“O que sabemos hoje é que nenhuma instituição ou empresa, seja de que dimensão for, pode ter sucesso sem comunicar”, afirmou a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, na abertura do II Encontro dos Profissionais de Comunicação da Península de Setúbal e do Litoral Alentejano.

Na ótica das autarquias, a “boa comunicação equivale a uma cidadania mais ativa e mais qualificada”, frisou perante uma plateia que, ao longo do dia, juntou, no auditório da Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal, oito dezenas de técnicos de comunicação das mais diversas áreas, incluindo câmaras municipais, órgãos de comunicação social, entidades de turismo e agências.

Maria das Dores Meira destacou neste encontro organizado pela Câmara Municipal de Setúbal e pelo Diário da Região que “as autarquias terão sido as primeiras a compreender a nova realidade, e a explorá-la com enorme eficácia”, dos meios de comunicação instantâneos, com elevados níveis de personalização, possíveis apenas com o advento da internet.

Esta aposta vai ao encontro da importância da proximidade com o público, uma das principais necessidades detetadas, transversalmente, em matéria de comunicação eficaz e eficiente, nos cinco painéis de debate.

Para o presidente da Câmara Municipal de Alcácer do Sal, Vítor Proença, vive-se “o tempo do efémero e da comunicação instantânea”, sendo que “os smartphones deram um poder imenso às pessoas: o poder de comunicar, o poder de serem vistas, o poder de se expressarem”.

O autarca destacou, por um lado, que “o comunicador [municipal] não se pode colocar ao nível de um chefe de serviço ou de departamento para interagir com o seu público-alvo, a população”, estando mesmo convencido de que, “na administração pública, o evento que a vai marcar nos próximos cinco anos vai ser a proximidade”.

Por outro, advertiu que “a comunicação nunca pode substituir a gestão”, sendo as estratégias de gestão dos territórios a definir os planos e as formas de comunicar das autarquias e nunca o contrário.

O autarca participou no primeiro painel de debate, dedicado ao tema “A comunicação autárquica como fator de sucesso municipal”, o qual recebeu também o contributo do coordenador do Setor de Audiovisuais e Multimédia da Câmara Municipal de Setúbal, de Ivo Mota.

O setor, criado há cinco anos, é responsável pela produção de conteúdos vídeo, alguns deles já premiados no país e internacionalmente, e pela gestão das redes sociais na internet da Câmara de Setúbal, com a página do Facebook a constar no Top 10 nacional das mais visitadas entre as autarquias.

Também a proximidade foi tónica dominante nas estratégias comunicacionais a adotar no setor do Turismo, com os presidentes das entidades regionais de Lisboa, Vítor Costa, e do Alentejo e Ribatejo, Ceia da Silva, a enfatizarem precisamente esse ponto.

“As pessoas têm uma importância muito grande quando se aproximam e vivem as experiências turísticas enriquecedoras”, sublinhou Vítor Costa.

O responsável pela estratégia do turismo na região de Lisboa relembrou a grande notoriedade conquistada internacionalmente nos últimos anos pelo Mercado do Livramento, depois de uma jornalista do USA Today ter referido o mercado de peixe setubalense como um dos dez melhores do mundo.

António Ceia da Silva, que liderou com êxito cinco candidaturas de bens materiais e imateriais das regiões do Alentejo e do Ribatejo a patrimónios da humanidade pela Unesco, sublinhou a importância de se definir e segmentar com precisão os públicos e “ajustar os conteúdos comunicacionais aos interesses de cada um desses destinatários”.

Este painel, dedicado ao tema “A importância da comunicação no turismo”, antecedeu o terceiro período de debate do encontro, subordinado à temática “A comunicação empresarial das grandes marcas”.

Neste período, Márcio Cruz, do departamento de comunicação da Coca-Cola European Partners (CCEP), e Marta Mimoso, diretora-geral do CIDOT – Estúdio de Comunicação, abordaram como a empresa líder europeia no engarrafamento de refrigerantes se tem vindo a afirmar no plano social nos últimos anos.

