Portugal Mobi Summit | Automative Sessions | Helena Silva

Os desafios que se colocam à descarbonização da economia, sobretudo na indústria automóvel, para uma nova mobilidade inteligente, estiveram em análise no dia 18, em conferência dinamizada no âmbito do Portugal Mobi Summit, no Fórum Municipal Luísa Todi.


“Automotive Sessions” é o tema da segunda sessão de aquecimento do Portugal Mobi Summit, evento de dimensão nacional ligado à mobilidade urbana e que, na iniciativa a decorrer em Setúbal, é organizado pelo Global Media Group e a EDP, em parceria com a Via Verde, a Fidelidade e o CEiiA e o apoio da Volkswagen e da Câmara Municipal de Setúbal.

“Está a crescer lentamente uma nova relação com o automóvel e a mobilidade. Trazemos a Setúbal um conjunto de decisores e investigadores que nos vão ajudar a compreender os caminhos desta mudança”, explicou o administrador executivo do Global Media Group, Afonso Camões, na sessão de boas-vindas do encontro.

Um dos contributos para esta análise foi dado pela presidente do município setubalense, Maria das Dores Meira, que destacou a estratégia de mobilidade sustentável desenvolvida pela autarquia, com a realização de um conjunto de investimentos nos últimos anos e a elaboração do Plano de Mobilidade Sustentável e Transportes de Setúbal.

Maria das Dores Meira sublinhou que o município desenvolveu, nos últimos anos, “as condições de circulação da rede viária”, com medidas que “facilitam a vida a todos os que têm de circular de automóvel na cidade”, mas também de incremento da fruição do espaço público para quem anda a pé.

“Contribuímos decisivamente para a transformação de hábitos e para um melhor espaço público, mas também, e isto é muito importante, para um melhor ambiente. As medidas introduzidas na nossa rede viária provocaram reduções de emissões poluentes já comprovadas.”

No âmbito da revisão do Plano Diretor Municipal de Setúbal, a autarquia desenvolveu, entre outros estudos setoriais, o Plano Diretor de Transportes, no qual é diagnosticada a situação atual do sistema de transportes concelhio e, em paralelo, são apresentadas propostas para desenvolvimento do sistema.

“Se aqui chegámos é porque temos a ideia de que os instrumentos de gestão da mobilidade são elementos essenciais do desenvolvimento urbano”, frisou Maria das Dores Meira.

Neste contexto, nasceu a decisão de elaborar o Plano de Mobilidade Sustentável e Transportes, financiado, em parte, por fundos provenientes de uma candidatura ao Fundo de Eficiência Energética – Eixo Mobilidade Sustentável.

O objetivo principal do plano é a “melhoria da integração da circulação e dos transportes com outros instrumentos de ordenamento do território, ambientais ou outros”.

A definição e garantia dos níveis adequados de acessibilidade e mobilidade a todos os cidadãos, o fomento dos transportes coletivos através da melhoria da qualidade do serviço e o reforço da segurança, conforto e qualidade dos espaços prioritários ao peão e aos modos de transporte não motorizados são outros objetivos definidos para o concelho de Setúbal.

Trata-se de um “plano ambicioso” que visa, igualmente, a definição de uma política de gestão de estacionamento eficiente, a melhoria da eficiência e eficácia do custo do transporte de pessoas e bens e a garantia da sustentabilidade económica da oferta.

Reformulação de ruas, passeios maiores e a criação de percursos pedonais, como o que está a ser concretizado em diferentes zonas da cidade entre a Várzea e a frente de rio, são exemplos de ações já implementadas no âmbito da estratégia de mobilidade sustentável para o concelho.

Maria das Dores Meira destacou, igualmente, o programa Arrábida Sem Carros, que incide nas estradas de acesso às praias da Serra da Arrábida e que “devolveu a segurança àquela área em época balnear, enquanto estimulou mais intensa utilização de transportes públicos, com benefícios ambientais e de tranquilidade”.

O chefe da Divisão de Mobilidade e Transportes da autarquia, José Miguel Madeira, que apresentou o Plano de Mobilidade Sustentável e Transportes em detalhe durante a tarde, sublinhou outros projetos fundamentais para a melhoria da mobilidade no concelho, de que é exemplo o futuro Terminal Interface de Setúbal, na Praça do Brasil.

O investimento, superior a quatro milhões de euros, visa “congregar os modos rodoviário e ferroviário no mesmo local, de modo a incentivar o uso do transporte público”.

