Exmo. Sr. Presidente do Vitória Futebol Clube

Creia, senhor presidente, que é com enorme pesar que lhe escrevemos esta carta. Somos, porém, forçados, a informá-lo de que acabámos de decidir que a Câmara Municipal de Setúbal cessará, a partir desta data, todas as relações com a direção do Vitória Futebol Clube por reiterada e inaceitável quebra da lealdade e da seriedade que é devida nas relações entre instituições e, acima de tudo, entre pessoas.

A Câmara Municipal de Setúbal, perfeitamente consciente da importância do clube e de tudo o que simboliza, assume sem equívocos esta decisão, que não pode mais adiar face a desconsiderações pessoais praticadas pela direção e pelo presidente do VFC sobre responsáveis desta autarquia.

Neste contexto preciso é imperioso afirmar que a Câmara Municipal de Setúbal, tal como no passado, continuará a afirmar-se como parte interessada nas soluções para que o clube mantenha a vitalidade que interessa a todos os setubalenses. Nunca será de mais recordar que, ao longo das últimas décadas, a autarquia tem ajudado o clube com os mais variados apoios, desde os auxílios financeiros permitidos por lei às modalidades, passando pela cedência de terrenos que o Vitória tem sistematicamente alienado para gerar mais capital, até à realização de obras no estádio e noutras instalações de apoio a esta instituição.

A Câmara Municipal de Setúbal teve, desde sempre, total abertura e disponibilidade para ajudar o clube. Desejamos que assim continue a ser, mas num quadro de relações de lealdade recíproca.

Não contribuiremos para que a direção do clube eleja a Câmara Municipal como bode expiatório de todas as incapacidades que tem revelado e muito menos aceitaremos que faça da edilidade a responsável pelos impasses para que o Vitória Futebol Clube se deixou arrastar, por sua exclusiva responsabilidade.

Mantemos total disponibilidade para ajudar, noutro quadro de relacionamento que não o presente, o clube; estamos, porém, impedidos, moral e eticamente, de aceitar que se veja na Câmara Municipal a única boia de salvação de modalidades profissionais, as quais, aliás, somos impedidos, e bem, por lei de apoiar.

Ajudámos na procura de soluções junto das finanças para que o clube se pudesse inscrever nesta época; ajudámos no estabelecimento de relações privilegiadas junto de entidades bancárias; ajudámos financeiramente no apoio às modalidades amadoras no contexto de contratos-programa; ajudámos na cedência de terrenos valiosos; ajudámos com projetos e obras no estádio; ajudámos com a organização da iniciativa Vitória Mais Bonito, na qual oferecemos todas as tintas utilizadas na pintura do estádio; estamos a ajudar com o restauro dos milhares de troféus que estavam expostos na Sala de Troféus do clube e que corriam o risco de se degradar irremediavelmente, perdendo-se, assim, parte importantíssima da história da instituição; ajudámos com a cedência do relvado da pista de atletismo para treinos do futebol profissional e das equipas de râguebi; ajudámos com o apoio técnico do nosso Serviço de Proteção Civil, viabilizando o funcionamento do estádio. Finalmente, estamos a ajudar com um projeto de arquitetura para a requalificação da Sala de Troféus, projeto que foi aprovado por essa direção, e com as correspondentes obras que deveriam avançar logo que possível, assim como temos em fase final a adjudicação do relvado do Campo Municipal da Várzea N.º 2, cumprindo o compromisso que assumimos com o Vitória e a cidade.

Por tudo o que atrás expus, temos dificuldade em entender o comportamento do senhor presidente do Vitória Futebol Clube e da sua direção.

Várias foram as manifestações de deslealdade pessoal e institucional praticada por essa direção e pelo senhor presidente ao longo dos últimos tempos.

A última, a confirmar-se, e que consiste no arranque de obras na Sala de Troféus, aparentemente com base no projeto elaborado pelos serviços municipais, é, para a Câmara Municipal a que presido, absolutamente inaceitável.

A ser verdade que o Vitória está a executar este projeto, de acordo com informações que nos foram transmitidas por vários munícipes vitorianos e por técnicos municipais, estamos perante uma total irresponsabilidade que não podemos aceitar. O projeto tem autor e tem direitos de autor e, por essa razão, deverá o clube suspender de imediato a obra. A decisão de avançar com as obras em curso na Sala de Troféus põe, por outro lado, em causa os procedimentos legais que tínhamos em curso para adjudicar um conjunto de obras em várias instalações do estádio, entre as quais esta sala de troféus, e que vamos suspender de imediato.

A realização destas obras não foi um desejo ou capricho da Câmara Municipal de Setúbal. Foi, isso sim, uma decisão da direção do clube que a autarquia quis apoiar.

Este é apenas mais um exemplo das várias atitudes desleais e irresponsáveis do senhor presidente e da direção do Vitória, que assim põem em causa a reabilitação dos troféus e da sala que os alberga, projeto em que a autarquia investiu, nos últimos dois anos, milhares de horas de trabalho de duas técnicas municipais que têm vindo a fazer o inventário de cerca de quatro mil troféus, além do tratamento de todas as peças em estado de degradação acelerada.

Creia, senhor presidente, que é com mágoa que assumo esta decisão, em particular pelas reações e incompreensões que poderá provocar nos Vitorianos. Porém, o senhor não nos deixou nenhuma alternativa.

O Vitória Futebol Clube estará, para esta Câmara Municipal, sempre acima dos dirigentes momentâneos e dos seus interesses. Para nós, nunca estará em causa a importância e o passado de instituições que tanto honram a história da nossa cidade e do concelho de Setúbal, mas que não podem nem devem ser confundidos com a atual direção e o presidente que dirige os destinos do clube.

 

A Presidente da Câmara Municipal

Maria das Dores Meira

Cravo. 25 de Abril

COMEMORAÇÕES DO 25 DE ABRIL

TRANSMISSÃO EM DIRETO
DA SESSÃO SOLENE DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL

25 de Abril . 10h00 . Fórum Municipal Luísa Todi

Cravo. 25 de Abril