A boa disposição e a vontade de contribuir com novas ideias para construir um bairro melhor foram tónicas desta iniciativa, realizada ao longo de toda a tarde na EB 2,3 + S da Bela Vista, envolvendo autarcas, técnicos municipais e moradores em representação dos bairros da Bela Vista, Forte da Bela Vista, Alameda das Palmeiras, Quinta da Santo António e Manteigadas.

Aos poucos e poucos, os moradores foram chegando. À entrada, iam adiantando trabalho, trocando ideias sobre o que pode e deve ser feito no futuro, atenção que dispersava, por momentos, para apreciar uma exposição subordinada ao “Nosso Bairro, Nossa Cidade” e para ver alguns dos trabalhos de tricot e crochet.

“Este primeiro encontro constitui uma importante etapa neste caminho que estamos a trilhar com o programa ‘Nosso Bairro, Nossa Cidade’. Vamos continuar a trabalhar na melhoria dos bairros com o objetivo de os integrar cada vez mais na cidade”, sublinhou a presidente da Câmara Municipal, Maria das Dores Meira, no encontro, no qual participou um responsável do Ministério da Administração Interna.

A autarca sublinhou que “os moradores são os principais responsáveis pela transformação que está a acontecer em todos os bairros da Bela Vista, sem exceção, com o apoio incondicional da Câmara Municipal de Setúbal”, frisou a autarca, reforçando, contudo, “que é cedo para ‘cantar vitória’ pois este é ainda o início de um longo caminho”.

Maria das Dores Meira recordou que, com o empenhamento ativo dos moradores, foram pintadas galerias e zonas comuns de nove prédios do Bairro da Bela Vista e de outros vinte do Forte da Bela Vista, e reabilitadas as caixas de escada e zonas interiores comuns de quatro prédios do Bairro Alameda das Palmeiras, de outros dois na Quinta de Santo António e de mais oito nas Manteigadas.

“Vamos ter disponível, em breve, mais tinta e restantes materiais necessários para pintura de mais prédios em todos os bairros”, anunciou, frisando o investimento camarário da ordem dos 160 mil euros na reabilitação de prédios naqueles bairros, em empreitadas em curso ou já finalizadas.

A autarca, relembrando igualmente as 475 intervenções realizadas naquele território entre 2010 e 2012 por administração direta, ou seja, com recurso a meios técnicos e humanos da própria Autarquia, deixou bem patente que o trabalho realizado com as populações não se limita à recuperação do edificado.

A autarca realçou as 107 reuniões realizadas só em 2012 com 745 moradores, os 220 interlocutores eleitos para avançar com todo o processo de renovação da Bela Vista e dos bairros envolventes, as 45 reuniões com grupos organizados de moradores voluntários e os 65 encontros com 32 instituições e associações.

“Este é um bom sítio para se viver. Este é o nosso bairro, esta é a nossa cidade. Todos temos o dever de participar na construção de algo melhor e de preservar aquilo que já foi feito. Entrar no número 7 da Avenida Francisco Fernandes [Bela Vista] é, hoje, uma experiência completamente diferente”, exemplificou, emocionada, Maria das Dores Meira.

“Acreditamos que, com o envolvimento organizado dos moradores e a participação das instituições e da Junta de Freguesia, o processo de recuperação daqueles bairros e espaços comuns não vai parar”, afirmou Maria das Dores Meira.

A autarca referiu que a Bela Vista transmitida pelo “imediatismo dos diretos televisivos” não constitui “a realidade quotidiana dos bairros, o que são as suas pessoas, o empenhamento que muitas delas empregam na mudança das suas vidas”, vincando o esforço realizado naquele território.

“Acreditamos nos moradores. São vocês os protagonistas deste que é um enorme processo de participação dos cidadãos na gestão pública. São vocês que mostram que, enquanto há força, como cantava Zeca Afonso, seremos muitos, seremos alguém”, enalteceu, reforçando que “este é o mais forte programa de participação popular a nível nacional”.

Após uma sessão de abertura, os moradores inscritos reuniram-se em nove grupos de trabalho, cada um com uma temática específica, com o objetivo de fazer o balanço das atividades desenvolvidas e de lançar novas iniciativas. Uma hora depois, as conclusões estavam a ser apresentadas em plenário.

O reforço da iluminação pública, a reparação de coberturas e a continuidade dos trabalhos de pintura no edificado foram algumas das propostas avançadas no âmbito da “Participação das Pessoas na Reabilitação de Edifícios e Espaços Públicos”, grupo que vincou a necessidade de se manter tudo aquilo que já foi realizado naquela área de intervenção.

