O Miradouro de S. Sebastião foi o local escolhido para exibir o filme “Miradouro”, na noite de sábado, 25 de agosto, para cerca de uma centena de pessoas, no âmbito do programa de animação “S. Sebastião em Festa”, organizado pela Junta de Freguesia de S. Sebastião.


A película, de João Bordeira e Sérgio Braz D’Almeida, produzida pela bMotion Pictures, oferece, num misto de documentário naturalista combinado com ficção, um olhar sobre o bairro de São Domingos e as suas gentes, mostrando aos espetadores a dinâmica de um bairro que, apesar da sua antiguidade, continua bem vivo.

O projeto, idealizado inicialmente como forma de celebrar o décimo aniversário do Centro Comunitário de S. Sebastião, foi filmado no próprio bairro e contou com um elenco composto por moradores, mas também acompanhou as tradicionais Festas de Nossa Senhora do Rosário de Troia, em 2017, mostrando a proximidade das pessoas do bairro com o mar.

“Os moradores acolheram-nos como se nós pertencêssemos ao bairro, abriram-nos as portas de suas casas e contaram-nos as suas histórias de vida”, indicou o realizador João Bordeira, mostrando-se satisfeito com as reações à produção cinematográfica. “As pessoas gostaram de se ver e ficaram muito felizes por aparecer, inclusive houve antigos moradores que foram capazes de rever tradições do seu bairro, o contacto com a água, com os barcos, as festas e as vivências que tiveram na infância”, revela.

Durante cerca de uma hora, “Miradouro” conduz-nos, através do olhar de uma jovem rapariga, numa viagem pelas vivências da atualidade deste bairro típico onde os moradores mais antigos alegam que o bairrismo é coisa do passado. Mas será mesmo? “O bairrismo transformou-se, mas não morreu, e o filme mostra isso”, afirma João Bordeira.

“Este foi um projeto feito com pessoas do bairro, para o bairro e é muito gratificante poder mostrá-lo aqui”, afirmou o cineasta Sérgio Braz D’Almeida que em conjunto com João Bordeira realizou este projeto.

Já para Ana Bordeira, diretora técnica do Centro Comunitário de S. Sebastião, instituição que trabalha em prol do desenvolvimento da comunidade daquele território, mais importante do que o filme em si, foi o seu processo de criação e a envolvência dos moradores. “Criou-se em torno deste projeto uma valorização individual e coletiva dos participantes que sentiram que o bairro e as suas historias têm importância, o que para nós, do ponto de vista da intervenção é o que nos importa mais”, referiu a responsável, confessando que através da produção deste filme “foi possível conhecer muito melhor aquelas pessoas do que uma década de intervenção de uma assistente social que está diariamente no terreno”.

Em representação do executivo da Junta de Freguesia de S. Sebastião, que juntamente com a Câmara Municipal e o S. Domingos F. C., cofinanciou o documentário, Isabel Quadros agradeceu o convite para patrocinar este projeto e reiterou a disponibilidade da autarquia para apadrinhar esta e outras iniciativas do género. A tesoureira do executivo realçou a qualidade da produção e a recetividade dos moradores ao projeto, mas também o mérito do trabalho social e cultural que o Centro Comunitário de S. Sebastião desenvolve no bairro.

Pedro Pina, vereador da Câmara Municipal, que esteve igualmente presente na exibição, elogiou também o trabalho do Centro Comunitário e a capacidade dos criadores deste projeto de traduzir, através de imagens, a vivência do bairro. “Quero dar os parabéns a quem teve a vontade, o empenho e o arrojo de criar este filme, que dá sentido a estes homens e mulheres e cria uma memória que ficará para registo futuro”.

O filme, que já foi exibido no Cinema Charlot e no Museu do Trabalho Michel Giacometti, vai agora ser veiculado como uma prática inovadora de intervenção comunitária, em alternativa a uma abordagem mais tradicional. A divulgação e a valorização do bairro e da comunidade, quebrando o preconceito e o mito de que os bairros históricos estão mortos e de que nas grandes cidades já não há espírito de bairro, é outro dos objetivos deste projeto pioneiro.