Produção e Crescimento da Ostra em Setúbal

Uma palestra sobre a produção e o crescimento da ostra em Setúbal, dinamizada pelo professor Ricardo Salgado, deu início no dia 23 de maio ao programa da Semana do Mar e do Pescador 2019, a decorrer até 2 de junho.


No encontro realizado na Casa da Baía, que foi também o primeiro do ciclo Mar à Conversa, no âmbito do projeto Setúbal Terra de Peixe, o docente da Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico de Setúbal deu a conhecer uma investigação em curso sobre a produção de ostras em aquacultura.

O Ostraqual, designação do projeto coordenado por Ricardo Salgado, em desenvolvimento desde o início de 2018, estuda aquaculturas de ostras portuguesas existentes nas zonas do Estuário do Sado e do rio Mira, com os objetivos de contribuir para acrescentar conhecimento científico e procurar promover e valorizar esta atividade económica.

“Além do peixe, a ostra é um recurso importante em Setúbal e o concelho sempre teve boas condições para a produção deste bivalve”, sublinhou o investigador.

Na primeira fase do Ostraqual os investigadores fizeram o mapeamento e georreferenciação das aquaculturas de ostras, peixes e de outros produtos existentes nas zonas do Estuário do Sado e do rio Mira.

No que diz respeito às atividades económicas no Estuário do Sado, concluiu-se que 55 por cento da produção corresponde a campos de arroz, 26 por cento a aquacultura e 12 por cento a salinas.

Nas áreas de gestão da aquacultura, nomeadamente Mitrena, Pontes, Gâmbia, Zambujal e canal de Alcácer, foram identificadas 87 unidades dedicadas à aquacultura, o que corresponde a 772 hectares, das quais apenas 42 estão ativas, o que corresponde a uma área de 422 hectares, das quais 17 destinam-se exclusivamente à produção de ostras.

“O estudo focou-se na produção de 11 destas unidades, que, em 2018, produziram, no total, 6,9 milhões de ostras em tanques e no rio”, revelou Ricardo Salgado.

Seguiu-se o estudo do crescimento das ostras em aquacultura para observação das características biométricas, como a massa e a dimensão, com o objetivo de saber se existem épocas particularmente propícias para produção e quais os fatores que influenciam o desenvolvimento.

Os investigadores concluíram que a taxa de crescimento da ostra, que quando atinge o tamanho comercial pesa cerca de 60 gramas, “varia consoante o número de animais colocados em cada saco de produção e consoante o tamanho que já têm quando são colocadas nos sacos”.

Foi também possível concluir que as ostras crescem de forma mais célere no estuário da Sado, entre seis a nove meses, do que em França, cerca de 13 meses, devido às temperaturas.

Há também diferenças no crescimento consoante a variedade da ostra, sendo que a crassoestrea gigas tem uma taxa de crescimento 1,5 vezes superior à crassoestrea angulata, mais conhecida por ostra portuguesa.

A avaliação da qualidade da ostra na produção “é muito importante” e foi outro fator estudado pela equipa de Ricardo Salgado no Estuário do Sado, que concluiu, através de medições como o índice de condição, que estabelece a relação entre a massa do animal e a massa total, que a ostra produzida no Sado é de boa qualidade.

Também a qualidade da água apresenta “valores normais e bons para o crescimento da ostra”, com níveis de salinidade, temperatura e clorofila relevantes para a produção.

A equipa de investigação do Ostraqual fez ainda uma análise sensorial e de qualidade das ostras, através de provas de degustação, com as conclusões a serem apresentadas a 3 de junho, num workshop sobre a valorização e promoção das ostras de aquacultura a decorrer na Escola Superior de Tecnologia.

O projeto Ostraqual – Valorização e promoção da qualidade das ostras de aquacultura na região do Sado e Mira é financiando no âmbito do programa de dinamização e valorização do Ensino Politécnico, através do programa Horizonte 2020 – Programa-Quadro Comunitário de Investigação & Inovação.

O processo científico, ou trabalho de campo, consiste na recolha de amostras, processadas posteriormente em laboratório por uma equipa multidisciplinar, com quatro dezenas de elementos, entre docentes, alunos e bolseiros, com competências em áreas da biologia, química, gestão, saúde e alimentar.