Além das pranchas da “Peregrinação” de José Ruy, mostra inaugurada no dia 8, na Casa da Cultura, o visitante encontra, em duas montras, outros trabalhos do autor e objetos ligados à história da litografia em Portugal.

Também a História de Portugal apaixona o artista, que, além das crónicas de Fernão Mendes Pinto publicadas pela primeira vez há 400 anos, adaptou, com textos seus, outros clássicos, como “Os Lusíadas” e “O Auto da Barca do Purgatório”, numa época em que a banda desenhada chegava, maioritariamente, de França e Inglaterra.

Para assinalar a efeméride dos quatro séculos da obra do cronista português, uma quarta edição da banda desenhada “Fernão Mendes Pinto e a sua Peregrinação” vai estar disponível brevemente, acompanhada por um DVD que conta a epopeia lusitana através dos desenhos de José Ruy em sincronização com a música de Fausto, do álbum “Por Este Rio Acima”, de 1982.

Presente na inauguração da exposição, José Ruy, hoje com 83 anos, falou sobre a evolução da litografia, arte gráfica que começou a trabalhar, em 1947, em “O Mosquito”, que “tinha um processo muito avançado”, a publicação infanto-juvenil portuguesa de maior tiragem à época, com 60 mil exemplares semanais, com edições à quarta-feira e ao sábado.

José Ruy salientou durante esta masterclass, realizada na Sala José Afonso da Casa da Cultura, após a abertura da mostra “Fernão Mendes Pinto e a sua Peregrinação”, que o seu percurso profissional tem acompanhado o desenvolvimento das artes gráficas, de tal forma que acabou por se render às capacidades do Photoshop.

“Primeiro era contra o digital e por isso mesmo continuei a insistir. Se não podemos vencer o inimigo, juntamo-nos a ele”, justificou, reconhecendo vantagens nas novas tecnologias, não só quanto aos resultados do produto final em termos de impressão, sem trama, mas por permitir “trabalhar com cores diretamente”.

Quando iniciou a profissão de litógrafo, “O Mosquito” utilizava o preto, o magenta e o verde ou azul, enquanto outras publicações, como o “Abecedinho”, aplicavam o amarelo.

“As cores eram muito opacas, ao contrário de “O Mosquito” que era muito transparente”, explicou José Ruy, com recurso ao Powerpoint, desmontando e montando pranchas.

Antes, a aplicação da tinta, produzida manualmente com recurso a gordura e “pingos de água mexendo com o dedo”, era feita com o aerógrafo, que a projetava mais perto ou mais longe para se conseguir o efeito desejado. Agora, o mesmo resultado pode ser conseguido “com ferramentas digitais”, sem se correr o risco de “repetir uma chapa por cair um pingo de tinta”, o que, garante José Ruy, “nunca” lhe aconteceu no jornal.

“Fernão Mendes Pinto e a sua Peregrinação”, organizada pela Câmara Municipal e pela DDLX, pode ser visitada na Galeria de Exposições da Casa da Cultura de terça a quinta-feira das 10h00 às 24h00, à sexta-feira e ao sábado até à 01h00 e ao domingo entre as 10h00 e as 20h00.

Depois do encontro inaugural, estão agendadas mais cinco sessões da masterclass “BD em Portugal – do Analógico à Litografia Digital”, com José Ruy, na Casa da Cultura, nos dias 19, às 10h30, e 20 e 21, às 10h30 e às 14h30.

A iniciativa, de entrada livre, é aberta a todos, com prioridade para grupos escolares. Para inscrições, deve utilizar-se o endereço casacultura@mun-setubal.pt.