Na abertura dos trabalhos do I Encontro (des)EquilibradaMente – Reflexões… Uma Intervenção Comunitária em Saúde Mental, promovido pelo GAAISSS – Grupo de Análise, Avaliação e Intervenção em Situações Sociais e de Saúde, com o apoio da Câmara Municipal de Setúbal, foi sublinhada a necessidade de respostas urgentes no concelho na área da saúde mental.

“Não existem no concelho respostas suficientes de acolhimento ou apoio residencial para pessoas com doença mental, bem como um serviço de apoio domiciliário específico. As estruturas de saúde mental não estão a acompanhar todas as necessidades da comunidade”, afirmou o vereador com o pelouro da Inclusão Social na autarquia, Pedro Pina.

O autarca indicou que algumas das respostas necessárias até estão legalmente previstas, como é o caso das unidades de cuidados continuados integrados de saúde mental, “uma resposta que em Setúbal ainda não saiu do papel”.

No que diz respeito ao papel da Câmara Municipal de Setúbal, referiu que, apesar de ter “um olhar integrado”, tal “não basta para resolver as situações extremas de exclusão e para promover o bem-estar de todos”, mas constitui “um passo significativo nas responsabilidades públicas”.

Estas necessidades tornam-se mais prementes tendo em conta que, segundo o autarca, em Setúbal “têm aumentado as situações referenciadas de pessoas mentalmente desequilibradas sem o devido cuidado e acompanhamento técnico”.

Em causa estão casos complexos que se referem a “situações de duplo diagnóstico de saúde mental e de dependências, e situações de pessoas isoladas sem qualquer suporte familiar”, que, sem respostas de valências específicas, ficam mais vulneráveis.

“É necessária uma ação interinstitucional eficaz e o assumir efetivo das responsabilidades de todos e de cada um.”

Já a diretora do Centro Distrital de Segurança Social de Setúbal, Natividade Coelho, sublinhou, igualmente na abertura no encontro de reflexão sobre a intervenção comunitária em saúde mental, a carência de respostas em todo o distrito de Setúbal, onde “apenas existem duas unidades de vida protegida, uma unidade de vida autónoma e três fóruns socio-ocupacionais”.

Para a responsável, este é um nível de resposta “muitíssimo aquém das necessidades” de um distrito como Setúbal, que também não tem, para já, prevista a implementação de nenhuma unidade de cuidados continuados.

Natividade Coelho revelou ainda que, a pedido do organismo que dirige, o Instituto Politécnico de Setúbal está a elaborar um estudo/diagnóstico da área da saúde mental no distrito que “poderá constituir um instrumento importante para o planeamento de respostas”.

Tendo em conta as carências nesta matéria, o Centro Hospitalar de Setúbal vai apostar no Programa de Saúde Mental Assertivo, que aguarda resposta a uma candidatura a fundos comunitários, com o objetivo de “fornecer cuidados de saúde a doentes psicóticos graves em casa”, revelou o diretor do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental, António Gamito.

O Encontro (des)EquilibradaMente – Reflexões… Uma Intervenção Comunitária em Saúde Mental é a primeira iniciativa do género organizada pelo GAAISSS – Grupo de Análise, Avaliação e Intervenção em Situações Sociais e de Saúde, a trabalhar desde 2009, constituído por profissionais do Agrupamento de Centros de Saúde da Arrábida, da Câmara Municipal de Setúbal, do Centro Distrital de Segurança Social de Setúbal, do Centro Hospitalar de Setúbal e da Polícia de Segurança Pública.

A experiência acumulada do grupo evidenciou a necessidade de partilhar o trabalho que desenvolve e de criar um momento para dar voz aos serviços envolvidos e partilhar experiências que “possam contribuir para uma maior capacidade de intervenção e eficácia”, sublinhou o vereador Pedro Pina.

O encontro, dirigido a profissionais da área da saúde e das ciências sociais, da justiça e das forças de segurança do distrito de Setúbal, bem como ao público em geral, incluiu de manhã uma conferência conduzida pela psicóloga Maria João Vargas Moniz, da Federação Nacional de Reabilitação de Doentes Mentais, sobre os “Desafios da Integração Comunitária na Área da Saúde Mental”.

Seguiu-se uma intervenção do GAAISSS, com a presença de Isabel Miranda, do Departamento de Psicologia do Centro Hospitalar de Setúbal, Catarina Amaro, da Unidade de Recursos Assistenciais Partilhados do Agrupamento de Centros de Saúde da Arrábida, e de Telma Casimiro e Maria Fernanda Nogueira, da Divisão de Inclusão Social da Câmara Municipal de Setúbal.

O encontro incluiu ainda o Painel 1 – Portas Giratórias, com a contribuição de Patrícia Santos, da Autoridade de Saúde/Saúde Pública, de Maria João Freire, do Departamento de Psicologia do Centro Hospitalar de Setúbal, e de elementos do policiamento de proximidade da PSP. A moderação está a cargo de Alexandre Freire, da Divisão de Higiene Urbana da Câmara Municipal de Setúbal.

À tarde, a mesa de trabalho retoma às 14h30, para o Painel 2 – Encruzilhadas, com moderação de Ana Bordeira Ferreira, da Rede Europeia Anti-Pobreza. Intervêm Pedro Serra, em representação do Ministério Público, Margarida Santos, do Centro Distrital de Segurança Social de Setúbal, o psiquiatra forense Fernando Vieira e Manuel Lopes, da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados.

Após a pausa da tarde, os trabalhos recomeçam às 15h45 com o Painel 3 – Pontes, com abordagens de Gabriela Marques, da Associação de Saúde Mental Dr. Fernando Ilharco, Fernanda Pina de Abreu, da Associação de Familiares e Amigos para a Autonomia Pró-Saúde Mental, Luís Sá Fernandes, da Associação para o Estudo e Integração Psicossocial, e Joaquina Castelão, da FamiliarMente – Federação Nacional das Famílias na Área da Saúde Mental. A moderar as intervenções dos especialistas está Natividade Coelho, do Centro Distrital de Setúbal da Segurança Social.

O encerramento do I Encontro (des)EquilibradaMente – Reflexões… Uma Intervenção Comunitária em Saúde Mental está previsto para as 16h45.