A análise foi apresentada no dia 22 de manhã no auditório do Mercado do Livramento, numa sessão de divulgação do projeto Orque-Sudoe, rede científica de laboratórios públicos dos três países que analisou a qualidade química e biológica do litoral sul atlântico.

O Orque-Sudoe, projeto europeu financiado pelo Programa de Cooperação Territorial Europeia Interreg IV B Sudoe, reuniu as infraestruturas e profissionais de nove laboratórios de Portugal, Espanha e França, entre os quais o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), para, através da análise de produtos locais considerados estratégicos, determinar a qualidade do ambiente no litoral do sudoeste europeu.

O Estuário do Sado foi considerado zona piloto no sudoeste europeu por constituir um ecossistema de elevada sensibilidade e valor ecológico, no qual se verifica forte incidência humana com marcada componente industrial.

No âmbito do projeto, com a duração de dois anos, a terminar em dezembro, foram analisadas ostras selvagens depuradas, prontas para comercialização e consumo humano, uma vez que esta espécie é particularmente sensível a alterações ambientais.

Em paralelo, foram também analisados mexilhões do estuário, assim como alfaces, arroz e água de hortas familiares localizadas naquela área, nomeadamente na Carregueira.

Em todos os casos foram “detetados valores abaixo dos níveis referenciados” legalmente, sublinhou Isabel Castanheira, acrescentando a investigadora do INSA que estes resultados, ainda que preliminares, “são robustos e não deixam dúvidas nenhumas sobre a boa qualidade do ambiente no Estuário do Sado e das ostras que ali se produzem”.

Isabel Castanheira reforçou igualmente o papel das ostras neste estudo. “São um bioindicador ambiental, mas, sobretudo, são um alimento apreciado e podem ser uma ferramenta económica, porque são exportadas. A partir das amostragens usadas no estudo, as ostras do Sado apresentam perfis nutricionais e de baixo teor de contaminação de toxinas muito mais atrativos do que os observados nas espécies dos restantes oito locais de incidência do projeto, em particular na Espanha e na França.”

O vereador da Câmara Municipal com o pelouro do Ambiente, Manuel Pisco, afirmou não estar surpreendido com os indicadores que agora se apresentam.

“Existe uma carga industrial brutal na Península da Mitrena [localizada no Estuário do Sado], mas houve também uma grande requalificação na última dezena de anos de toda a indústria ali concentrada, casos da metalomecânica e da naval. Houve a introdução de um quadro legislativo muito mais apertado em matérias ambientais. Só não existia ainda uma medição das consequências dessas medidas. Mas a procura crescente pelas ostras do Sado era um sinal da qualidade ambiental ali presente. Agora temos uma análise dessa qualidade, com fundamento”, frisou.

Um dos pontos fortes da metodologia utilizada no projeto Orque-Sudoe sublinhado por Isabel Castanheira é que as análises provêm “de nove laboratórios distintos e que visam exclusivamente interesses académicos”, sendo que os resultados, segundo a investigadora, são muito animadores.

A sessão de divulgação do projeto, que contou com a participação de uma investigadora da Universidade de La Rochele, França, decorreu perante uma plateia constituída principalmente por representantes de entidades direta ou indiretamente relacionadas com a gestão ou desenvolvimento do Estuário do Sado, entre os quais estavam elementos do ICFN – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, das Águas do Sado e da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.

Inês Coelho, investigadora no INSA, fez uma apresentação científica mais detalhada do estudo que entra agora na fase de conclusão. “Foram analisados 41 analitos???? nas amostras”, ou seja, de cada produto recolhido para a investigação, foram examinados quimicamente mais de duas dezenas de componentes considerados com pertinência para os objetivos do projeto.

A investigadora sublinhou ainda que o Orque-Sudoe teve ainda a finalidade de “definir o ‘onde’, o ‘quando’, o ‘como’ e o ‘quê’ dos próximos estudos e, principalmente, uma metodologia para o futuro”.

Os resultados do projeto Orque-Sudoe vão constituir uma base de dados científica para a análise ambiental do litoral sudoeste europeu.

O objetivo é a alimentação de um banco de dados de componentes químicos com interesse para a monitorização ambiental, de forma a permitir a elaboração de estratégias inovadoras de gestão ambiental, mas também para o desenvolvimento de uma plataforma de formação de jovens investigadores que terão uma ação significativa nesta região europeia.

O vereador Manuel Pisco aproveitou o encontro para lançar o desafio de se realizar, a médio prazo, uma conferência de cariz ambiental, na qual a comunidade científica com investigações relacionadas com o Estuário do Sado possa partilhar conhecimentos adquiridos.

Através do Orque-Sudoe, a Câmara Municipal de Setúbal e o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge celebraram, recentemente, um protocolo de colaboração para a monitorização, a longo prazo, da qualidade ambiental do Estuário do Sado.

A Autarquia, enquanto parceira do INSA, vai facilitar a implementação de ferramentas inovadoras e fiáveis que permitam monitorizar a evolução ambiental do estuário.

No âmbito do protocolo, ambas as instituições facilitam mutuamente instalações e equipamentos para a realização de ações conjuntas, designadamente trabalhos de investigação, estágios, atividades de ensino, formação de recursos humanos e visitas de estudos.