“Este é um passo determinante para a concretização de uma obra que todos queremos ver realizada”, destacou a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, à saída de uma reunião de trabalho realizada no dia 4 à tarde nos Paços do Concelho com a comitiva de responsáveis europeus.

Participam ainda neste conjunto de visitas e reuniões de trabalho, programa que prossegue no dia 5 em Lisboa, Hugo O’Neill, presidente da Associação Portuguesa das Casas Antigas, proponente da candidatura do Convento de Jesus à Europa Nostra, e representantes da Secretaria de Estado da Cultura e do Centro Nacional de Cultura.

Maria das Dores Meira adiantou que a deslocação da comitiva europeia serve para, em conjunto com todos os intervenientes, “debater modelos de financiamento e definir a participação do Estado na execução do plano de financiamento para a execução da obra de reabilitação global do Convento de Jesus”.

Convicta da atribuição de um financiamento especial de apoio à recuperação total deste monumento, a presidente da Câmara Municipal de Setúbal assinalou que, “se tudo correr como planeado, estando todos os projetos concluídos, a obra pode avançar em 2014”.

A visita ao Convento de Jesus deixou os elementos da Europa Nostra e do BEI “muito agradados e impressionados com o trabalho já realizado na joia manuelina”, sublinhou a autarca, referindo-se à obra atualmente em curso no monumento nacional, assumida pela Câmara Municipal de Setúbal, que se destina a suster a degradação e a permitir a abertura parcial ao público.

Esta intervenção representa um investimento global de três milhões e 200 mil euros, com comparticipação de fundos comunitários com uma taxa de 65 por cento, através do PORLisboa – Programa Operacional Regional de Lisboa, no âmbito do QREN – Quadro de Referência Estratégico Nacional.

A Autarquia chamou a si a liderança deste processo após receber, por protocolo, a posição de beneficiário da candidatura que pertencia ao IGESPAR, por este instituto da Administração Central, atualmente integrado na Direção-Geral do Património Cultural, alegar incapacidade orçamental.

“Aproveitar os fundos comunitários para avançar com uma obra para suster a degradação do imóvel foi uma oportunidade única que a Câmara Municipal de Setúbal não hesitou em agarrar”, afirmou Maria das Dores Meira, vincando que “é com o sacrifício dos setubalenses que uma intervenção da responsabilidade do Poder Central é assegurada”.

No final da reunião de trabalho, Guy Clausse, do Banco Europeu de Investimento, mostrou-se “francamente impressionado com as obras em curso e com o potencial do Convento de Jesus”, reforçando que o objetivo principal “passa agora por melhorar ainda mais o estatuto do projeto” apresentado.

O porta-voz da comitiva da Europa Nostra e do BEI, programa que integrou, em junho, o edifício do século XV numa lista restrita de sete monumentos europeus ameaçados, adiantou que esta visita serviu para “fazer uma análise técnica do projeto e melhorar as possibilidades de financiamento do projeto, sobretudo ao nível do novo QREN [Quadro de Referência Estratégico Nacional].

A importância histórica e arquitetónica do imóvel foi fundamental para a decisão – a única votada por unanimidade – de incluir o monumento nacional neste programa especial da Europa Nostra, apoiado pelo Banco Europeu de Investimento, que visa a recuperação de património em risco.

Guy Clausse afirmou que o projeto apresentado traduz uma intervenção “muito ambiciosa e com uma boa base”, que necessita de um grande investimento com “várias fontes de financiamento”, adiantando que o relatório da avaliação conduzida no Convento de Jesus deverá ser apresentado em novembro.

Na parte da manhã, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, a comitiva do programa Europa Nostra e do BEI inteirou-se das linhas gerais do projeto de reabilitação do Convento de Jesus e ficou a conhecer um pouco da história do monumento, assim como algumas das peças mais emblemáticas que integram o acervo do Museu de Setúbal.

“Esta é uma obra de reconhecido valor patrimonial e histórico”, afirmou a presidente da Câmara Municipal, destacando o “enorme esforço e empenho da Autarquia para a concretização deste projeto, uma responsabilidade que deveria ser assumida pelo Estado”.

A autarca, ao enaltecer o “importante apoio” de Hugo O’Neill, assegurou que “tudo está a ser feito para que a recuperação global do monumento nacional seja uma realidade”.

Hugo O’Neill destacou a riqueza patrimonial de Setúbal e vincou a importância do Convento de Jesus. “É um monumento fantástico que conta histórias maravilhosas. É uma pena que tenha chegado a este estado de perigo”, assinalou, confiante num futuro auspicioso para a joia manuelina.

“Estou radiante com o facto de a Europa Nostra ter demonstrado tamanho interesse no Convento de Jesus”, frisou o presidente da Associação Portuguesa das Casas Antigas, para enaltecer a “qualidade da equipa” que, entre os dias 4 e 5, marca presença num conjunto de reuniões e visitas de trabalho em Setúbal e Lisboa.

A sessão da manhã incluiu ainda uma apresentação feita pelo curador do Museu de Setúbal, Baptista Pereira, sobre a importância histórica e patrimonial do Convento de Jesus.

O arquiteto Carrilho da Graça, autor do projeto das obras de requalificação e modernização do monumento, num investimento estimado em 14 milhões de euros, revelou as linhas gerais da intervenção. “O objetivo é conectar o restaurado convento a um novo conjunto de edifícios com novas valências culturais.”

O projeto integra a constituição de dois núcleos, interligados mas funcional e morfologicamente distintos, que incluem o Convento de Jesus, com espaços para exposições permanentes, e um novo edificado de apoio às atividades museológicas.

No Convento de Jesus está programado ficar patente o extenso acervo museológico, organizado numa sequência cronológica, com o piso térreo a receber os conteúdos arqueológicos associados à história da cidade e do próprio monumento, enquanto o andar superior se destina à coleção artística existente, num percurso entre os séculos XV e XX.

Na parte antiga, destaque para a Sala do Coro Alto, que permite a contemplação da nave da igreja, a Sala do Capítulo, no piso térreo, e um novo espaço expositivo para acolher o Retábulo da Igreja de Jesus, com peças do século XVI.

Já o novo edifício, com um espelho de água central, inclui zona de receção, áreas administrativas, centro de documentação/biblioteca, espaço para reservas e oficinas, galeria para mostras temporárias, auditório com 180 lugares e infraestrutura técnica.

“Esta separação física e funcional permite libertar o edifício do Convento de Jesus de todas as infraestruturas e serviços técnicos”, sublinhou Carrilho da Graça.

A possibilidade da existência de horários de funcionamento distintos e a autonomia de alguns espaços, que podem acolher variados tipos de eventos, são outras mais-valias asseguradas com esta opção arquitetónica.

Dia 5, a agenda de trabalhos da comitiva da Europa Nostra e do BEI culmina num encontro com o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, durante a manhã, no Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa, de apresentação e discussão do projeto concebido para a recuperação do Convento de Jesus.

O monumento, situado no interstício das muralhas quatrocentistas e seiscentistas, é a principal referência patrimonial de Setúbal, beneficiando de classificação como Monumento Nacional desde 1910.

Fundado em 1490, acolhe, desde o início da década de 60 do século XX, as instalações do Museu de Setúbal, acervo com diversas coleções artísticas, arqueológicas, históricas e documentais de elevado valor, nalguns casos com dimensão internacional.

 

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