Municipal, André Martins, discursa na inauguração da peça escultórica de homenagem a José Afonso, no Rossio de Vila Nogueira

Os presidentes da Câmara Municipal de Setúbal, André Martins, e da Junta de Freguesia de Azeitão, Sónia Paulo, inauguraram em 25 de abril uma peça escultórica de homenagem a José Afonso, em Vila Nogueira, no âmbito das comemorações dos 49 anos do 25 de Abril.


Numa cerimónia decorada a cravos vermelhos e com a presença de vários vereadores e membros da Assembleia Municipal, incluindo o presidente Manuel Pisco, Sónia Paulo recordou que o autor de “Grândola, Vila Morena”, senha do Movimento das Forças Armadas na Revolução de 25 de abril de 1974, viveu os seus últimos oito anos na freguesia, pelo que a escultura tem a frase “Zeca Afonso em Azeitão (1979/1987)”.

A obra em aço Corten do artista setubalense Ricardo Crista, que retrata o poeta, cantor e compositor a empunhar um cravo no seu último concerto em Lisboa, realizado em 29 de janeiro de 1983 no Coliseu dos Recreios, foi instalada no Rossio de Vila Nogueira, muito perto das estátuas de Sebastião da Gama, o Poeta da Arrábida, e de Carlos Alberto Ferreira Júnior, que é recordado como um exemplo de cidadania.

As letras e as canções de José Afonso, nascido em 2 de agosto de 1929, em Aveiro, e falecido em 23 de fevereiro de 1987, em Setúbal, “continuam com uma atualidade impressionante”, afirmou a presidente da Junta de Freguesia de Azeitão, elegendo “Os Vampiros” como sendo “talvez a mais emblemática” porque “a mensagem se mantém na sociedade”.

O presidente da Câmara Municipal sublinhou que, na elaboração do programa das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, que tem as iniciativas mais significativas em 2024, além de eventos que movimentam as pessoas” e “alertam para as mensagens de esperança” que a Revolução trouxe, foi também decidido “deixar marcas físicas no território para que os 50 anos ficassem bem marcados”.

Uma dessas marcas físicas é a escultura de homenagem a José Afonso, uma das personalidades que André Martins disse serem “referências” que se espera “que marquem a vida dos portugueses para o futuro”.

Num discurso em que recordou textos de José Afonso e o seu percurso, da chegada a Setúbal em 1967, para dar aulas no Liceu Nacional de Setúbal, a exclusão do ensino oficial por razões políticas no ano seguinte, o que levou a dedicar-se à música, e a reintegração no ensino oficial, em 1983, para dar aulas de história e de português na Escola Preparatória de Azeitão, Sónia Paulo sublinhou a justeza da homenagem.

“Hoje, Azeitão ganha uma nova obra com a certeza de que faz a justa homenagem a José Afonso e a todos os que lutaram e levaram a mensagem encorajadora e determinante para que a Revolução acontecesse. Esta é uma homenagem ao Zeca, mas também a muitos cantautores da música de intervenção que nos mostram o quanto a arte e a cultura têm o poder de transformar”, disse.

O presidente da Câmara salientou, por seu turno, que as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril em Setúbal também prestam homenagem a José Afonso, ao homem e à sua obra. “Zeca Afonso foi um homem do mundo, que cantou músicas e poemas populares. Popularizou o saber de muitas regiões deste país que viviam amordaçadas e isoladas, mas que tinham um sentir muito profundo”, afirmou.

André Martins lembrou que “as raízes do povo” chegaram ao conhecimento geral através das composições de José Afonso baseadas em temas populares, o que “aconteceu de uma forma mais generalizada a seguir ao 25 de Abril”, pois antes “era tudo ou quase tudo proibido” em Portugal.

Mas, como acentuou Sónia Paulo, apesar de ter sido “alvo de silenciamentos constantes e opressores pela ditadura”, José Afonso “nunca desistiu” e tornou-se “um rosto incontornável da história de Portugal”, porque na madrugada de 25 de abril de 1974 a primeira palavra foi dita por “um poeta que cantava ‘O Povo é quem mais ordena’” na canção-senha da Revolução.

Após recordar as antigas proibições, André Martins salientou a necessidade de celebrar a liberdade, “uma conquista” que a sociedade tem “obrigação de transmitir” às gerações vindouras. “É por isso que estamos com tanta dedicação neste projeto de comemorar os 50 anos do 25 de Abril em Setúbal”, referiu, sublinhando ser “na luta do dia-a-dia que se consegue aprofundar a democracia que é preciso continuar todos os dias a construir”.

A homenagem terminou com elementos do grupo de teatro Perpetuus, da Sociedade Filarmónica Perpétua Azeitonense, a declamarem poemas de José Afonso e com uma atuação do Grupo Coral Alentejano Os Amigos dos Sadinos, concluída com uma interpretação de “Grândola, Vila Morena”.