A sala esgotada contava viajar com as histórias de Tó Trips e Pedro Gonçalves e foi exatamente isso que aconteceu durante o espetáculo em que, através de guitarras, violas, violoncelo e teclas, como que se levantou voo em direção a aventuras marialvas por ruas e becos do Cais do Sodré e até ao deserto do México.

O próprio palco transportava permanentemente para outro local que não fosse o Fórum Luísa Todi, decorado com um santuário a lembrar a veneração à Santa Muerte, crença com contornos religiosos, popular no México e nos Estados Unidos e frequentemente associada à atividade criminosa naqueles países. Tudo em harmonia com a imagem das “personagens” Dead Combo, que sugerem as figuras de um cangalheiro e um gangster.

Ao longo da noite Tó Trips foi apresentando as músicas, num alinhamento sabiamente gerido entre temas do novo álbum “A Bunch of Meninos” e de projetos mais antigos, como “Lusitânia Playboys” e “Vol. II – Quando a Alma não é pequena”.

De poucas palavras, a dupla conseguiu ainda assim fazer rir a plateia por várias vezes, ao contar as estórias por trás de algumas músicas, como a dos músicos de jazz que resolveram “beber uns copos no Cais do Sodré e acabaram a noite por levar umas chapadas”, enredo que deu origem a “Lusitânia Playboys”.

Também se ouviram palmas para outros “argumentos” musicais, com preocupações mais sociais e reais, como o de “Malibu Fair”, que relembra a Tó Trips “os tempos de puto, em que havia uma coisa chamada Feira Popular”, em Lisboa, e que fechou “porque aparentemente a malta vivia acima das possibilidades”. Ao músico “pelo menos não roubam as memórias”.

O suor a escorrer pelas faces da dupla não serviu de desculpa para evitar os vários encores que se seguiram no final do concerto e a ovação em pé sob a qual os Dead Combo abandonaram a principal sala de espetáculos de Setúbal.