José da Gaia e João Oliveira, antigos pescadores e elementos da Associação Família do Mar de S. Sebastião, confecionaram para as cerca de trinta pessoas que apareceram na Casa da Baía uma caldeirada feita segundo a tradição dos marítimos, comunidade onde o prato tem origem.

Perante o olhar atento do público, a dupla preparou pacientemente três panelas, respondendo às perguntas que esporadicamente foram colocadas pelos visitantes.

A caldeirada de Setúbal, embora com preceitos comuns a muitos cozinheiros, não segue uma receita rígida. João Oliveira, enquanto mexia à mão, num alguidar, pedaços de safio, pata-roxa, tamboril e tremelga, esclareceu um visitante que não colocou raia na miscelânea de peixe porque não gosta. “Mas isso são opiniões”, rematou.

Por 3,50 euros o público provou – leia-se, almoçou, com direito a repetição – caldeirada e massa servida no caldo, com vinho tinto ou branco Malo Tojo.

Hermínia e Augusto Gaspar, a viver há apenas um ano e meio em Setúbal, sempre tiveram o hábito de almoçar peixe assado no Concelho. “Vínhamos da Amadora de propósito para comer sardinha. Nunca provei a caldeirada, daí estarmos cá hoje”, explicou Hermínia Gaspar.

O marido, reformado da marinha mercante, já provara o prato em alto-mar, onde a caldeirada nasceu, fruto das necessidades dos pescadores, e constatou como, apesar de ligeiras diferenças, a receita deste sábado coincidiu com as suas memórias.

“Setúbal destaca-se de muitos locais por muitos motivos fantásticos e a forma como se prepara o peixe é das que mais saltam à vista. É uma fama que é perfeitamente justa”, sentenciou o antigo marinheiro.

António Silva, lisboeta a residir em Setúbal há seis meses, conhece bem a caldeirada local e aproveitou a iniciativa para a voltar a provar. “Era para vir com a minha mulher, mas ela adoeceu e resolvi vir sozinho”, afirmou, acrescentando ser um apaixonado do peixe servido no Concelho.

Uma camada de cebola na base, outra de tomate e pimento e camadas alternadas entre batata e peixe, com o mais grosso a ficar por baixo, é uma das regras fundamentais a respeitar na preparação de uma caldeirada, sublinha José da Gaia.

“A água usada é do mar, por isso não se põe sal. E, no final, com a caldeirada quase pronta, deita-se vinho branco para a batata não desfazer”, remata João Oliveira.

Pelo caminho, o caldo contou ainda com o toque especial dos chefes de serviço: uísque.

Uma vez servido, o prato rapidamente conquistou o público presente. Jaime Monteiro, de Setúbal, rendeu-se à primeira garfada, soltando um “ótima!” para adjetivar o preparado.

A companhia, Maria Teresa, também sadina e apreciadora da caldeirada setubalense, procurou na experiência de sábado encontrar os sabores mais tradicionais do prato. “Uma maravilha! Não se pode dizer mais nada”, concluiu.

O Festival da Caldeirada de Setúbal, promovido pela Câmara Municipal, em parceria com espaços de restauração locais, chegou a ultrapassar as fronteiras do Concelho, com uma prova de degustação, também no dia 10, no Aqualuz Suite Hotel Apartamentos, no Troia Resort, parceiro da Autarquia na organização do certame.