"Neste dia da cidade, a Câmara Municipal decidiu entregar aos setubalenses mais um edifício de referência e, seguramente, um dos mais belos de Setúbal", assinalou a presidente do Município, Maria das Dores Meira.

Depois de cerca de 30 anos em estado de abandono, foi "com grande esforço que a Câmara Municipal adquiriu esta preciosidade", em plena Avenida Luísa Todi, abrindo o imóvel, datado da primeira metade do século XX, ao usufruto de todos após uma "obra complicadíssima".

Maria das Dores Meira explicou que, depois da aquisição por 450 mil euros, foram realizadas intervenções de reabilitação na cobertura e respetiva impermeabilização, na recuperação de algerozes, na anulação de infiltrações, na instalação de novos equipamentos, novas casas de banho e acessos para cidadãos com mobilidade reduzida.

"Não admitimos que ninguém, sem exceção, entre pela porta dos fundos", esclareceu a autarca acerca da rampa na entrada principal do edifício, uma solução provisória e mais barata enquanto não existirem outras alternativas.

Dos achados arqueológicos, resultantes dos trabalhos de escavação do centro histórico da cidade e do Convento de Jesus, à pintura a partir do século XIV até à contemporânea, um vasto espólio pode agora ser visitado na nova galeria municipal enquanto decorrem as obras no Convento de Jesus.

O conservador do Museu de Setúbal, Fernando António Batista Pereira, apresentou a exposição, reunindo os convidados na sala onde figura, agora, a "joia nacional", as 14 pinturas do retábulo da capela-mor da Igreja de Jesus, uma "obra-prima" de um dos maiores pintores portugueses do século XVI, Jorge Afonso, que já foi apresentada em várias cidades europeias, como Sevilha, na Expo 92.

O conservador referiu que a Câmara Municipal "tem a grande responsabilidade" na conservação destes "tesouros artísticos", peças de "valor incalculável".

Maria das Dores Meira salientou que o retábulo tem um "seguro altíssimo" e não poderia estar mais encerrado a aguardar a conclusão das obras do Convento de Jesus.

Trabalhos que podem estar mais perto do final "caso chegue a bom porto" o processo de procura de novos financiamentos promovida pela Europa Nostra para a execução integral do projeto do arquiteto Carrilho da Graça.

A presidente do Município explicou ainda que, além de galeria temporária de exposições e, depois de concluídas as obras ainda em curso, o antigo edifício do Banco de Portugal irá albergar os serviços municipais de cultura e duas instituições da cidade, o Lions Club e a Associação Sinapsys.

Boas notícias para a cultura no dia em que se celebra o aniversário de nascimento de Bocage, "poeta de Setúbal que se destaca na vasta galeria de gente notável e talentosa que esta cidade deu e continua a dar ao mundo", como referiu Maria das Dores Meira, na sessão solene ao início da manhã, no Salão Nobre dos Paços do Concelho.

A presidente da Câmara Municipal enalteceu os setubalenses, pela "capacidade de receber bem, integrar, compreender os outros" mas também pela competência que têm em "progredir, construir, fazer mais, ser mais e melhor".

Como desafio, a autarca destacou a “necessidade de continuar a corrigir erros cometidos" na gestão da cidade em tempos ainda não muito distantes e de procurar novas soluções.

"Nos últimos quatro anos, fruto desta procura de novas soluções e da criação das condições adequadas pela autarquia, foram criados quatro mil novos postos de trabalho, alguns ainda pendentes da conclusão de respetivos investimentos privados que alcançaram 800 milhões de euros", salientou.

Maria das Dores Meira indicou outros exemplos da melhoria de qualidade de vida dos munícipes, como as requalificadas redes de ensino e de equipamentos culturais e as modernas políticas urbanas.

"Temos andado depressa, mas gostaríamos de andar ainda mais depressa", afirmou, ao lembrar que Setúbal "modernizou-se, recuperou visibilidade, atraiu novos negócios, atraiu mais turismo, atraiu mais gente de variadíssimas origens, reafirmando a sua vocação ecuménica".