“A componente comercial tem, frequentemente, uma conotação pesada quando uma grande marca desenvolve um plano de comunicação institucional. Mas a verdade é que a Coca-Cola European Partners é uma empresa com 40 anos de tradição em Portugal e é uma entidade que vai muito para lá da marca do famoso refrigerante Coca-Cola”, salientou a responsável da CIDOT, estúdio que tem colaborado com a CCEP.

A imprensa regional também esteve em discussão neste segundo encontro de profissionais da comunicação, com o editor do jornal “O Setubalense”, Humberto Lameiras, a reforçar, igualmente, a importância da proximidade com o público. “Pode ser a grande solução para salvar a comunicação social local, que se debate com problemas financeiros praticamente desde sempre.”

Parte desses problemas, que também tocam os títulos de dimensão nacional, devem-se, em parte, salientou a presidente do Sindicatos dos Jornalistas Portugueses, Sofia Branco, “a uma excessiva concentração de profissionais em Lisboa”, fator que contribui para o “enfraquecimento da imprensa local”.

Num exercício de autocrítica, Sofia Branco apontou que a própria classe profissional pode ter uma quota-parte de responsabilidade em algum descrédito que a comunicação social portuguesa se tem sujeitado.

“Temos vivido numa torre de marfim. Temos achado que éramos poder, mas pelas razões erradas. Esse poder devia estar ao serviço da população e isso, por algumas vezes, não se tem verificado”, disse.

Além de constatar uma crescente “desprofissionalização na imprensa regional”, Sofia Branco alertou para a dependência financeira a que a maioria dos órgãos de comunicação social está sujeita.

“Muitas vezes não sabemos [jornalistas] de onde vem o dinheiro. E isso era importante, quanto mais não seja, por uma elementar razão de transparência. Atualmente, não sabemos de quem vem o dinheiro.”

Já a diretora do Jornal do Pinhal Novo, Cláudia Aldegalega, para quem “o elo de ligação de proximidade de instituições públicas e privadas reside na imprensa local”, enfatizou que a qualidade do trabalho desenvolvido nos órgãos regionais deve estar numa fasquia mais elevada de forma a dar mais credibilidade ao setor.

A terminar o encontro, Pedro Jerónimo, professor do Instituto Superior Miguel Torga, dedicou a intervenção ao tema “A comunicação digital nos órgãos de comunicação social locais”.

O académico, que se iniciou no mundo profissional como jornalista, destacou que o caminho natural da comunicação social é o das plataformas digitais, alertando, porém, que essa ainda não é uma política seguida pela generalidade dos títulos.

“Num estudo que realizei, com mais de 50 entrevistas, constatei que muitos dos conteúdos digitais publicados pelos jornais regionais resultavam, essencialmente, da ‘carolice’ dos jornalistas e não de uma estratégia definida pela empresa.”

Pedro Jerónimo realçou a importância da imprensa regional, inclusivamente a uma dimensão territorial que ultrapassa a mera localidade dos títulos. “Se a imprensa regional fizesse um ‘apagão’ durante uma semana, acompanhada pela agência Lusa, seria interessante assistir aos conteúdos publicados nos órgãos de comunicação nacional nesse período”, desafiou.

O investigador aponta que boa parte dos conteúdos publicados pelos principais órgãos informativos do país têm origem nos títulos regionais, embora, na maioria das vezes, esse mérito não lhes seja devidamente creditado.

O II Encontro dos Profissionais de Comunicação da Península de Setúbal, moderado pelo assessor de imprensa da Câmara Municipal de Setúbal, Paulo Anjos, e do diretor do Diário da Região, Francisco Rito, foi organizado com os apoios do Instituto Politécnico de Setúbal, do Turismo de Portugal, do jornal “O Setubalense”, com o patrocínio da Coca-Cola European Partners.