O treino, com a simulação de vítimas e em diferentes contextos de socorro, foi dinamizado no quartel da Companhia de Bombeiros Sapadores de Setúbal, numa ação formativa que juntou estudantes de enfermagem, em cursos de licenciatura e de mestrado, de vários estabelecimentos de ensino.

Às 15h00 soa o alerta. Um choque frontal entre duas viaturas, um veículo ligeiro e um motociclo, faz duas vítimas. No carro, a condutora está encarcerada e gravemente ferida e reporta aos enfermeiros e sapadores presentes queixas num braço e na zona da bacia. No chão, o ocupante da moto grita por auxílio.

Para o local são destacadas viaturas da Companhia de Bombeiros Sapadores de Setúbal, uma para o cenário de acidente rodoviário simulado, as restantes para os outros dois teatros de operações montados, uma explosão num prédio com feridos e uma tentativa de suicídio com uma pessoa encurralada num poço.

Este ano, o exercício conjunto impulsionado pelo “Critical ESS”, entidade formativa em emergência da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal, contou com a participação de estudantes da licenciatura de Enfermagem e do mestrado de Enfermagem Médico-Cirúrgica.

“O exercício é para os estudantes que frequentam o mestrado partilhado entre os politécnicos de Setúbal, Beja, Castelo Branco e Portalegre e a Universidade de Évora, enquanto os alunos do quarto ano participam apenas como figurantes e observadores” esclarece Nuno Oliveira, docente da Escola Superior de Saúde.

As funções são definidas num briefing antes do início do exercício. Prontos a apoiar os sapadores na execução dos procedimentos de socorro, os estudantes, organizados em grupos, executam as tarefas. Primeiro procedimento: falar com as vítimas e tentar perceber o grau de gravidade das lesões.

Depois, uma primeira estabilização manual da vítima encarcerada pelas pernas. Nesta fase, é importante assegurar a estabilização cervical, para evitar lesões mais graves. Enquanto isso, os sapadores ultimam a preparação do sofisticado material de desencarceramento.

Pouco depois, ouvem-se as ferramentas hidráulicas de corte a trucidar metal para desencarcerar a vítima. “Atenção, vai cortar”, alerta um sapador. O procedimento é minucioso, até porque é preciso garantir as condições de segurança. O acesso é feito pelo tejadilho do carro, totalmente removido na operação.

Enquanto isso, já o ocupante do motociclo está estabilizado e a ser conduzido até ao hospital de campanha montado. Segue-se a vítima do automóvel, que inspirava cuidados especiais e cujo cenário de atuação é mais complexo, até porque o espaço é confinado e existem muitos detritos.

Noutro local do quartel da Companhia de Bombeiros Sapadores de Setúbal, outra pessoa está em perigo. Um jovem grita por auxílio dentro de um poço. Foi uma tentativa de suicídio falhada. Em ação, a equipa de resgate e salvamento urbano dos Sapadores monta o equipamento para o socorro.

A descida até ao fundo do poço é feita em rappel por um dos estudantes. Assegurada a estabilização do sinistrado, já com oxigénio, ambos são puxados até à superfície. À chegada, o jovem fica inconsciente e é necessário iniciar os procedimentos de reanimação.

Enquanto o exercício no poço é executado por outra equipa, já outros estudantes e sapadores trabalham no terceiro cenário preparado, um resgate multivítimas num prédio após a ocorrência de uma explosão. Aqui, o apoio é dado pela viatura-plataforma, com um alcance máximo de 45 metros em altura.

Há quatro feridos no interior do prédio, em diferentes pisos do edifício-escola utilizado para treino pelos sapadores. Os bombeiros são os primeiros a entrar com equipamento de proteção respiratória e combate a incêndio. Depois entram os enfermeiros-estudantes, após estarem garantidas as condições de segurança.

Há pedidos de ajuda em vários pisos. Três estão politraumatizados, um dos quais preso no poço do elevador, com escombros sobre um membro inferior, e outro com intoxicação por monóxido de carbono. Feito o socorro, as vítimas são retiradas em rappel e através da escada da viatura-plataforma, em altura.

O exercício, que aproxima bombeiros sapadores e comunidade escolar, permite que futuros enfermeiros e, alguns, já profissionais, possam aplicar, em contexto real, procedimentos de atuação em vários teatros de operações, em particular na estabilização de vítimas.

O treino conjunto, que contou com o envolvimento de cerca de nove dezenas de pessoas, entre sapadores e perto meia centena de alunos, permitiu aos estudantes adquirir competências essenciais à futura atuação enquanto profissionais de saúde em situações de catástrofe e emergência.