Em “A Vida é Engraçada Mas Eu Levo-a Muito a Sério”, patente na Galeria Municipal do 11, mostra que resulta de uma investigação do designer Jorge Silva, são dados a conhecer fragmentos da extensa obra de Tóssan, nome artístico de António Fernando dos Santos.

“Cão Pêndio”, coleção de trocadilhos à volta da palavra “cão”, e “Lógica Zoológica”, conjunto de 22 crónicas escritas e ilustradas por Tóssan em 1983 para o seminário humorista Bisnau, são dois dos muitos trabalhos em mostra que revelam e perpetuam a memória do artista falecido em 1991.

Além destes, há reproduções de desenhos feitos para convites de festas aniversário, retratos, caricaturas e ilustrações literárias, como as oito realizadas, a preto, para o livro de António Almeida de Santos, “Rã no Pântano”, obra que chegou a ser proibida pela censura fascista.

“Esta exposição é apenas um ensaio daquilo que eu gostava de ter feito”, revelou Jorge Silva, na inauguração da mostra que comissaria e com a qual procura “dar uma dimensão da vasta obra e vida de Tóssan”, que considera uma “personagem extraordinária e muito especial”.

Em “A Vida é Engraçada Mas Eu Levo-a Muito a Sério”, além de alguns manuscritos inéditos, há, entre outras, ilustrações feitas para o Diário de Lisboa nos suplementos “Magazine” e “Juvenil”, assim como trabalhos da década de 40, em que Tóssan exercita a gramática linear de Júlio Pomar em desenhos de criaturas neorrealistas.

O vereador da Cultura na Câmara Municipal de Setúbal, Pedro Pina, sublinhou que “é um privilégio poder ter na cidade estas exposições”, para depois realçar o papel central da Galeria Municipal do 11 na Festa da Ilustração ao evocar, ao longo das várias edições, artistas consagrados, casos de Tóssan, Manuel Ribeiro de Pavia, Lima de Freitas e Luís Filipe Abreu.

Ao enaltecer a importância da exposição para perpetuar a memória de Tóssan, o autarca, em género de brincadeira, recomendou uma leitura. “O “Cão Pêndio continua a ser um livro de bolso fundamental, um exercício e uma viagem pela imaginação. Fica o ‘cão vite’ para a leitura.”

A inauguração da mostra contou com a declamação de poemas de Tóssan pelo poeta Carlos Carranca, com o lançamento de um catálogo e com a exibição do filme mudo de 1963, a preto e branco, com sete minutos, “Era uma vez uma gravata”, de J. Nogueira, em que António Fernando dos Santos é o protagonista.

“A Vida é Engraçada Mas Eu Levo-a Muito a Sério” foi a última exposição a ser inaugurada no âmbito da Festa da Ilustração, certame a decorrer até ao final do mês com mais nove mostras patentes em vários espaços e equipamentos culturais de Setúbal e Azeitão.

João Fazenda, o ilustrador convidado deste ano, está em destaque na Casa da Cultura, espaço no qual se encontra patente a original “Bricolage”, que, na Galeria de Exposições, na Sala Anexa e no Espaço Ilustração, revela uma seleção de trabalhos realizados ao longo da carreira e em diversas facetas.

O ensino artístico ganha visibilidade através de “TPC”, patente no Cais 3 do Porto de Setúbal, com trabalhos de escolas superiores de artes, e de “É Preciso Contar uma História?”, na Casa d’Avenida, com exposições da ilustradora Rachel Caiano e dos ilustradores Osias André (Moçambique) e Guilia Alessandra Atzori (Itália).

Em “É Preciso Contar uma História?” são também expostos trabalhos de alunos das escolas básicas e secundárias do concelho, a partir de ateliers desenvolvidos ao longo do ano pela Casa d’Avenida, local onde decorreu ainda, nos dias 9 e 10, o espetáculo “Paula de Papel”, pelo Teatro O Bando.

Presença já habitual no certame de artes setubalense é a exposição “Ilustração Portuguesa”, patente ao público no Cais 3 do Porto de Setúbal, na frente ribeirinha da cidade, e na Biblioteca de Azeitão, na qual é feito um resumo dos trabalhos dos ilustradores portugueses em destaque na atualidade.

A festa também se faz com o designer Alberto Lopes, autor da capa do último disco de originais de Zeca Afonso, “Galinhas do Mato”, que participa no certame com uma mostra com o título homónimo, concebida a partir de ideias retiradas do design do disco, patente ao público na Casa d’Avenida.

Já João Silva Duarte, ilustrador de Hans Christian Andersen, está presente numa exposição, na Casa Bocage.

O certame reserva ainda “Resumo da Matéria Dada”, por José Paulo Simões, no Museu do Trabalho Michel Giacometti, “Ver ao Perto”, de ilustradores residentes no concelho, na Galeria Municipal do Banco de Portugal, e “Fora de Muros”, com trabalhos de detidos no Estabelecimento Prisional de Setúbal, patente na Biblioteca Municipal.

O certame artístico, que mantém a estrutura de outras edições, com ilustradores clássicos e contemporâneos, conta ainda com mostras na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal, no Alegro Setúbal e na A-Mar Concept Store.

Novidade na edição deste ano do certame cultural foi a realização de um concerto por ilustradores músicos, “Chegou o Homem dos Sete Instrumentos”, dia 2, no exterior da Casa da Cultura, com João Maio Pinto, Miguel Feraso Cabral, Gonçalo Duarte, Bruxos/Cobras e Jibóia.

A Festa da Ilustração 2018 reserva ainda “Retrato Falado”, espetáculo por João Fazenda e Pedro Silva Martins, a 17, às 11h00, no Fórum Municipal Luísa Todi.

O evento inclui diversos ateliers com ilustradores, espetáculos de teatro e de música e apresentações de livros, bem como visitas guiadas às exposições e oficinas para os jardins de infância e as escolas do ensino básico mediante inscrição em festailustracaosetubal@mun-setubal.pt.