Maria das Dores Meira salientou que atingiu o limite com a decisão do Governo em colocar de fora dos apoios estatais a XVII Festa do Teatro – Festival Internacional de Teatro de Setúbal, depois de também terem visto subsídios cortados ou substancialmente diminuídos outros projetos de grande dimensão, como a companhia profissional TAS – Teatro Animação de Setúbal e o Festroia – Festival Internacional de Cinema de Setúbal, que este ano, por esse motivo, não se realizou pela primeira vez em trinta anos.

“Já chega! Quando a Festa do Teatro ganha cada vez mais projeção, mais prestígio nacional e internacional, a Direção-Geral das Artes resolve cortar um apoio que é mais do que merecido. Isto está a andar ao contrário!”, sublinhou a autarca no final da abertura oficial do certame de artes cénicas, realizada no dia 20, ao final da tarde, no Convento de Jesus.

“É um boicote deliberado à Cultura! É o Estado Central, não o Estado Local, como está bem explícito na Constituição, que deve apoiar as artes e as atividades culturais”, apontou Maria das Dores Meira, que, reforçou, a Câmara Municipal “financia este projeto cultural [Festival Internacional de Teatro de Setúbal] com uma fatia importante do seu orçamento destinado à promoção de eventos culturais”.

A presidente da Câmara Municipal salientou que este é “um dos maiores eventos culturais que se realizam regularmente em Setúbal e um dos mais conceituados festivais de teatro nacionais”, assumindo-se como um protagonista da estratégia cultural local, “numa ponte entre a excelência artística e a oportunidade de jovens mostrarem as suas criações”.

A autarca vai solicitar, com caráter urgente, uma reunião com o diretor-geral das Artes para que sejam explicados os motivos que levaram à não elegibilidade da candidatura do Teatro Estúdio Fontenova a um apoio de 25 mil euros para a organização do certame de cariz internacional. “O diretor vai ter de explicar porquê. Não quero pensar que sejam decisões políticas.”

A XVII Festa do Teatro, a decorrer até 5 de setembro, conta com a participação de companhias de vários locais do País, nomeadamente de Lisboa, Sintra, Amadora, Covilhã, Faro e Beja, mas também do estrangeiro, com representações do Brasil, da Espanha e Alemanha.

O diretor artístico do certame, José Maria Dias, realçou que o chumbo da candidatura ao apoio deste ano representa um duro golpe para organização do evento. “No ano passado o festival teve esse apoio e foi, sem dúvida, um grande incremento para o seu crescimento. Este ano ceifaram aquilo que ajudaram a crescer.”

Com base na experiência de 2014, em que o festival recebeu o apoio do Estado, o projeto do Teatro Estúdio Fontenova para a edição deste ano preparou novidades que podem estar agora em causa.

“Arriscámos na programação e na extensão geográfica, com dois espetáculos em Sesimbra, e temporal, prevista para novembro, que contaria com o lançamento de um concurso de novos textos dramáticos. Não sabemos agora como iremos fazer face ao investimento e a este ‘não apoio”, salientou José Maria Dias.

O diretor do festival questiona-se, inclusivamente, sobre o futuro. “Está em causa a continuidade deste festival e também dos novos projetos. E para o ano, que festival teremos? Será que não poderá existir um grande festival de teatro em Setúbal?”

José Maria Dias acredita que este é um problema que “pertence também a Setúbal e à comunidade e, como tal, que a defesa do direito à Arte, à Cultura, à capacitação individual e coletiva e à descentralização é algo que a todos nos diz respeito”.

Nesse sentido, o Teatro Estúdio Fontenova está a fazer circular um abaixo-assinado, durante os espetáculos, no qual é revindicada a sustentabilidade do certame e que será posteriormente entregue ao secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier.

No panorama artístico, a XVII Festa do Teatro, com mais de trinta eventos ao longo de 15 dias, começou com um apontamento musical a cargo do pianista Bruno Moraes, durante a abertura oficial, nos claustros do Convento de Jesus.