Contributos para construção de uma comunidade mais pacífica e fraterna foram partilhados a 13 de fevereiro, ao final da tarde, em encontro realizado no Salão Nobre dos Paços do Concelho, com intervenções de personalidades de vários quadrantes da sociedade.


Na conferência “Vozes pela Paz”, uma iniciativa conjunta da Câmara Municipal de Setúbal e do Conselho Português para a Paz e Cooperação, a presidente da autarquia, Maria das Dores Meira, sublinhou que a construção de uma vivência comum e pacífica é um trabalho contínuo.

“Fazer mais Setúbal implica, em cada momento, em cada rua e em cada esquina, criar as condições para que todos possamos viver pacificamente em comunidade, não esquecendo diferenças, mas sempre, valorizando o que nos une”, afirmou a autarca, ao destacar a inclusão e integração.

Um caminho que, vincou, é feito na “procura permanente da integração, e não da artificial imposição e valorização das diferenças entre homens e mulheres”, na construção de “cidades que respeitam as pessoas” e na “luta por mais justiça social, por mais igualdade e por mais direitos laborais”.

A paz, acrescentou, “constrói-se por antecipação nas cidades com oferta cultural e desportiva de qualidade, com urbanismo sustentável, com segurança e no pleno respeito que exigem os termos da contratualização social em que se baseiam os estados de direito em que vivemos”.

Maria das Dores Meira destacou, ainda, que a paz começa nas cidades, no lugar partilhado enquanto comunidade. “É aí que combatemos, por que é mesmo de um combate de ideias que se trata, o racismo, a xenofobia, ou seja, os lugares ideológicos onde começam todos os fascismos.”

Reforçou ainda que “a paz faz-se nas cidades com a recusa ativa das ideias dos que fazem do medo do outro o principal trunfo político e partidário, seja porque o outro vem de um país diferente, seja porque tem uma pele de cor mais escura ou mais clara, seja porque os seus hábitos ancestrais são diferentes dos nossos”.

O combate ao fascismo não pode ser ignorado. “Não nos podemos calar porque defendemos um futuro melhor para todos, um futuro em que não tenhamos de olhar desconfiados por cima do ombro porque falamos uma língua diferente ou porque, tendo nascido nesta terra, nos dizem para ir para a nossa terra.”

Uma luta que, alertou, também não pode ser silenciada. “Porque não é com o silêncio que conseguiremos combater os novos fascistas e inimigos da paz, os disparates que defendem, a estupidez do que afirmam, o absurdo das ideias que, uma vez mais, muitos deles querem impor violentamente.”

Setúbal, evidenciou a autarca, está fortemente comprometida em defesa da paz, de que é o mais recente exemplo a adesão ao Movimento dos Municípios pela Paz e a “consequente subscrição dos seus princípios e compromissos pela paz”, assim como a realização, a 30 de maio, no Fórum Luísa Todi, do Encontro pela Paz 2020.

Este evento, adiantou, constitui um “contributo para a promoção da sensibilização, da mobilização e da intervenção em defesa da paz e pela rejeição do militarismo, da corrida aos armamentos e da guerra, tendo presentes os princípios constantes na Constituição da República Portuguesa”.

A conferência “Vozes pela Paz” contou com 16 depoimentos de personalidades de vários quadrantes da sociedade, que, em diferentes perspetivas, argumentos e sensibilidades, apresentaram razões uníssonas pelas quais a paz deve ser uma preocupação de todos.

Joaquim Santos, presidente da Câmara Municipal do Seixal e da Rede Portuguesa de Municípios Saudáveis, em representação do Movimento dos Municípios Pela Paz, afirmou que “a paz não é um dado adquirido para nenhuma geração” e, por isso, “os municípios devem ter um papel ativo na sua promoção”.

Acrescentou que o Movimento dos Municípios Pela Paz, do qual “Setúbal é um dos mais proeminentes membros”, está focado na “criação de oportunidades de participação para o fomento de uma cultura de paz partilhada”.

O padre Luís Ferreira, em representação do bispo de Setúbal, partilhou uma reflexão do clérigo na qual defende que “a paz é um bem precioso”. Juntou que, “para promover a paz, é preciso promover o diálogo”.

Anabela Carlos, do Conselho Nacional da União dos Resistentes Antifascistas Portugueses, salientou que “a paz é fruto da união de esforços”. Alertou, contudo, para os perigos do fascismo que, “na roupagem da atualidade, se designa de extrema-direita e de populismo”.

Pedro Dominguinhos, presidente do Instituto Politécnico de Setúbal, ao afirmar que “todos têm responsabilidades para mobilizar os outros na defesa da paz”, destacou o papel do ensino superior enquanto agente promotor de “igualdades de ensino”.

Carolina Saramago, bióloga e cofundadora do movimento Feel4Planet, destacou que a “paz e o ambiente são indissociáveis”. Se, por um lado, o ambiente “é poderoso aliado pela paz”, as alterações climáticas podem “gerar novos conflitos”. Por isso, concluiu, “a busca pela paz também deve ser feita pela proteção ambiental”.

Eugénio da Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa, frisou que a “causa da falta de paz está no acentuar das desigualdades nas mais diversas circunstâncias da vida”. Para reclamar a paz, advertiu, “é preciso reeducar para a partilha” e, para “vencer a indiferença, é fulcral promover a cultura do encontro”.

António Manuel Ribeiro, músico e poeta, realçou que “a paz é sabedoria sem opiniões” e que a mesma “começa em cada um, com pequenos gestos no quotidiano”. Ao recordar versos de canções que escreveu ao longo dos anos UHF, alertou “para o valor e para o significado das palavras”.

Estes foram alguns dos testemunhos partilhados no evento, que contou ainda com intervenções de Mário Moura, presidente honorário da Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral, e de Clara Félix e António Batista, diretores dos apuramentos de escolas de Azeitão e Luísa Todi.

Nuno Soares, presidente da Associação das Coletividades do Concelho de Setúbal, Joana Villaverde, artista plástica, Francisco Rito, diretor do Jornal “O Setubalense/Diário da Região”, Emília Castanheira, da Liga Operária Católica – Movimento de Trabalhadores Cristãos, em Setúbal, Patrícia Teixeira, da Direção da União de Sindicatos de Setúbal da CGTP/Intersindical, e Regina Marques, da Direção Nacional do Movimento Democrático de Mulheres, também intervieram.

Já Ilda Figueiredo, presidente do Conselho Português para a Paz e Cooperação, que encerrou o encontro, sublinhou que, “em Portugal, no povo português, existe um grande sentimento de defesa da paz”.

A conferência, que incluiu um apontamento musical pelo Coro Feminino TuttiEncantus, permitiu, sublinhou esta responsável, a partilha de “contributos que demonstraram a necessidade comum de defender a paz”. E concluiu, com um repto. “Pela Paz, todos não somos de mais.”