“Migração” foi o tema que serviu de ponto de partida para o programa de 2017 de “um evento de grande qualidade e reconhecido internacionalmente”, como frisou a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, numa curta intervenção de agradecimentos realizada após o concerto de encerramento do programa.

“Endereço uma saudação calorosa a lady Helen Hamlyn, que, através da fundação com o seu nome, tem sido uma grande amiga da cidade, juntando-se à autarquia neste desígnio que é a promoção e divulgação da música e, por esta via, a criação de condições para uma melhor coesão social no nosso território”, referiu a autarca.

A fundação inglesa The Helen Hamlyn Trust está na génese da criação do certame e é uma das entidades financiadoras, com a Câmara Municipal de Setúbal e a Donatella Flick LSO Conducting Competition.

O evento, organizado pela A7M – Associação Festival de Música de Setúbal, com apoios da Antena 1 da Antena 2, destina-se à promoção da integração social, através da música, de jovens, comunidades minoritárias e de pessoas com deficiências.

Por este motivo, Maria das Dores Meira agradeceu, igualmente, “a todas as escolas e, em particular, aos professores e alunos que se envolveram nesta edição do festival, tornando-o numa verdadeira jornada de inclusão, de definição de novos caminhos para muitos dos nossos jovens”.

A autarca falou após “Migrações Ibéricas”, último concerto do programa, realizado no domingo à tarde, no Convento de Jesus, num espetáculo conduzido pelo maestro Paulo Lourenço e que contou com a participação de Dejan Ivanovich, na guitarra, do Gulbenkian Choir e do coro do Conservatório Regional de Setúbal.

Esta simbiose entre músicos profissionais e amadores, no caso deste concerto transposta pelo envolvimento de alunos de um estabelecimento de ensino musical do concelho, traduz o código genético de todo o Festival de Música de Setúbal, desde o início, quando foi criado em 2011.

O Festival de Música de Setúbal, dirigido artisticamente por Ian Ritchie, começou a edição de 2017 com o espetáculo “Boas Migrações”, no Fórum Municipal Luísa Todi, dia 25, protagonizado pela Sinfonietta de Lisboa, a Camerata do Festival de Setúbal e o Conservatório Regional de Setúbal, com direção dos maestros Vasco Pearce de Azevedo e Kerem Hasan, com Lia Yeranosyan, Josefina Fernandes e Joana Praça, no violino, e Sofia Azevedo, no violoncelo.

O segundo dia do festival, 26, começou com uma impressionante demonstração de percussão dirigida por Fernando Molina, no Auditório José Afonso, com o tema “Mãos Juntas”. A atuação ficou a cargo de cerca de oitocentos alunos de escolas de Setúbal e de utentes de instituições de solidariedade social. Após o concerto, o grupo de jovens músicos percorreu a Avenida Luísa Todi naquele que já é o tradicional desfile de música do certame.

Ainda no dia 26, a Igreja de S. Simão, em Azeitão, recebeu os ritmos de “Cordas Ibéricas”, espetáculo do guitarrista Dejan Ivanovich, acompanhado da Camerata do Festival de Setúbal, com direção do maestro Kerem Hasan.

A fechar o dia, no Fórum Luísa Todi, os músicos da Grand Union Orchestra, residente no Reino Unido, mas constituída por elementos de vários países, apresentaram “Ventos Ibéricos”, numa atuação conjunta com o Conservatório Regional de Setúbal e o Conservatório Regional de Palmela, num concerto dirigido por Tony Haynes.

O dia 27 reservou também “Música nas Ruas”, com performances de alunos da Academia de Música e Belas-Artes Luísa Todi na Baixa de Setúbal, seguindo-se “A Sensação de um Lugar”, concerto com obras de compositores setubalenses inspiradas na exposição de fotografia “Lanzarote – Janela de Saramago”, de João Francisco Vilhena, patente na Casa d’Avenida, galeria onde também decorreu o espetáculo.

O Museu do Trabalho Michel Giacometti incluiu ainda no dia 27 uma atuação do Ensemble Juvenil de Setúbal, orquestra de jovens músicos com direção de Rui Borges Maia, enquanto no Fórum Luísa Todi foi apresentado “Guitarras Migrantes – Extravaganza de Guitarras”, com o Orpheus Trio, constituído pelos guitarristas Dejan Ivanovich, Filipa Pinto Ribeiro e Gonçalo Gouveia.

O espetáculo contou também com os conjuntos de guitarras da Escola Superior de Lisboa, da Universidade de Évora, do Conservatório Regional de Setúbal e da Academia Luísa Todi, bem como com a guitarra flamenco de Marco Alonso, as guitarras tradicionais do Alentejo de Pedro Mestre e Campaniça Trio, a guitarra portuguesa de Pedro Castro e a voz de Teresinha Landeiro.

O dia 27 terminou com a vinda a Setúbal do elenco da casa de fados lisboeta Mesa de Frades, na Casa d’Avenida, com interpretações de Teresinha Landeiro, voz, Pedro Castro, guitarra portuguesa, André Ramos, viola, e Francisco Gaspar, viola baixo.

O último dia do festival, 28, domingo, apresentou “Vozes Ibéricas”, no âmbito do Projeto Escrita de Canções, no Fórum Luísa Todi, com coros de escolas do 1.º ciclo do concelho, da APPACDM de Setúbal, do Coral Infantil de Setúbal e de músicos convidados.

O espetáculo, que estreou temas compostos pelos próprios intérpretes, foi conduzido por Carlos Barreto Xavier.

Este concerto antecedeu “Migrações Ibéricas”, espetáculo de encerramento do certame, no Convento de Jesus, numa peça musical inspirada no romance de José Saramago “A Jangada de Pedra”, a que assistiu Pilar del Río.

A presidente da Fundação José Saramago participou, também no domingo, à tarde, num encontro na Casa d’Avenida dedicado “A Jangada de Pedra”. A iniciativa contou ainda com os contributos Francisco Vilhena, fotógrafo, e João Brites, encenador.

O Festival de Música de Setúbal 2017 também se construiu através do campo visual. As exposições “Daqui para Ali”, “Cartazes de um Festival”, “Ensemble Sketchbook” e “Lanzarote – A Janela de Saramago” estiveram patentes em diferentes espaços.