se a criar condições para que tudo isto possa ser uma realidade”, vincou.

O 2.º Encontro Nosso Bairro, Nossa Cidade, que incluiu um apontamento dos BelaBatuke e a exibição de um vídeo com o trabalho que tem vindo a ser realizado no âmbito do programa, foi organizado por uma comissão com moradores dos cinco bairros, com o apoio da Câmara Municipal de Setúbal.

O vereador da Habitação da Autarquia, Carlos Rabaçal, enalteceu a importância do encontro, este ano com o lema “Decidir, Organizar e Realizar, para a “procura e debate de novas propostas de trabalho” mas também para o “reforço dos laços de coesão e de proximidade entre os moradores”.

Já o presidente da Junta de Freguesia de S. Sebastião, Nuno Costa, ao destacar “o caminho tremendo feito até agora”, vincou que o “mais importante neste programa, além daquilo que são as questões materiais, é a participação e organização das pessoas em prol de uma causa comum”

Para o autarca, “a força, a determinação e a coesão” dos moradores são cruciais para o sucesso do programa. “Quando queremos, conseguimos. É a transformação das vossas vidas. Aqui, a grande diferença, é que ninguém está à espera que alguém o faça por vós”, reforçou. 

Após uma sessão de abertura, os participantes reuniram-se em grupos de trabalho para debater e avaliar o resultado das iniciativas saídas do primeiro encontro anual e para perspetivar novas medidas e planos de ação concretos para o desenvolvimento de projetos em prol da população.

Foram mais de duas horas de reunião, nas quais todos procuraram contribuir com ideias, opiniões e soluções. Este ano, ao contrário da edição passada, os moradores estiveram organizados em grupos de trabalho por cada um dos cinco bairros e não por áreas de intervenção.

No final, um dos momentos mais esperados de todo o dia, com os moradores a apresentar o resultado do processo democrático, com conclusões e um conjunto de novas propostas para pôr em prática em 2015 e, caso seja necessário, nos anos seguintes.

A Alameda das Palmeiras foi o primeiro bairro a avançar. Antes, uma palavra de Adelaide Nicásio, uma das interlocutoras eleitas. Além do agradecimento especial à Câmara Municipal de Setúbal pelo apoio, um repto à comunidade. “Temos de cuidar daquilo que foi feito porque nasceu do esforço de todos nós.”

Entre as propostas de intervenção para aquele bairro, destacam-se novas ações de trabalho e apoio escolar para os jovens, a limpeza e manutenção do espaço público, a ordenação do estacionamento, a elevação de canteiros de flores, a colocação de gradeamentos e a organização de uma festa popular anual, em agosto.

Em relação ao Bairro da Bela Vista, uma proposta para a atribuição de nomes aos 19 pátios, reabilitados recentemente com novas condições de usufruto para a comunidade, centrou as atenções, assim como a possibilidade de dinamização de animação regular naqueles espaços.

A melhoria da iluminação pública, nos prédios e nos pátios, o reforço do policiamento durante a noite e a limpeza mais regular de contentores foram outras ações lançadas pelos moradores, assim como um projeto que visa a pré-recolha de roupas e outros materiais colocados no lixo para posterior tratamento e reutilização.

Já no Forte da Bela Vista, novas ações de trabalho para o próximo ano apontam à criação de um regulamento de utilização dos espaços comuns do bairro, assim como a criação de condomínios e uma maior fiscalização dos animais domésticos em habitações e a sua presença nos espaços comuns.

Outras propostas dos moradores visam a inclusão de monitores não residentes na iniciativa “Férias no Bairro”, muito elogiada pelos participantes, assim como a dinamização de um atelier de arraiolos, rendas e bordados, formações em primeiros socorros, cursos de alfabetização e organização de excursões.

Nas Manteigadas, para 2015, há o objetivo de recuperar o campo de futebol ou de construir outra infraestrutura desportiva, de remover viaturas abandonadas do espaço público e de explorar duas frações comuns, por uma moradora, para a abertura de um negócio de comércio com vários produtos.

O encerramento de túneis entre as habitações, ação que pode contribuir para o aumento do sentimento de segurança, foi outra das propostas apresentadas pelo grupo de moradores, a par da reabilitação de fachadas e coberturas de habitações e do nivelamento de passeios na Rua João Augusto da Rosa.

Na Quinta de Santo António, a construção de um parque infantil e a repintura de passadeiras foram ações elogiadas pelos participantes, que definem como prioritárias a criação de condomínios e a constituição de uma associação de moradores para uma maior comunicação entre todos.

A dinamização da atividade ocupacional “Férias no Bairro”, a realização de ações de sensibilização para recolha de dejetos caninos, a definição de zonas de estacionamento para restringir o parqueamento abusivo e a manutenção dos espaços verdes foram outras propostas apresentadas pelos moradores.

“Queremos que todos sintam orgulho nos bairros em que vivem”, afirmou a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, ao salientar a qualidade e relevância das propostas apresentadas. “São questões muito importantes e, ao que parece, muitas delas com rápida execução, assim haja vontade.”

Já o vereador Carlos Rabaçal, ao vincar a “qualidade do debate e o sentido comunitário alcançado no encontro”, frisou o “compromisso de todos os moradores em se envolverem ativamente para a concretização de todas as propostas debatidas e apresentadas em plenário”.

O 2.º Encontro Nosso Bairro Nossa Cidade, que terminou com um jantar-convívio, é mais um dos exemplos do espírito de intervenção ativa que está a ser desencadeado pela população no âmbito deste programa.