XIII Seminário APPDA Setúbal - Olhares sobre o Autismo - José Paulo Monteiro

O vereador da Câmara Municipal de Setúbal, Carlos Rabaçal, afirmou no dia 8 de julho que as entidades públicas em Portugal devem olhar de forma diferente para a realidade do autismo e “ir muito mais além” na procura de soluções para ajudar as famílias. 


“Apesar dos passos que foram dados, as entidades públicas devem fazer um esforço muito maior na área das deficiências, designadamente em relação ao espetro do autismo. Não é possível que continuem a ser as famílias a assegurar tudo o que é preciso para cuidar das pessoas com deficiências”, disse Carlos Rabaçal na sessão de abertura do XII Seminário da APPDA – Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo de Setúbal, que decorreu no Cinema Charlot – Auditório Municipal.

O autarca enalteceu o “trabalho meritório” desenvolvido pela APPDA desde 2005 na luta pelos direitos das pessoas com deficiência e incapacidade e no combate ao estigma e à discriminação, numa missão que “a Câmara Municipal tem apoiado de diversas formas, como foi o caso da cedência de instalações municipais para o funcionamento da sede da associação”.

Carlos Rabaçal reforçou, igualmente, o compromisso de que a autarquia “vai estar sempre ao lado da APPDA no apoio às melhores soluções para que continue a cumprir a sua missão”.

O presidente da APPDA, Jorge Bernardo, reconheceu o apoio concedido ao longo dos anos pela Câmara Municipal de Setúbal que “tem sido um parceiro forte” da associação na promoção do desenvolvimento, educação, integração social e participação na vida ativa das pessoas com perturbações do espetro do autismo.

O responsável destaca a importância do seminário para o aumento da literacia sobre estas matérias e para “a partilha de ideias que potenciem conhecimento e promovam a procura das melhores respostas para ajudar as pessoas com autismo e as famílias”.

A sessão de abertura do seminário organizado pela APPDA contou, igualmente, com a intervenção do presidente do Instituto Nacional para a Reabilitação, Humberto Santos, para quem “é fundamental que a sociedade compreenda o que é o autismo e as repercussões que tem na vida dos doentes e das famílias para que se possa estimular uma verdadeira inclusão”.

Também o presidente da Federação Portuguesa de Autismo, Fernando Campilho, destacou a necessidade de se lutar “por uma inclusão plena de todas as formas de deficiência”, através da sensibilização da sociedade para questões como a Convenção das Nações Unidade sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.

Já Marinela Guilherme, representante do Centro Distrital de Segurança Social de Setúbal, leu uma mensagem enviada pela diretora da instituição, Luísa Malhó, que sublinhou o papel desenvolvido pela APPDA na desmistificação do autismo com projetos como a publicação do livro “Uma história de super-heróis” e a rubrica “Sabia Que” dinamizada no Facebook.

O seminário prosseguiu com uma alocução pelo neurologista pediátrico do Hospital Garcia de Orta, José Paulo Monteiro, sobre as dificuldades no diagnóstico e a importância da intervenção precoce.

O especialista começou por apresentar dados de um estudo norte-americano pré-pandemia que revelam que “as perturbações neurológicas ou do desenvolvimento são cada vez mais frequentes entre a população pediátrica”.

Os dados revelados por José Paulo Monteiro indicam que, atualmente, uma em cada seis crianças sofre de algum tipo de perturbação neurológica e que a prevalência do autismo aumentou 178% desde o ano 2000.

“Estamos todos mais informados, os critérios de diagnóstico alargaram-se e há uma inclusão cada vez maior. Isto pode explicar o aumento do número de casos.”

No entanto, existem dificuldades no diagnóstico, designadamente do autismo, relacionadas, por exemplo, com o facto de “haver muitas condições associadas ao autismo, com sintomas semelhantes, e de cada uma delas ter um espetro variável de pessoa para pessoa”.

Além disso, o diagnóstico “não depende de uma análise ao sangue ou de uma ecografia”, mas sim de uma “complexa constelação de histórias, da observação das pessoas em diferentes contextos e com diversos comportamentos”, o que muitas vezes é feito por diferentes técnicos.

O especialista salienta que, apesar de complexa, “a identificação precoce é essencial e a intervenção deve começar o mais cedo possível, antes mesmo de o processo de avaliação estar concluído”.

O XIII Seminário da APPDA Setúbal contou ainda, na parte da manhã, com intervenções do psiquiatra Carlos Filipes, sobre a organização das estruturas ocupacionais, residenciais e laborais para pessoas com perturbações do espetro do autismo, e do neurocientista Miguel Castelo-Branco, que abordou questões relacionadas com a investigação.

À tarde, o evento contou com intervenções da psicóloga clínica Marina Crespo e da terapeuta da fala Marta Martins, que falaram sobre a intervenção com crianças e jovens em contexto escolar, e da diretora pedagógica da APPDA Lisboa, Inês Neto, que abordou o tema “Autismo na vida adulta: O que é ser feliz?”

Sandra Nunes, da Federação Portuguesa de Autismo, apresentou o projeto IVEA – Innovative Vocational Education For Autism e Patrícia Castanha e Pedro Antunes falaram sobre como é viver com perturbação do espetro do autismo.

O XIII Seminário da APPDA Setúbal “Olhares sobre o Autismo” encerrou com uma intervenção do presidente da Federação Portuguesa de Autismo, Fernando Campilho.