Do ensino à formação, do jornalismo às assessorias e às agências, o papel da comunicação saiu reforçado no 1.º Encontro de Profissionais de Comunicação da Península de Setúbal e do Litoral Alentejano, que, no período da tarde, incluiu um conjunto de intervenções sobre diferentes formas de comunicar.

Marta Alves e Ricardo Nunes, docentes na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal, partilharam com o público aspetos da evolução do ensino e formação jornalística, com o primeiro curso a surgir em 1979, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Na apresentação “O ensino e a formação na área do jornalismo em Portugal”, além do enquadramento histórico sobre esta matéria, os docentes realçaram aspetos diferenciadores da licenciatura em Comunicação Social da Escola Superior de Educação, em particular os momentos de estágio.

“O estágio é condição imprescindível à formação. É um ensaio na vida”, destacou o Ricardo Nunes.

Acrescentou que o estágio, que na licenciatura disponível naquela escola de Setúbal conta com vários momentos, “é uma experiência que deve ser gratificante para ambas as partes, alunos e entidades acolhedoras”.

O encontro, organizado pela Câmara Municipal de Setúbal em parceria com o Diário da Região, o qual juntou perto de uma centena de profissionais de comunicação de diversos órgãos, de gabinetes de comunicação de instituições e empresas e de agências de comunicação, incluiu também uma reflexão sobre comunicação empresarial.

Nesta matéria, Margarida Guimarães, da consultoria de comunicação Unimagem, partilhou uma apresentação centrada na comunicação do Porto de Sines, na qual destacou formas e estratégias que mudaram a imagem interior e exterior daquela entidade, com benefícios em termos económicos e laborais.

Já Rodrigo Moita de Deus, diretor-geral da MagicWorks, trouxe a Setúbal a reflexão mais descontraída do encontro, neste caso sobre “Que papel podem as agências de comunicação ter na promoção das cidades”. Antigo jornalista, blogger, classifica-se, atualmente, como um “propagandista”.

No encontro, partilhou algumas campanhas comunicacionais destinadas à promoção das cidades, como “Cinco razões para não investir em Cascais”, apresentada a um conjunto de duas dezenas de empresários para a atração de investimento. “Dois acabaram por comprar casa em Cascais.”

Para Rodrigo Moita de Deus, autor do blog “31 da Armada”, a estratégia para a promoção das cidades passa por saber comunicar bem. “A melhor maneira de comunicar para dentro é comunicar para fora.” Vincou, ainda, que “os conteúdos são o mais importante na comunicação, não os instrumentos utlizados”.

A encerrar o encontro, um painel de comentadores, primeiro com Ana Martins, da comunicação da AISET – Associação da Indústria da Península de Setúbal a falar sobre o que separa jornalistas e assessores, e Pedro Dominguinhos, presidente do Instituto Politécnico de Setúbal, que abordou a importância da comunicação.

Para a antiga jornalista da RTP, as funções de jornalista e assessor são, apesar de semelhantes, diferentes. Mas, o que as separa afinal? Na visão de Ana Martins “o público-alvo e o tipo de feedback”, assim como outras duas características. “A objetividade e informação do jornalismo, a subjetividade e sedução do assessor.”

Já o presidente do Instituto Politécnico de Setúbal, Pedro Dominguinhos, destacou a importância do trabalho dos profissionais de comunicação institucional para se transmitir o que é relevante e de interesse de forma percetível e apelativa.

“Toda a gente acha que percebe de comunicação”, constatou, para defender que, por oposição a essa postura, o trabalho deve ficar na esfera dos profissionais do setor, numa lógica de qualidade e de coerência do discurso.

O encontro, que na manhã centrou o debate nos desafios colocados à imprensa regional e local e no papel da comunicação institucional, contou ainda com intervenções de Carlos Magno, presidente da Entidade Reguladora da Comunicação, Raúl Tavares, diretor do Semmais Jornal, e Paulo Sérgio, jornalista da RTP.

“O jornalismo é uma profissão de futuro”, realçou Carlos Magno, apesar do atual “condicionamento vivido em prol do audiovisual”. Sobre a atividade, vincou que o jornalismo “deve ser feito de pessoas para pessoas e não por autómatos”, vincando que “é preciso regressar ao futuro do jornalismo e à sua génese, ou seja, contar histórias”.

Sobre a imprensa regional e local, o presidente da Entidade Reguladora da Comunicação afirmou que “o sistema impediu estes órgãos de comunicação social de crescer”. Acrescentou, ainda, que “Setúbal é das cidades mais interessantes na qual esta evolução pode ser feita”.

Já o diretor do Semmais Jornal, Raúl Tavares, defendeu que a função dos jornalistas está a definhar e vincou a necessidade de valorizar a comunicação social. “Os jornalistas são os guardiões dos portões da informação e, isso, infelizmente, está a desaparecer.”

Paulo Sérgio, jornalista da RTP e que esteve na fundação de vários projetos na área da comunicação, como é o caso do canal desportivo SportTV, teve uma intervenção mais otimista. “O jornalismo é crucial para o desenvolvimento das sociedades. É profissão de passado, presente e futuro.”