“As hortas urbanas dotam o município de um espaço comunitário que permite uma forte conexão ecológica, social e económica entre os habitantes de Setúbal e uma atividade agrícola sustentável”, salientou a presidente da Câmara Municipal, Maria das Dores Meira, na cerimónia de entrada em funcionamento.

No ato, assinalado com a assinatura dos acordos de utilização das 74 parcelas de terreno disponíveis, com 30 metros quadrados cada, a autarca destacou a importância da prática da horticultura nas Hortas Urbanas de Setúbal para a satisfação das necessidades da população urbana.

“Estas novas hortas permitem o cultivo de alimentos saudáveis ao ritmo da natureza, acrescentando qualidade ao quotidiano urbano e poupança à economia dos agregados familiares”, reforçou, incentivando os utilizadores a realizar as atividades de horticultura em modo biológico.

A iniciativa, além de estimular a integração e a convivência social entre pessoas com variadas idades, aptidões físicas e heranças culturais e de promover as “práticas ancestrais de trabalho do solo”, vincou, permite o fortalecimento das “relações sociais e a identidade cultural dos munícipes”.

Das 74 parcelas, 54 são destinadas à população em geral, 18 aos trabalhadores da Autarquia e duas a pessoas com mobilidade reduzida, criadas num terreno sobrelevado. Para os menos experientes, a Autarquia disponibiliza apoio técnico, com um funcionário a dissipar algumas dúvidas no cultivo e tratamento das hortas.

Após a assinatura, os utilizadores acorreram aos talhões destinados, num primeiro contacto com o espaço. Nas mãos traziam vasos com plantas de cravos túnicos que servem de repelente a moscas e outros insetos, numa oferta feita pela presidente da Câmara e pelo vereador do Ambiente, Manuel Pisco.

“Já consigo ver isto tudo plantado, cheio de legumes e verduras”, assegurou Luís Neves, reformado de 64 anos, um dos utilizadores das novas Hortas Urbanas de Setúbal, ansioso por pôr os pés na terra. “Para mim isto é um mundo novo, vamos ver como corre.”

A ideia de concorrer a um talhão foi impulsionada pela mulher de Luís Neves. “Para ela é um sonho realizado pois finalmente pode pôr numa horta tudo aquilo que tem na pequena varanda”, explicou, adiantando que ter um espaço para cuidar é também “uma forma saudável de ocupação do tempo no quotidiano”.

Razões diferentes motivaram Sérgio Descalço, 31 anos, a optar por uma horta. O “desafio de ter e cuidar de um espaço de cultivo” e os tempos de crise “adubaram” o propósito do jovem licenciado, atualmente desempregado, que espera “plantar um bocadinho de tudo” na parcela de terreno, sobretudo legumes.

Apesar de não ter grande experiência na arte da agricultura, Sérgio realça que tempo para aprender não falta. “Vai ser uma estreia e é sempre bom adquirir novos conhecimentos”, adiantou, sublinhando a sensação futura de poder degustar os frutos do trabalho. “E também com mais segurança, porque sei a forma como é produzido.”

Já José Minderico, 38 anos, funcionário da Câmara Municipal de Setúbal, revelou que abraçou este desafio sobretudo pelo potencial pedagógico que as hortas urbanas podem ter na educação das crianças, nomeadamente com a prática da agricultura e a aprendizagem de processos de cultivo sustentável.

“É o meu pai que vai cuidar da horta juntamente com os miúdos [a filha e o sobrinho, ambos na casa dos 8 anos] e ensinar a arte do cultivo. É uma espécie de passagem de testemunho, de conhecimentos adquiridos com a prática da agricultura num terreno” da família, esclareceu José Minderico.

Os utilizadores das Hortas Urbanas de Setúbal podem produzir plantas hortícolas para autoconsumo ou recreio, instalar na sua parcela estruturas básicas de apoio e vedações no perímetro do espaço, numa altura até 25 centímetros, tipo sebe viva ou madeira, e usufruir do composto resultante do processo de compostagem.

O equipamento comunitário inclui áreas de utilização comum, como espaços para o armazenamento de ferramentas, uma unidade de compostagem para restos vegetais e instalações sanitárias, e zonas de circulação para os utilizadores, que devem estar sempre desimpedidas e em bom estado de conservação.

“Localizadas numa zona de fronteira entre o urbano atual e antigas quintas rurais do passado, o seu cariz comunitário está bem definido nas opções de partilha das instalações de apoio, das ferramentas e da água, bem como na responsabilidade conjunta na manutenção e conservação dos espaços comuns”, realçou a presidente da Câmara Municipal de Setúbal.

A utilização das áreas de cultivo, efetivada em contratos quadrienais, implica o pagamento mensal de 7,5 euros para compensação parcial dos encargos de funcionamento das hortas e de fornecimento de água, montante que pode ser atualizado anualmente ou na sequência de alteração anormal das circunstâncias.

“Este é um projeto inovador na nossa cidade e que queremos que continue a crescer para que mais e mais setubalenses possam ter acesso a estes espaços”, salientou Maria das Dores Meira, anunciando a intenção de, no próximo ano, alargar as hortas urbanas comunitárias ao território de Azeitão.

As instalações das Hortas Urbanas de Setúbal funcionam de segunda-feira a domingo, das 07h00 às 21h00 no período de verão, compreendido entre 1 de abril e 30 de setembro, e das 08h00 às 19h00 na época de inverno, de 1 de outubro a 31 de março, podendo os horários ser ajustados às necessidades dos utilizadores.