“Dá sentido à obra de um grande homem, que também foi cidadão de Setúbal”, exaltou o vereador da Cultura na Câmara Municipal de Setúbal, Pedro Pina, na abertura da mostra intitulada “Mas Quem Vencer Esta Meta, Que Diga Se A Linha É Recta”, composta por ampliações fotográficas das capas e de pormenores gráficos dos discos.

De “Baladas e Canções”, de 1964, a “Galinhas de Mato”, de 1985, todas as capas originais dos discos de Zeca Afonso estão reunidas na exposição organizada pela Câmara Municipal de Setúbal e pelo atelier DDLX, que dá a conhecer, além da parte estética e de design, informações sobre os intervenientes na elaboração de cada um dos álbuns.

A criatividade de Zeca e dos designers José Santa-Bárbara, Alberto Lopes, João de Azevedo e José Brandão ganha renovado sentido nesta exposição, inserida no programa das comemorações locais dos 43 anos do 25 de Abril e que assinala, em simultâneo, os trinta anos da morte de uma das maiores personalidades contemporâneas portuguesas.

Para o autarca, mais do que “destacar o lado estético associado a cada um dos discos”, a mostra “dá sentido a um outro lado, que é a interpretação que cada um dos artistas faz das sonoridades de cada álbum de José Afonso”.

Pedro Pina frisou ainda que trazer a iniciativa à Casa da Cultura, um espaço onde funcionou o Círculo Cultural, frequentado e marcado por Zeca, “é especial”. Acrescentou, ainda, a importância da mostra “tanto na divulgação, sobretudo junto das novas gerações, da obra do cantautor, quanto na recordação de uma figura ímpar cujo trabalho continua bem atual”.

A exposição, que tenta seguir uma linha temporal por ordem de edição, do primeiro ao último álbum, está dividida por artistas, ou seja, associa cada uma das capas dos discos a um designer. João de Azevedo e José Brandão assinaram, individualmente, um trabalho, Alberto Lopes, dois e José Santa-Bárbara, nove.

“Trabalhar com José Afonso era fácil, até porque ele achava que nós [designers] fazíamos aquilo que ele queria. Nunca tive nenhuma discussão criativa com ele”, recordou Alberto Lopes, presente na inauguração, artista que assinou dois trabalhos gráficos, “Fura Fura”, de 1979, e “Galinhas do Mato, 1985.

O autor falou sobre a conceção gráfica de “Galinhas de Mato”, o último disco de originais de José Afonso. “É inspirada numa matéria selvagem que trabalhava na época”, adiantou. “Estávamos todos diferentes e malucos com o mundo. Zeca andava muito menos acelerado e mais filosófico.”

Joana Afonso, filha de Zeca, também marcou presença na abertura da mostra e mostrou-se emocionada ao revistar esta vertente do trabalho do pai. “Era um homem criterioso e sempre com algo a dizer. É uma excelente iniciativa, que destaca a relação do meu pai com os artistas com quem trabalhou.”

Os quatro designers que trabalharam com José Afonso na conceção estética dos álbuns marcam presença num encontro com o público, de participação gratuita, a realizar a 21 de abril, pelas 22h00, na Sala José Afonso da Casa da Cultura, em que partilham momentos e histórias em torno da elaboração das capas.

“Não era normal nos anos 70 haver capas destas”, destacou José Teófilo Duarte, do atelier DDLX, na abertura da mostra, a qual “aborda a estética visual” de José Afonso, um homem que “convocou os melhores para com ele trabalharem e os mais jovens, os que estavam disponíveis para experimentar”.

Roberto Santadreu, autor de fotografias para os álbuns, também participa na sessão de dia 21, do ciclo Muito Cá de Casa, desenvolvido pela Câmara Municipal de Setúbal em parceria com a DDLX.

A exposição “Mas Quem Vencer Esta Meta, Que Diga Se A Linha É Recta”, título correspondente a um verso da música “De não saber o que me espera”, do disco “Fura Fura”, pode ser visitada até 28 de maio, de terça a quinta-feira das 10h00 às 24h00, sexta e sábado das 10h00 à 01h00 e domingo das 10h00 às 20h00.