No encontro, Manuel Augusto Araújo, assessor de Cultura na Câmara Municipal de Setúbal, refletiu sobre como poderia ser diferente o ciclo produzido pelo artista-gravador português caso ele não tivesse optado pela interpretação do “Winterreise” feita pelo barítono Dieter Fisher-Dieskau com o pianista Jorg Demus.

Para tal, além desta interpretação de “A Viagem de Inverno”, foram ouvidas uma da dupla Peter Scheier/Sviatoslav Richter, outra de Hans Hotter/Gerald Moore e uma terceira de Matthias Goerne/Alfred Brendel.

O conferencista falou sobre as características particulares desta peça musical, que reflete a enorme angústia sentida pelo compositor austríaco sobre a morte que se aproximava, o que viria a acontecer um ano depois.

Além de uma comparação entre as diferentes interpretações, “das mais negras às mais luminosas”, Manuel Augusto Araújo fez uma ligação entre a obra musical e as gravuras que Bartolomeu Cid dos Santos produziu, em 1985, para ilustrar cada um dos 24 lieder que formam a peça romântica de Schubert.

As gravuras do português Bartolomeu Cid dos Santos, sublinhou o conferencista, ajudam a compreender melhor a composição de Schubert, que retrata a amargura de um indivíduo através da caminhada solitária por paisagens desoladas, sombrias e geladas, desprovidas de esperança.

O ciclo de gravuras, concebido através das técnicas de água-forte e água-tinta, encontra-se exposto na Casa da Cultura, até 10 de dezembro, o que sucede apenas pela segunda vez em Portugal, depois de ter sido mostrado em Tavira no ano em que o autor o produziu, há quase três décadas.

A sessão de dia 23 incluiu ainda a projeção do filme “Bartolomeu Cid dos Santos – Por Terras Devastadas”, de Jorge Silva Melo, sobre a vida daquele que é reconhecido como um dos maiores artistas-gravadores do século XX.