Sobre a necessidade de apostar na renovação urbana, em particular nos centros históricos de Setúbal e Azeitão, a autarca assume que é uma “tarefa difícil, tanto mais quando em Setúbal somos obrigados, para honrar, ainda hoje, pesados compromissos do passado, a praticar elevadas taxas de IMI desde 2003, sem que tivesse havido a possibilidade de fazer qualquer redução destes valores para cumprir o que é imposto por um Contrato de Reequilíbrio Financeiro que ainda nos condicionará por muitos anos”, lamentou a autarca.

Maria das Dores Meira salienta que “estamos perante taxas que sofreram brutais aumentos única e exclusivamente, e é preciso que isto seja claro, graças à reavaliação fiscal dos prédios decidida e aplicada pelo Governo, facto que, aliás, é esquecido propositadamente por muitos dos que constroem, por estes dias, a narrativa política local para ocultarem as próprias responsabilidades”.

Para que se compreenda como o passado continua a condicionar a gestão municipal em Setúbal, a autarca recordou que, em “dezembro de 2012, o valor em dívida dos empréstimos de médio e longo prazo era de 48,5 milhões, dos quais 46,9 milhões de euros, ou seja, 97 por cento, eram ainda empréstimos contraídos antes de 2001 ou responsabilidades financeiras que deles decorrem. Nestes valores incluem-se os montantes do Contrato de Reequilíbrio Financeiro, que serviu para pagar dívida de curto prazo e um empréstimo de saneamento financeiro contraídos antes de 2001”.

A homenagem aos que trabalharam na Câmara Municipal e que se aposentaram no último ano foi também um momento emotivo. Um grupo 18 funcionários, entre cozinheiras, calceiros, eletricistas e bombeiros, que "vai deixar saudades", como confessou Maria das Dores Meira.

A manhã das comemorações do Dia de Bocage e da Cidade ficou ainda marcada deposição de flores junto da estátua do poeta, na Praça de Bocage, pela cerimónia do hastear da bandeira na varanda dos Paços do Concelho, com a parada de bombeiros voluntários e sapadores de Setúbal, que fizeram um minuto de silêncio em memória dos bombeiros que faleceram a combater os incêndios neste verão.

Ainda de manhã, junto das arcadas dos Paços do Concelho, assistiu-se a um momento musical com as participações de Arsluce – Danças Renascentistas, pelos alunos da EB 2,3 de Azeitão, dos "Metaleiros", alunos da Casa do Gaiato de Setúbal, e dos alunos do Colégio Adventista de Setúbal.

Comemorações prosseguem pela tarde

O programa continuou à tarde com a inauguração da primeira fase do Núcleo Museológico Urbano "O Museu está na Rua", às 15h00, no Bairro da Bela Vista.

Um protocolo de cedência de instalações para fins educativos e uma cerimónia de entrega de prémios literários realizaram-se ainda no âmbito das comemorações do Dia de Bocage e da Cidade.

A cedência, a título gratuito, de um edifício camarário com espaço anexo, no Parque do Bonfim, foi formalizada num protocolo celebrado entre a Autarquia e a Uniseti – Universidade Sénior de Setúbal.

A presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, o presidente da Uniseti, Brissos Lino, e o vice-presidente da instituição de ensino, Armando Sacramento, assinaram o acordo entre as duas entidades, válido por três anos.

Ao final da tarde, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, a Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, numa cerimónia em que esteve presente a vereadora Carla Guerreiro, entregou a Paulo Jorge Coelho Carreira o prémio do XV Concurso Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage, pela obra “De Corpo para Corpo”, na categoria Poesia.

Além do prémio monetário no valor de dois mil euros, o autor vê ainda publicado o trabalho em livro, numa primeira edição pela LASA, com uma tiragem até 500 exemplares.

O júri, constituído por elementos convidados pela LASA enquanto organizadora do concurso, entendeu não atribuir prémio na categoria Revelação.

Durante a tarde, enquanto decorreu mais uma sessão do espetáculo “Luísa Todi – O Musical”, no Fórum Municipal, as comemorações bocagianas proporcionaram uma conferência sobre “Bocage, o Iluminismo e a Revolução Francesa”, na Casa da Cultura, que contou com António Chitas e Álvaro Arranja, investigadores do Centro de Estudos Bocageanos, associação que organizou a iniciativa.

A finalizar o programa do Dia da Cidade, o Teatro Animação de Setúbal promoveu um encontro, com leitura encenda centrada em Bocage, no Pátio do Dimas da Casa da Cultura.