José Miguel Madeira destacou, igualmente, as novas soluções de estacionamento previstas para o subsolo da cidade, com a construção de três parques subterrâneos que vão libertar espaço público à superfície. “Estamos a trabalhar para uma mudança no paradigma da mobilidade para que seja, de facto, uma mobilidade para todos.”

O Portugal Mobi Summit incluiu ainda, na parte da manhã, uma reflexão sobre os carros do futuro, em particular conceitos que lhe estão inerentes, como modelos de negócio e a política de partilha, pela administradora do CEiiA – Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto e Serviço, Helena Silva.

“O CEiiA está a trabalhar no desenvolvimento de novos modelos de mobilidade no futuro que incluem o desenvolvimento de um veículo de mobilidade sustentável, a partir de um modelo de partilha”, revelou a responsável.

O objetivo do CEiiA é trazer para Portugal este projeto que resulta do upgrade tecnológico de um veículo elétrico desenvolvido para a Noruega, cuja utilização “será enquadrada no âmbito de uma plataforma de gestão com uma rede de utilizadores”.

Já o diretor geral da Volkswagen Portugal, Licínio Almeida, defendeu que “o setor automóvel tem sido demonizado em termos de impactes ambientais”, já que, acrescenta, “os automóveis não são responsáveis por mais de 12 a 14 por cento das emissões de CO2.

Ainda assim, garante que a empresa está a preparar-se para responder aos desafios da descarbonização e tem como ambição até 2013 que “40 por cento das viaturas vendidas sejam totalmente elétricas, ou seja, com emissões zero”.

Segundo o responsável, a Volkswagen tem atualmente em construção, em vários países, dez fábricas destinadas apenas à produção de veículos elétricos, com “o objetivo último de o grupo ficar com pegada zero até 2050”.

Tendo em conta esta evolução do setor automóvel, o administrador da EDP Comercial, António Coutinho, afirma que o setor elétrico tem de “conseguir dar resposta com energia verde para fornecer os veículos e com capacidade de carregamento dos mesmos”.

Para António Coutinho, o setor elétrico é uma peça fundamental na descarbonização da economia, mas, alerta, “a redução de emissões é um processo que toca a todos e ninguém pode ficar de fora”.

O responsável entende que “um dos principais desafios é a alteração de comportamentos” e que “ao Estado cabe a regulação, a qual deve ser menos prescritiva e mais numa lógica de princípios e metas, de forma a dar espaço ao mercado para encontrar caminhos de desenvolvimento”.

Também Frederico Custódio, da CEiiA, considera fundamental uma alteração de comportamentos, para o qual “o papel das cidades é crucial. Têm de ser feitos investimentos com base em estratégias locais muito bem definidas, com o objetivo de tornar as cidades autossustentáveis e com edifícios autossuficientes do ponto de vista energético.”

O período da manhã contou ainda com o painel de debate “Autónomo, partilhado, conectado. O que iremos conduzir em 2040?”, com a participação da administradora do CEiiA, Helena Silva, do administrador da Moldt, Nuno Silva, do diretor-geral da Kathrein Automotive, Miguel Pinto, e do administrador da GEP – Gestão de Peritagens, Bruno Militão.

A “Automotive Sessions” retomou da parte da tarde com o coordenador do Diário de Notícias Insider e jornalista do Dinheiro Vivo João Tomé a entrevistar em palco o diretor do Departamento de Micro e Nanofabricação do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia, João Gaspar.

Além da intervenção do chefe da Divisão de Mobilidade e Transportes da Câmara Municipal de Setúbal, houve ainda uma apresentação pelo CEO da Daimler Trucks & Buses Tech & Data Hub, Chris Lessing.

O encontro prosseguiu com o workshop “Políticas públicas de mobilidade na UE – O motor a combustão morreu?”, com o secretário-geral da Associação Comércio Automóvel de Portugal, Hélder Pedro, o diretor-geral da Leaseplan, António Oliveira Martins, e o docente do Instituto Superior Técnico António Luís Moreira.

A sessão de encerramento da conferência que reflete sobre o futuro da indústria automóvel e a nova mobilidade inteligente ficou a cargo do ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes.

A conferência “Automotive Sessions” em Setúbal é a segunda de um ciclo de três warm up sessions do Portugal Mobi Summit 2019. Antes, a 4 de junho, Ovar recebeu o encontro “Smart Cities” e, em setembro, no dia 19, Faro acolhe a conferência “Road Safety”.

O Portugal Mobi Summit 2019 culmina em outubro, nos dias 24 e 25, com a Nova School of Business & Economics, em Carcavelos, a receber a cimeira, com sessões plenárias, workshops e experiências de novas soluções de mobilidade urbana.