“As estruturas de saúde mental não estão a acompanhar as necessidades reais das comunidades”, afirmou o vereador com o pelouro da Inclusão Social na Câmara Municipal de Setúbal, Pedro Pina, na abertura do seminário “Vamos Falar da Intervenção Social na Saúde Mental”.

No evento, organizado pelo Instituto da Segurança Social, com o apoio da Autarquia, entre outras entidades, o autarca sublinhou que a “doença mental é, atualmente, a principal causa de incapacidade”. Por isso, reforçou, a articulação entre entidades e os recursos disponíveis para a intervenção social são fundamentais e carecem de investimento público”.

A escassez de recursos e o desdobramento de meios são consequências do desinvestimento, “que dificultam, diariamente, a intervenção técnica de saúde e social necessárias e imprescindíveis para uma intervenção social adequada em casos de doentes mentais”, vincou.

O vereador realçou que “muitas das necessidades estão diagnosticadas e algumas das possíveis respostas estão legalmente previstas”. Contudo, afirmou, “não existe vontade e recursos económicos para as implementar”, dando como exemplo os Cuidados Continuados Integrados de Saúde Mental, “resposta que ainda não saiu do papel”.    

Pedro Pina, ao adiantar que em Setúbal “são referenciadas cada vez mais pessoas com desequilíbrio emocional ou com problemas psicológicos sem o necessário e adequado acompanhamento”, alertou que a diminuição de apoios e recursos humanos “deixa ainda mais vulneráveis doentes e famílias”.

O vereador indicou que os casos mais preocupantes referem-se “a situações de duplo diagnóstico e dependências e a situações de pessoas isoladas sem qualquer rede de suporte familiar, com os fatores económicos e as situações de desemprego a serem potenciadores de desequilíbrios.”

Nesta área de intervenção, Pedro Pina destacou a importância do trabalho dinamizado pelo Município “na prevenção, deteção precoce e acompanhamento, de forma articulada, deste tipo de problemas”, e avançou que a Autarquia está “sempre ao dispor da comunidade, para trabalhar com todos e para todos”.  

A importância do trabalho em parceria foi igualmente destacada pela presidente do Instituto da Segurança Social, Ana Clara Birrento. “É essencial para encontrar respostas mais adequadas no âmbito da intervenção social em caso de doenças mentais.”

Aquela responsável realçou que o “trabalho em parceria, fundamental para a concertação de esforços em torno de uma causa comum” e reforçou que para procura de “respostas mais adequadas” nesta matéria é “fundamental ter um conhecimento muito aprofundado do território”.

A sessão de abertura contou ainda com uma intervenção de Ana Cunha, em representação do Núcleo Local de Inserção Social de Alcochete. “Este é um tema pertinente, refletido num encontro que procura contribuir para colmatar dificuldades necessidades levantadas por profissionais da saúde e intervenção.”

“Enquadramento da Saúde Mental e Implicações na Inserção Social do Indivíduo com Doença Mental” centrou atenções no primeiro painel temático do encontro, integrado num ciclo de seminários que prossegue a 7 de outubro, numa iniciativa subordinada à violência doméstica.

A presidente do conselho técnico-científico da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal, Lucília Nunes, afirmou que a promoção da saúde mental deve ser encarada como uma necessidade global das atuais sociedades e defendeu “uma intervenção mais próxima, em contexto comunitário”.

Na comunicação, a docente e investigadora vincou que a “saúde mental é inseparável da saúde”. Para otimizar o trabalho nesta área, vincou que é necessário “aumentar a literacia em saúde mental”, bem como “combater o estigma e a exclusão” normalmente associados às doenças.

O diretor clínico do departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital Garcia de Orta, Luiz Cortez Pinto, no âmbito da caracterização e das valências prestadas pelo serviço que dirige naquela unidade hospitalar, alertou para a falta de profissionais nesta área de intervenção.

“Devia haver o triplo dos atuais profissionais atualmente existentes”, defendeu Luiz Cortez Pinto, numa alusão ao rácio do número de doentes por médicos/técnicos de saúde mental e de intervenção social. Acrescentou, também, que, mais do que “o bem-estar mental, é crucial uma integração social”.

Já Luísa Saramago, técnica do Centro de Emprego e Formação Profissional de Setúbal, apresentou um conjunto de medidas e ações dinamizadas pela entidade para a integração de pessoas com deficiências ou mentalmente incapacitadas, como formações, cursos e estímulos à empregabilidade.

O seminário continuou com o painel “Estratégias no Relacionamento com a Pessoa Doente Mental”, no qual participaram Rui Coelho e Lima Ventura, do Centro Distrital de Segurança Social de Setúbal, Fernanda Abreu, da Associação “Espaço Integrar”, João Costa, da Persona – Associação para a Promoção da Saúde Mental do Barreiro, e Fernanda Pires, da Associação de Saúde Mental do Algarve.

No período da tarde, o encontro com conclusão às 17h30, refletiu sobre “Definição de Papéis na Intervenção”, com apresentações de Vera Charneca e Sílvia Lopes, do Centro Distrital de Segurança Social de Setúbal, e de Isabel Miranda, do Departamento de Psiquiatria do Hospital de São Bernardo.

Antes da sessão de encerramento, os participantes debateram ainda sobre “Intervenção Comunitária, Recursos e Boas Práticas”, temática com intervenções de Eleonora Gonçalves, do Grupo de Intervenção e Reabilitação Ativa de Almada, de Rita Pires, do Hospital Professor Doutor Fernando da Fonseca, e de Gabriela Marques, da Associação de Saúde Mental Doutor Fernando Ilharco.