“Sim, continuamos a achar que é preciso fazer um desenho”, afirmou o vereador da Cultura na Câmara Municipal de Setúbal, Pedro Pina, na abertura oficial de mais uma edição do certame que se constitui como um “espaço privilegiado de afirmação cultural, de liberdade e de expressão artística”.

A Festa da Ilustração volta a trazer desenhos, de autores clássicos a contemporâneos, que são partilhados ao longo de junho em diversos espaços e equipamentos culturais, na cidade de Setúbal e também em Azeitão, em perto de uma dezena e meia de iniciativas de participação gratuita.

João Fazenda, o ilustrador convidado deste ano, está em destaque na Casa da Cultura, espaço no qual se encontra patente a original “Bricolage”, que, na Galeria de Exposições, na Sala Anexa e no Espaço Ilustração, revela uma seleção de trabalhos realizados ao longo da carreira e em diversas facetas.

“Bricolage é a forma que penso as imagens”, esclarece o artista, a propósito do título da mostra, porque, acrescenta, “a ilustração é uma construção feita à base de peças, bocados e texturas, que alia o lado lúdico e da experimentação”. Por isso, frisa, o termo bricolage “tem todas essas dimensões”.

A mostra criada exclusivamente para a Festa da Ilustração 2018, evento organizado pela Câmara Municipal de Setúbal, está repartida em quatro seções, as quais, apesar de não respeitarem nenhum ordem cronológica, desvendam diferentes formas do traço e da criatividade de João Fazenda.

Em “Palco”, o ilustrador faz uma seleção de nove anos de trabalhos feitos para jornais, revistas e até cartazes de filmes, com temas e formatos bastante distintos. “O que os une é a ideia de que o ilustrador é um encenador de palco, com cenários e estruturas que modelam as próprias imagens.”

Já em “Bairro”, João Fazenda apresenta um conjunto de trabalhos que se relacionam, sobretudo, com as vivências em metrópoles. “É cidade e a sua transformação, com momentos e situações completamente distintas e que, porventura, revelam o meu lado mais íntimo e urbano.”

Completamente diferente é a “Arena”, em que o artista partilha alguns dos trabalhos realizados em “A Boca do Inferno”, crónica semanal que divide desde 2005 com Ricardo Araújo Pereira e que, esclarece, funciona em género de blind date. “Só sei o tema da crónica. Cada um está na sua e encontramo-nos na página.”

Por fim, o público é surpreendido com “Pista de Dança”, secção que revela, de acordo com João Fazenda, a sua vertente “mais pessoal”, com “desenhos a traço de linha” extraídos de um livro editado pelo próprio. “No fundo, aqui, procuro transmitir a ideia de que o desenho é contínuo.” 

João Fazenda confessa que estava relutante em participar na Festa da Ilustração 2018, uma vez que, “apesar dos cabelos brancos”, ainda não tem “idade para fazer retrospetivas”, brinca o ilustrador de 39 anos. “Acho que, de uma forma airosa, consegui contornar bem a questão.”

Para o vereador Pedro Pina é um “grande orgulho ter João Fazenda na Festa da Ilustração” como artista convidado, juntamente com outros grandes ilustradores portugueses.

Já José Teófilo Duarte, da DDLX – Design | Comunicação, atelier que organiza o evento em parceria com a editora Abysmo, destaca João Fazenda como “um ilustrador com opinião” e acentua a pertinência do certame, que, “de certa forma, homenageia a imprensa que aposta na ilustração”.

Além de “Bricolage”, a Festa da Ilustração 2018, com o lema da edição original “É Preciso Fazer um Desenho?”, apresenta ainda mais nove exposições, oito das quais inauguradas este sábado, patentes ao longo do mês em vários espaços e equipamentos públicos do concelho.

O ensino artístico ganha visibilidade através de “TPC”, patente no Cais 3 do Porto de Setúbal, com trabalhos de escolas superiores de artes, e de “É Preciso Contar uma História?”, na Casa d’Avenida, com exposições da ilustradora Rachel Caiano e dos ilustradores Osias André (Moçambique) e Guilia Alessandra Atzori (Itália).

Em “É Preciso Contar uma História?” são também expostos trabalhos de alunos das escolas básicas e secundárias do concelho, a partir de ateliers desenvolvidos ao longo do ano pela Casa d’Avenida, local onde decorre ainda, nos dias 9 e 10, o espetáculo “Paula de Papel”, pelo Teatro O Bando.

Presença já habitual no certame de artes setubalense é a exposição “Ilustração Portuguesa”, patente ao público no Cais 3 do Porto de Setúbal, na frente ribeirinha da cidade, e na Biblioteca de Azeitão, na qual é feito um resumo dos trabalhos dos ilustradores portugueses em destaque na atualidade.

A festa também se faz com o designer Alberto Lopes, autor da capa do último disco de originais de Zeca Afonso, “Galinhas do Mato”, que participa no certame com uma mostra com o título homónimo, concebida a partir de ideias retiradas do design do disco, patente ao público na Casa d’Avenida.

Já João Silva Duarte, ilustrador de Hans Christian Andersen, está presente numa exposição, na Casa Bocage, e numa conferência por Fátima Ribeiro Medeiros, detentora de grande parte do espólio intelectual do artista, a realizar esta terça-feira, às 21h30, na Sala José Afonso da Casa da Cultura.

O certame reserva ainda “Resumo da Matéria Dada”, por José Paulo Simões, no Museu do Trabalho Michel Giacometti, “Ver ao Perto”, de ilustradores residentes no concelho, na Galeria Municipal do Banco de Portugal, e “Fora de Muros”, com trabalhos de detidos no Estabelecimento Prisional de Setúbal, patente na Biblioteca Municipal.

Um dos destaques da Festa da Ilustração 2018 é a evocação do artista Tóssan, nome artístico de António Fernando dos Santos, com a apresentação de obras inéditas na exposição “A Vida é Engraçada Mas Eu Levo-a Muito a Sério”, a inaugurar no dia 9, às 19h00, na Galeria Municipal do 11.

“É uma personagem extraordinária, muito especial”, exalta Jorge Silva, curador da Festa da Ilustração sobre o homenageado, um artista multifacetado que, além de ilustrador, foi “um humorista total, poeta do absurdo, declamador de memória prodigiosa, ator e também encenador”.

A mostra, que apresenta a obra gráfica “António Fernando dos Santos”, é acompanhada de um filme e inclui o lançamento de um catálogo. Jorge Silva antevê uma exposição “muito interessante e também reveladora”.

O certame artístico, que mantém a estrutura de outras edições, com ilustradores clássicos e contemporâneos, conta ainda com mostras na Biblioteca de Azeitão, na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal, no Alegro Setúbal e na A-Mar Concept Store.

Novidade na edição deste ano do certame cultural foi a realização do concerto “Chegou o Homem dos Sete Instrumentos”, por ilustradores músicos, no dia 2 à noite, no exterior da Casa da Cultura, com João Maio Pinto, Miguel Feraso Cabral, Gonçalo Duarte, Bruxos/Cobras e Jibóia.

A Festa da Ilustração 2018 reserva ainda “Retrato Falado”, espetáculo por João Fazenda e Pedro Silva Martins, a 17, às 11h00, no Fórum Municipal Luísa Todi.

O evento inclui diversos ateliers com ilustradores, espetáculos de teatro e de música e apresentações de livros, bem como visitas guiadas às exposições e oficinas para os jardins de infância e as escolas do ensino básico mediante inscrição em festailustracaosetubal@mun-setubal.pt.