“Assumimos uma grande responsabilidade, a de honrar meio milénio de história e a de respeitar e valorizar a nossa memória coletiva depois de 23 anos de encerramento da mais valiosa joia do nosso património local”, vincou a autarca sobre a obra que permitiu a reabertura do edifício.

Maria das Dores Meira destacou que a primeira fase de obras “impediu a ruína irremediável do Convento de Jesus”, com trabalhos centrados na substituição da totalidade da cobertura e a restauração das paredes de pedra e de alvenaria, a par da proteção geral, através da criação de sistemas de drenagem no alçado norte.

“Fizemo-lo num momento em que o Poder Central, no anterior Governo, poderia ter abandonado a candidatura a fundos comunitários já aprovada para a recuperação do monumento. Assumimos responsabilidades que aceitámos que fossem também nossas”, afirmou a edil setubalense.

O Município chamou a si a responsabilidade. “Tal como noutras situações, aceitámos substituir o Poder Central e assumimos a posição contratual do Estado na candidatura e o pagamento da comparticipação nacional de uma obra que, para já, custou mais de três milhões e seiscentos mil euros”, recordou.

A intervenção concretizada, que incluiu o restauro completo da ala poente, para instalação de uma galeria destinada a expor uma parte importante das coleções do Museu de Setúbal, "vedadas ao público há mais de duas décadas", realçou Maria das Dores Meira.

Contudo, a obra está a “meio do caminho”, frisou a autarca, ao reiterar a necessidade de mais intervenções. “Vamos continuar a trabalhar até que [o convento] esteja totalmente reabilitado com o projeto do arquiteto Carrilho da Graça, até que possa ser devolvido, no seu esplendor, a Setúbal, a Portugal”.

Para o restauro total da pérola manuelina são necessários mais seis milhões de euros. “Queremos continuar a assumir a responsabilidade com a partilha do dever que temos, na Câmara Municipal de Setúbal e no Governo da República” e, para isso, afirmou, a Autarquia “está disponível para assumir metade do valor”.

Agora, alertou, “é necessário que o Governo crie condições para que a outra metade possa ser financiada por fundos europeus, sem que, com este financiamento, se prejudiquem outros investimentos municipais apoiados por fundos comunitários na área metropolitana de Lisboa”.

A segunda fase de obras prevê a conclusão da recuperação das alas norte e leste do convento e a reabilitação da estrutura da Igreja de Jesus e da respetiva cobertura, assim como a construção de um edifício de apoio para acomodar funções científicas, técnicas e administrativas do Museu de Setúbal.

A recuperação total do Coro Alto, da estrutura ao teto, bem como da torre sineira é outro dos objetivos programados na segunda fase de intervenções, que inclui a beneficiação da Praça Miguel Bombarda, com a criação de um jardim, e a instalação de um equipamento térmico na totalidade do convento.

Com as intervenções concluídas será possível expor uma seleção dos cinco mil objetos e peças de arte que compõem o Museu de Setúbal, maioritariamente em torno da zona dos claustros.

O secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, salientou que este “foi um trabalho com um desfecho que inspira confiança no futuro” e mostrou-se disponível para “trabalhar em encontrar uma solução adequada a um património que é de Setúbal e da Europa”.

O governante, que elogiou a importância histórica e cultural do Convento de Jesus, enalteceu o trabalho realizado no imóvel, integrado desde 2013 na restrita lista dos sete monumentos europeus mais ameaçados, da Europa Nostra, organismo de defesa do património.

“É um encanto voltar a Setúbal para assistir a este momento”, destacou o vice-presidente da Europa Nostra, José María Ballester. “O restauro deste monumento, mais do que a sua importância histórica, no contexto urbano, tem um efeito agregador na identidade e memória setubalense.”

O bispo de Setúbal, D. Gilberto Canavarro dos Reis, que benzeu a reabertura do património classificado como monumento nacional desde 1910, sublinhou que, com a obra realizada, o Convento de Jesus recebe o esplendor de outros tempos, agora com novas funções para servir a cidade. “Este é um dia grande.”

Uma pequena recriação histórica de dança deu as boas-vindas aos convidados à entrada do restaurado Convento de Jesus, com a presença de elementos do Executivo municipal, e de várias individualidades, como o presidente do Centro Nacional de Cultura, Guilherme d’Oliveira Martins.

No interior do edifício, a zona dos claustros, uma das áreas emblemáticas do imóvel e agora recuperada, foi um dos locais mais apreciados na cerimónia de abertura, que contou com um apontamento musical a cargo da Academia de Música e Belas-Artes Luísa Todi e do Conservatório Regional de Setúbal.

Seguiu-se, depois do descerramento da placa de inauguração e de um período destinado a alocuções, uma visita guiada à exposição patente na nova galeria do Museu de Setúbal/Convento de Jesus, instalada na ala poente do edifício, recuperada num conceito que aproxima o imóvel da conceção original.

A mostra, com cerca de cinco dezenas de peças, numa espécie de roteiro cronológico espaciotemporal entre o final do século XIV e o século XX, inclui, entre outras, a pintura “Bocage e as Musas”, de Fernando Santos, assim como a obra “Calvário – Cristo Crucificado, Nossa Senhora, São João e Santa Madalena”.

Com arte do final da Idade Média, do Renascimento e do Barroco, de artigos de arte sacra a pinturas diversas, de peças em cerâmica e azulejos a esculturas e mobiliário, a visita guiada à nova exposição foi conduzida pelo curador do Museu de Setúbal, Baptista Pereira.

Destaque para o conjunto de Portas de Grade do Coro Alto da Igreja do Convento de Jesus, para um móvel que pertenceu à cantora lírica setubalense Luísa Todi, do final do século XVIII, assim como para várias peças museológicas doadas à cidade pela Fundação Buehler-Brockhaus.

A presidente da Câmara Municipal de Setúbal deixou uma palavra de agradecimento aos vários intervenientes que, ao longo dos últimos anos, contribuíram decisivamente para a concretização da primeira fase de reabilitação do Convento de Jesus.

“Acima de tudo, homenageio os setubalenses que sempre acreditaram que o convento seria recuperado, que lutaram por isso. E agradeço-lhes com emoção por me terem permitido, e aos que me acompanham no Executivo, também aqui fazer mais cidade, mais Setúbal”, salientou.

Maria das Dores Meira indicou que todos os que ocupam transitoriamente lugares de topo nas autarquias e todos os que os acompanham nas vereações vivem da concretização destes sonhos. “De imaginadas cidades, de sonhadas vidas melhores para todos os que a povoam. É o que nos move. Sonhar e fazer uma cidade melhor, uma cidade entendida muito para lá das suas estruturas viárias, edifícios, equipamentos, jardins. Uma cidade justa, de todos e para todos. A reabertura do Convento de Jesus ajuda-nos a realizar um pouco mais dessa cidade sonhada.”

A reabertura do Convento de Jesus culminou com um apontamento musical pelo tenor João Mendonça, momento a que se seguiu um concerto com a participação do violoncelista Pavel Gomziakov, com a interpretação da suite n.º 6 de J. S. Bach, oferecido pela Autarquia à população.