O acesso pleno à informação para as cerca de sete mil pessoas que vivem na área de intervenção do programa “Nosso Bairro, Nossa Cidade” é uma das prioridades indicadas pelo grupo da “Comunicação”, que lançou a ideia de organização de equipas, em cada um dos bairros, totalmente dedicadas às questões de informação e promoção das iniciativas.

Em relação à “Higiene e Limpeza”, os moradores propuseram a realização de ações de sensibilização e de atividades de mobilização popular de limpeza pública, vincando a importância e necessidade de criação de novos condomínios, com o pagamento de quotas mensais para a limpeza de espaços comuns.

A constituição de grupos de leitura, dança e pintura, a dinamização de ateliers para crianças e idosos e a continuidade da realização de visitas a espaços culturais foram algumas das propostas avançadas pelo grupo “Atividade Cultural”, que pretende ter uma maior ligação à comunidade educativa.

Já o grupo de “Ambiente e Espaços Verdes” propôs a realização de intervenções mais abrangentes, como a colocação de floreiras na Bela Vista, a pavimentação de entradas dos prédios e a criação de hortas comunitárias em zonas adjacentes ao edificado.

A descoberta de novos talentos desportivos, a dinamização do programa “Gira o Bairro”, em género de Jogos Olímpicos da Bela Vista, e o desenvolvimento de atividades interbairros, inclusive com outras áreas de Setúbal, foram alguns dos projetos lançados pelo grupo “Desporto e Atividade Física”.

A atividade “Férias no Bairro”, trabalhada num grupo específico, esteve também em destaque, tendo os moradores proposto a dinamização de novas iniciativas direcionadas para uma profissão, ações de apoio escolar e o alargamento da atividade à população sénior.

Na área da “Formação”, a dinamização de ações de educação para uma correta limpeza de prédios e deposição de detritos foram também propostas, assim como uma formação técnica em construção civil, para os moradores interessados em apoiar intervenções e que possuem poucos conhecimentos.

A criação de mais comissões de bairro, para uma maior abrangência e envolvimento dos moradores nas iniciativas a dinamizar no futuro, constituiu a principal proposta do grupo “Participação e Organização dos Moradores”, que vincou, como fundamental, o apoio da Autarquia na cedência de materiais para a execução de intervenções.

“Ouvimos ideias muito interessantes e que podem ter um impacte positivo na Bela Vista. Esta foi uma reunião importante, um momento de reflexão e de preparação para o futuro do “Nosso Bairro, Nossa Cidade”, frisou o vereador Carlos Rabaçal.

As iniciativas propostas, adiantou, “trabalhadas intensamente pelos grupos de trabalho e que comprometem todos os agentes envolvidos neste programa, vão agora ser estudadas de forma a analisar a viabilidade de as implementar no terreno”.

O presidente da Junta de Freguesia de São Sebastião, Nuno Costa, vincando que o “Nosso Bairro, Nossa Cidade”, é um dos “melhores exemplos de cidadania”, no qual “o envolvimento dos moradores é crucial para o desenvolvimento do território”, deixou um repto aos moradores: “Nunca mais deixem que a responsabilidade fique somente nas mãos de outros intervenientes.”

Um ato simbólico, com a entrega de uma chave de acesso aos equipamentos desportivos na EB 2,3 + S da Bela Vista à Comissão de Moradores do Forte da Bela Vista, para o desenvolvimento de atividades físicas, e a oferta de dez bolas de futebol, marcou ainda o “I Encontro Nosso Bairro, Nossa Cidade”.

“Este é, sobretudo, um programa que cria condições para que as pessoas possam tomar nas suas mãos a missão de resolver os seus problemas, e tenham a capacidade de decidir o que fazer com as suas vidas. São gente de Setúbal, que contam e podem sempre contar com o seu Município”, rematou Maria das Dores Meira.

A esta declaração da presidente da Autarquia, a moradora Fernanda Rodrigues retribuiu o gesto com um simples mas sentido agradecimento. “Obrigada pela confiança que depositaram em nós para mudar os nossos bairros.”

A união de esforços em torno de uma causa comum é o desígnio do “Nosso Bairro, Nossa Cidade”, que, ao longo de mais de um ano, já dinamizou várias operações de beneficiação de habitações e iniciativas que promovem o convívio multicultural.

Esta iniciativa é mais um dos exemplos do espírito de intervenção ativa que está a ser desencadeado pela população no âmbito deste programa que assenta na premissa de que todas as ações devem ser protagonizadas pelas próprias pessoas, promovendo a autonomia, a responsabilidade e o crescimento coletivo.

Após a sessão de encerramento do “I Encontro Nosso Bairro, Nossa Cidade”, foi exibido o documentário “Bela Vista”, dos realizadores João Miller Guerra e Filipa Reis, produzido no âmbito do programa RUBE – Regeneração Urbana da Bela Vista e Zona Envolvente, seguindo-se um jantar-convívio.