“Desassoreamento da Arrábida – Causas e soluções” foi o título do encontro, organizado pelo Clube da Arrábida e o Parque Natural da Arrábida, com o apoio da Câmara Municipal, com o objetivo de juntar técnicos de diferentes áreas científicas para promover o debate e a troca de impressões sobre o fenómeno que se regista com mais intensidade nos últimos anos.

“Não é fácil o equilíbrio entre o usufruto do património natural e a sua preservação”, constatou o vereador do Ambiente, Manuel Pisco, acrescentando que “o que está a acontecer no Portinho da Arrábida é bastante lamentável. Muitas vezes este tipo de situações surge pela mão do homem, outras, nem tanto. Neste caso pode ser pelos dois motivos. Mas é isso que se está a tentar perceber com este colóquio”.

As conclusões do encontro, que encheu por completo o auditório da Casa da Baía, traçam todavia um futuro incerto para a costa da serra candidata a património mundial, uma vez que as várias intervenções realizadas apontam uma miríade de possíveis causas do problema, sendo consensual a necessidade de estudos que suportem a origem do desassoreamento, para, depois, as entidades responsáveis poderem atuar em conformidade.

Emanuel Gonçalves, biólogo e professor do Instituto Superior de Psicologia Aplicada, sublinhou o desaparecimento da pradaria marinha da costa da Arrábida, ecossistema que chegou a ter 25 hectares de área.

A proteção contra a erosão costeira e a diminuição da força das correntes são apenas alguns dos efeitos gerados pelas pradarias marinhas. Emanuel Gonçalves alertou, porém, que “é importante perceber que muitas das alterações na biodiversidade se devem a mudanças climáticas e não necessariamente à intervenção do homem”.

A extrema complexidade das correntes geradas no delta vazante do rio Sado, para lá da fronteira da Península de Troia, na entrada no oceano, “embora não seja fundamental, é certamente muito importante para se perceber o desenvolvimento da área”, salientou Pedro Brito, do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG).

No delta, composto por areias, a circulação das correntes “é mais difusa a norte [zona do Portinho da Arrábida], não sendo circular como na restante área do delta”, constatou Pedro Brito.

O técnico do LNEG realçou, igualmente, que a capacidade da costa da Arrábida em receber sedimentos, fenómeno conhecido por “espaço de acomodação”, está “em claro decréscimo”, além de que o canal principal da foz do Sado “já foi claramente maior”, ou seja, mais profundo e com maior fluxo de água.

Já Ernesto Carneiro, da Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APPS), salientou “o contributo significativo das areias oriundas do Estuário do Sado”, que fazem um percurso de montante para jusante.

Outro fenómeno realçado pelo engenheiro da APSS foi o aumento do areal na Praia da Figueirinha desde a construção do esporão, em 1971. “Nota-se a influência na distribuição da areia após esta intervenção artificial.”

Noutra locução, Paula Freire, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, descreveu alguns estudos e intervenções desenvolvidos pela instituição em situações análogas à da Arrábida no estrangeiro.

Várias foram as soluções avançadas durante o colóquio, quer nas intervenções dos oradores, quer pelo público.

A alimentação artificial com areia das praias e a construção de barreiras marítimas, para quebrar a força da ondulação, outra possível causa do problema, foram algumas das propostas apresentadas.

A efemeridade da eficácia destas intervenções, os elevados custos associados às propostas, os eventuais impactes ambientais e a conjuntura nacional na atualidade, em que a palavra “troika” surgiu por diversas vezes, foram dificuldades levantadas pelos participantes e que ficaram sem resposta imediata.

Sofia Castel-Branco, do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB), que sublinhou a pertinência da iniciativa, “numa importante aproximação da sociedade civil”, salientou que os contributos ouvidos no colóquio “têm de ser partilhados de maneira a se congregar as muitas visões existentes”.

Pedro Vieira, presidente do Clube da Arrábida, preocupado com “a dramática perda de areia, não só no Portinho, mas em toda a costa da serra”, enalteceu o envolvimento e a preocupação demonstrados no colóquio pela Autarquia, pelo ICNB e pela APSS.