O cenário cada vez mais real de Setúbal se tornar num ponto de destino ou de passagem de rotas de cruzeiros turísticos motivou o contributo de vários representantes dos setores político, portuário, da náutica de recreio e da construção naval.

No encontro realizado no Fórum Municipal Luísa Todi, a presidente da Câmara Municipal, Maria das Dores Meira, destacou o trabalho conjunto da Autarquia com a APSS – Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra, parceria da qual resultou um Programa de Ação Territorial de promoção de projetos comuns e complementares e que contempla duas áreas consideradas fundamentais.

“A primeira prende-se com a urgente necessidade de melhorar a articulação de Setúbal com o Polo Turístico de Troia e com o Litoral Alentejano em matéria de transportes e acessibilidades”, sublinhou a autarca, enaltecendo a convergência, para o efeito, de uma plataforma intermodal de diversos meios de transporte.

A segunda área a receber especial atenção no trabalho cooperativo entre a Câmara Municipal e a APSS, salientou Maria das Dores Meira, foca-se na náutica de recreio e no turismo náutico, “na dupla vertente” de atividades económicas com potencial e de valorização territorial e revitalização da frente ribeirinha.

O franco desenvolvimento turístico registado no concelho, nomeadamente com indicadores de 87 por cento de unidades hoteleiras locais a revelar um “crescimento de 10,5 por cento do número de dormidas no primeiro semestre de 2015”, faz a autarca “equacionar a possibilidade de [Setúbal] acolher um terminal de cruzeiros”.

O presidente da APSS, Vítor Caldeirinha segue na mesma rota e, depois de sublinhar “as muitas sementes lançadas em conjunto com a Câmara Municipal, das quais já se recolheram alguns frutos”, defendeu a importância da execução de “dois projetos âncora” para assegurar a relação plena entre a cidade, o rio Sado e o porto: “Um terminal de pequenos cruzeiros e a marina de Setúbal.”

O administrador adiantou sobre a futura marina que, na ausência de dinheiros públicos para investimentos desta natureza, a administração portuária conta “fazê-lo com capital privado”, acrescentando que o projeto se encontra em “em fase de maturação” e que “estudos mais aprofundados poderão ser efetuados em breve”.

Maria das Dores Meira esclareceu que a presença de cruzeiros em Setúbal não significa “cobiçar a ‘galinha da vizinha’, tendo em atenção o sucesso que Lisboa tem conhecido nesta área”.

A autarca ressalvou que o concelho sadino, presente no Clube das Mais Belas Baías do Mundo, ladeado pelo Parque Natural da Serra da Arrábida e pela Reserva Natural do Estuário do Sado, não quer “concorrer com a capital, mas antes oferecer as riquezas paisagísticas” locais, a que se juntam a proximidade do complexo turístico de Troia e do Litoral Alentejano, assim como a excelência da gastronomia de Setúbal.

Para o administrador dos portos de Setúbal e de Sesimbra “é fundamental apostar em várias valências, não apenas nas cargas, mas também no turismo e no ambiente” e, enalteceu Vítor Caldeirinha, “Setúbal está na moda e por vários motivos. É como um produto gourmet”.

O II Seminário Internacional – As Cidades Portuárias e a Relação Porto-Cidade contou com a presença do secretário de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes.

O governante, que felicitou, na sessão de abertura do encontro, a subida do número de dormidas em Setúbal, “claramente acima da média nacional, que se situa entre os 7 ou 8 por cento”, frisou que o Turismo é uma área muito competitiva “porque funciona com as fronteiras abertas”.

Adolfo Mesquita Nunes sublinhou que só “com criatividade e inovação” é possível singrar num setor tão competitivo e salientou ser fundamental, na atualidade, apostar na promoção e, em particular, na modernização da mesma, a qual deve passar fortemente pelas ferramentas digitais disponíveis.

“Juntamente com o investimento nas potencialidades do mar, há que pensar na qualidade da cidade, numa cidade, por exemplo, que proporcione redes wi-fi gratuitas”, sugeriu o secretário de Estado do Turismo.

O encontro internacional, parte integrante da Semana do Mar, organizada em conjunto pela Câmara Municipal de Setúbal e pela APSS, na qual também se assinala o Dia Mundial do Mar, foi dedicado ao tema “Oportunidades para o turismo em Setúbal: cruzeiros e marítimo-turística”.

O seminário dividiu-se em dois painéis que focaram os subtemas “O mercado dos cruzeiros” e “Oportunidades para o turismo de cruzeiros em Setúbal”.

Fernando Santos, da GlobalSea Travel, por exemplo, destacou que um dos avanços no mercado de cruzeiros nas últimas décadas foi deixar de considerar o cliente como “passageiro’, para passar a ser visto como ‘hóspede”, partilhando, ainda, a análise pessoal de que Setúbal se enquadra “no perfil do utilizador mais experiente, mais refinado, mais conhecedor e não tanto para o ‘mass market”.

A presidente da Administração dos Portos da Região Autónoma da Madeira, Alexandra Mendonça, destacou a igual importância do turismo praticado pelas tripulações, “que gastam na cidade tanto ou mais do que os próprios turistas”.

Com o tempo médio de vida dos navios a rondar os 25 anos, Luís Carvalho, da B&A Europa, alertou para a “forte tendência do aumento de capacidade de passageiros” nas futuras embarcações destinadas a cruzeiros.

Luís Carvalho recordou a importância do mercado de cruzeiros através de alguns factos. “Em média, um passageiro gasta 85 euros num local de destino. Isto é dinheiro que fica na cidade. Os portos retêm muito pouco, cerca de 7 por cento desse valor. Isto representa uma grande oportunidade para as cidades, com os portos de servir de porta de entrada.”

O CEO da B&A Europe, responsável, entre vários outros projetos, pela construção ou modernização de espaços portuários, indicou ser muito importante a existência de uma relação salutar entre as administrações portuárias e urbanas. Nesta matéria, Luís Carvalho confessou estar surpreendido “por ter testemunhado a relação muito boa entre o porto e a cidade [APSS e Câmara Municipal], algo que, efetivamente, não é muito comum pelo mundo fora”.

O trabalho desenvolvido em parceria entre os diferentes agentes de recreação náutica e entidades reguladoras, a importância da variedade de oferta turística e a adequada complementaridade entre serviços turísticos foram outros aspetos aprofundados nas diferentes intervenções realizadas ao longo do encontro.

O II Seminário Internacional – As Cidades Portuárias e a Relação Porto-Cidade contou também com as participações de José Fernando, da Associação Baía de Setúbal, Bruno Ribeiro, da empresa Douro Azul, João Meunier de Mendonça, WaterX, e António Nogueira Leite, presidente do Fórum Oceano – Associação da Economia do Mar.